O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, explicou nesta sexta-feira (19) que, ao colocar em prática o plano de transformar a instituição em prestadora de serviços para o Estado, a ideia é assessorar governos a fazerem privatizações, concessões ao setor privado e reestruturações financeiras. Nessa função, o BNDES deixará de competir com o financiamento privado, disse Montezano.
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"Usando tecnologia e patriotismo, vamos prestar serviços para esse Estado", afirmou Montezano, em discurso numa apresentação pública a funcionários do BNDES, na sede do banco, no Rio, referindo-se a todas as esferas de governo.
No discurso, o executivo voltou a repetir o mote de que o BNDES será "menos banco e mais desenvolvimento", lançado em seu discurso de posse, em Brasília. Segundo Montezano, esse papel de prestador de serviços é diferente do cumprido pelo banco "nos últimos anos", quando, com o "desafio de alocar bilhões em capital", o BNDES se tornou "muito banco".
Sendo banco, o sucesso do BNDES vinha sendo medido "em crédito", disse. No novo papel, o banco continuará emprestando, mas fará isso com menor intensidade, e com foco em setores como infraestrutura e saneamento básico, onde há menos "capital privado".
"O banco acabou competindo, entrando em áreas que a economia privada consegue atuar. Isso é pouco eficiente para a sociedade. Queremos ser um banco de serviços", afirmou o novo presidente do banco de fomento.
Segundo o executivo, o BNDES está apto para fazer isso porque seus funcionários conhecem o Estado e o Brasil como poucos. Montezano explicou ainda que a ideia é cobrar dos governos pelos serviços prestados, mas com menos foco no lucro. "Vamos cobrar pelos serviços? Vamos, porque o banco tem que ser sustentável, mas vamos cobrar o necessário para cobrir nossos custos", afirmou.
As sinalizações dadas pelo novo presidente no discurso desta sexta-feira, no Rio, foram as mesmas oferecidas em seu discurso de posse, em Brasília, na terça-feira, ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. Guedes, que está despachando no Rio nesta sexta, não compareceu à apresentação na sede do BNDES.
A cerimônia teve ares de posse, com fila de cumprimentos, mas com tom mais informal. O presidente do BNDES e outros executivos da nova diretoria vestiam terno sem gravata e o discurso do novo presidente teve tom motivacional para os empregados do banco - o executivo usou um microfone portátil preso à orelha, para discursas em movimento, longe do púlpito.
A informalidade também foi marcada pela presença da família, citada como sua "torcida organizada" - nascido em Brasília, Montezano foi criado e tem família no Rio. Ele fez uma homenagem ao pai, seu "professor mais importante". Roberto Montezano, que estava na cerimônia e se levantou para receber aplausos, a pedido do filho, é professor de finanças do Ibmec/RJ, onde trabalhou com o ministro Guedes.
Economia brasileira em colapso
O novo presidente do BNDES falou ainda sobre a economia brasileira. Montezano afirmou que a economia brasileira está em colapso por causa de erros da política econômica de governos anteriores, que levaram o Estado a "crescer demais".
"O principal desafio da política econômica corrente é desfazer o estrago que foi feito antes", afirmou Montezano, em discurso em cerimônia de apresentação pública aos funcionários, no auditório da sede do BNDES, no Rio. Montezano tomou posse em cerimônia na terça-feira, em Brasília.
Ao afirmar que a economia brasileira está em colapso, Montezano disse que há "30 milhões de pessoas" sem emprego, numa referência à mão de obra subutilizada na economia.
Carteira
Montezano reafirmou as cinco metas de sua gestão, já colocadas no discurso de posse, em Brasília, na terça-feira. "Explicar a caixa-preta" do BNDES será uma meta zero e os objetivos incluem acelerar a venda das participações acionárias, disse o executivo
A carteira da BNDESPar, empresa de participações do banco, tem pouco mais de R$ 100 bilhões hoje. Montezano disse que não há meta de valores a serem vendidos, mas comparou a carteira de crédito para o setor de saneamento, de R$ 16 bilhões, com a fatia do BNDES na Petrobras, avaliada em R$ 53,4 bilhões. "Era para ser o contrário", disse Montezano no discurso.
Segundo o presidente do BNDES, não dá para ter uma meta de venda de participações porque "isso depende de condições de mercado".
Devolução ao Tesouro
Ao comentar as metas de sua gestão, Montezano reafirmou que a instituição de fomento devolverá antecipadamente R$ 126 bilhões de sua dívida com o Tesouro Nacional até o fim do ano. Neste ano, o BNDES já devolveu R$ 43 bilhões, sendo R$ 30 bilhões numa parcela extraordinária, paga em maio.
Montezano disse ainda que o "governo está quebrado" e as devoluções ajudarão as contas públicas. O executivo ressaltou ainda que, mesmo após as devoluções, o BNDES seguirá como uma das maiores estatais do País e que o retorno dos recursos ao Tesouro é um "ajuste" de capital. "Não quer dizer que o banco vai fechar", afirmou Montezano.