REDES SOCIAIS

Parlamentares investem em 'memes' e vídeos que viralizam nas redes

Com maior inserção nas redes sociais, os parlamentares tentam vencer a guerra da narrativa política na internet

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Publicado em 10/06/2019 às 10:35
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Com maior inserção nas redes sociais, os parlamentares tentam vencer a guerra da narrativa política na internet - FOTO: Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
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Uma sala de guerra para defender a Previdência, um estúdio de TV no gabinete para transmissões ao vivo em mais de 30 canais nas redes sociais, uma fábrica de 'meme' pronta para viralizar um discurso ou um bate-boca. A renovação política impôs uma nova maneira de deputados e senadores se comunicarem no Congresso.

O objetivo é o mesmo: vencer a guerra da narrativa política na internet. Dos R$ 10 milhões usados desde fevereiro pelos 513 deputados de suas cotas parlamentares para divulgação de atividades, metade foi colocada em empresas ligadas à comunicação digital.

Uma das principais investidas no mundo virtual é o gabinete de inteligência da Previdência, que foi montado pelo governo no Parlamento. Em uma sala da liderança do Congresso, cinco técnicos do Ministério da Economia e uma especialista em comunicação acompanham, em tempo real, as discussões nas comissões e nos plenários na Casa, tentando captar temas que têm potencial de gerar debate nas redes. No fim do dia, o que se quer é ganhar a "guerra de versões", se a Previdência é boa ou ruim.

Um tópico recorrente nas discussões monitoradas pelo grupo, por exemplo, é a proposta de capitalização da Previdência. O governo quer um sistema que funciona como um tipo de poupança, na qual o trabalhador terá de economizar para garantir sua própria aposentadoria no futuro. Grupos contrários à proposta costumam utilizar o modelo chileno como exemplo para desqualificar a ideia.

Durante a sua participação na Comissão Especial da Reforma da Previdência da Câmara, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi confrontado sobre o tema. O deputado José Guimarães (PT-CE) declarou: "o Chile é hoje um país com uma legião de idosos pobres, é o país onde mais se comete suicídio." Foi o momento de o time virtual agir. Em pouco menos de uma hora, governistas já tinham às mãos estatísticas, dados, banners e imagens para divulgar em suas redes sociais e grupos de WhatsApp.

"A ideia é melhorar a comunicação. Quanto mais rápida e direta a resposta, menos impacto negativo teremos lá na frente", afirmou David Rebelo Athayde, coordenador geral de Economia e Justiça do Ministério da Economia, deslocado para atuar na equipe do gabinete de inteligência da Previdência.

Selfie

No Congresso Nacional, os celulares em punho se tornaram onipresentes, com parlamentares filmando discursos no plenário, registrando atos ou transmitindo entrevistas ao vivo. As fotos e vídeos vão direto para as redes sociais e para grupos de WhatsApp ligados aos parlamentares.

"É direto e rápido. Não tem mais intermediário", afirmou o senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que conta com uma estrutura de 12 pessoas - sendo três nomeadas em seu gabinete - divididas em Brasília, Goiana e Rio de Janeiro para produzir conteúdos e alimentar 30 perfis do apresentador nas redes. No gabinete, ele grava cinco vídeos por dia em um estúdio montado com chroma-key e um mini camarim.

Em sua primeira votação na Casa, durante a escolha do presidente do Senado, em fevereiro, Kajuru propôs uma enquete a seus seguidores para decidir como votar. Após duas rodadas de questionamentos, optou pelo nome de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para o posto.

Até mesmo reuniões a portas fechadas vão parar nas redes sociais, como foi o caso do encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e deputados na entrega do pacote de mudanças no Código de Trânsito. Na última quarta-feira, Bolsonaro foi recebido no gabinete do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A imprensa não teve o acesso liberado, mas tudo o que se passava lá dentro pôde ser acompanhado ao vivo pelas páginas de alguns deputados, que filmavam o encontro e transmitiam em tempo real.

Redes

O uso das redes sociais como canal de interação com os eleitores ganhou outras proporções na atual legislatura - boa parte eleita mais com a ajuda das novas mídias e menos por meio de solas de sapato gastas nas tradicionais rodas políticas ou visitas a bases eleitorais.

Nascidos políticos nas redes sociais, jovens parlamentares como Tabata Amaral (PDT-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) mantêm ativos seus berços virtuais. A deputada paulista tem uma equipe de comunicação composta por três pessoas que cuidam das redes. A prioridade é produzir formatos simples que agreguem conteúdo. Tabata gasta R$ 15 mil por mês da verba de gabinete com uma consultoria digital que apoia seu posicionamento estratégico, produção de conteúdo, monitoramento e trabalho de inteligência em redes, além de assessoria de imprensa.

Van Hattem tem um assessor de imprensa e editor de vídeo, que também filma e fotografa, para cuidar das redes. O líder do Novo abusa de produções curtas, editadas, com potencial de viralizar. Com dois funcionários formados em design gráfico, Kim Kataguiri (DEM-SP) tem um departamento de memes. A principal função da dupla é "monitorar" a atuação do parlamentar do DEM a fim de criar publicações em vídeo e imagens para as redes sociais.

Há duas semanas, uma cena chamou a atenção no Plenário da Câmara Na votação da reestruturação ministerial do governo Bolsonaro, com plenário lotado, fotógrafos flagraram dezenas de deputados, a maioria do PSL, fazendo selfies e 'lives' durante a discussão da medida provisória que redefiniu o desenho da Esplanada dos Ministérios, reduzindo de 29 para 22 pastas.

No redesenho da MP, o governo sofreu uma derrota simbólica: os deputados tiraram o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do comando do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Para os parlamentares da base do governo, no entanto, o mais importante naquele momento era justificar o resultado da votação 'para fora'.

"Tenho que responder aos meus eleitores, não para aqui", afirmou o coronel Tadeu, que admite ser mais importante estar nas redes do que debater no Congresso.

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