Na manhã desta sexta-feira (5), o site The Intercept Brasil, em parceria com a Revista Veja, publicou novos diálogos que mostram o atual Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, quando ainda atuava como juiz federal em Curitiba, demonstrando não querer a delação do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e supostamente orientando procuradores da Operação Lava Jato a incluir provas a fim de fortalecer a acusação em processos.
Em junho de 2017, um grupo foi criado por Ronaldo Queiroz, procurador da força-tarefa da Lava-Jato na Procuradoria Geral da República (PGR), com Dallagnol e Moro, avisando que o advogado de Eduardo Cunha o havia procurado para iniciar uma negociação de delação premiada, ou seja, uma "troca de favores" entre o juiz e o réu.
Presumindo a quantidade de honestos ocupando cargos na Justiça e na política, Ronaldo Queiroz afirma esperar que Cunha delate integrantes do Ministério Público estadual, Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa e juízes do Tribunal da Justiça.
Moro responde ser contra a delação do ex presidente da Câmara. "Rumores de delação do Cunha... Espero que não procedam", teria dito o ex-juiz. Dallagnol responde que são "só rumores que não procedem" e diz a Moro que "sempre que quiser, vou te colocando a par".
Zwi Skornicki
Trechos de 28 de abril de 2016 mostram o coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, responsável por investigar crimes de corrupção na Petrobras, Deltan Dallagnol, avisando à procuradora Laura Tessler que Moro havia alertado sobre a falta de uma prova importante contra Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, construtora de plataformas de petróleo e uma das principais empresas negociadora de propina da Petrobras.
Prisão de Bumlai
Outra demonstração sugerindo uma parceria entre o Ministro e o Dallagnol são diálogos do procurador intencionando a garantia da prisão de José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo de Lula. “Ate amanhã meio dia”, escreve. Dallagnol garante que a ação será realizada e acrescenta: “Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém…”. (sic)
Estremecida
Momentos de tensão foram observados entre Moro e Dallagnol. O juiz reclama sobre os motivos pelo qual o Ministério Público Federal (MPF) recorreu “sem fundamentação” à sentença aplicada aos delatores Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, Pedro José Barusco Filho, Mário Frederico Mendonça Góes e Júlio Gerin de Almeida Camargo. O procurador tenta se explicar e, sem sucesso, pede um encontro no dia seguinte com o atual Ministro.
“Fachin é nosso”
A reportagem da Veja também evidencia mensagens de 13 de julho de 2015, onde Dallagnol comenta com os colegas de MPF sobre recente encontro com o Ministro do STF, Edson Fachin. “Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”.
"Um bom dia afinal"
Dallagnol conta ao então juiz que seria protocolada a denúncia contra Lula em breve, e a de Sérgio Cabral já no dia seguinte. Moro, então, responde: "um bom dia afinal", com um emoticon sorrindo.
Fausto Silva
Em outro trecho das supostas conversas, Moro comenta com Dallagnol que foi elogiado pelo apresentador Fausto Silva por seu trabalho na Lava Jato, mas que recebeu orientação sobre sua retórica. “Ele disse que vcs nas entrevistas ou nas coletivas precisam usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão. Disse que transmitiria o recado. Conselho de quem está a (sic) 28/anos na TV. Pensem nisso”. Questionado pela reportagem, Fausto Silva confirmou o encontro e o teor da conversa.
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Saiba mais
Sergio Moro vem sofrendo críticas após o site The Intercept publicar supostas mensagens vazadas entre o ex-juiz e procuradores do Ministério Público Federal e integrantes da força-tarefa da Lava Jato. Com isso, a defesa do ex-presidente Lula e alguns juristas acusam Moro de interferir diretamente no processo de condenação do ex-presidente, não cumprindo o princípio da imparcialidade.
Defesa
Sergio Moro, vêm usando uma linha de argumentação bastante clara. Na maioria das suas respostas, o antigo juiz questiona a autenticidade das conversas vazadas pelo site The Intercept nos últimos dias, alegando que houve ataque aos telefones de procuradores da Lava Jato; que as mensagens podem ter sido adulteradas e que não há como comprovar a veracidade do conteúdo, por não usar mais o aplicativo Telegram. O Ministro defende, ainda, que o ataque foi orquestrado e tem como objetivo "minar os esforços anticorrupção que foram uma conquista da sociedade brasileira"