Na última segunda-feira (2), o jornalista e advogado Glenn Greenwald disse, ao ser entrevistado pelo programa Roda Viva, da TV Cultura, que as afirmações do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e do coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, de que não reconhecem a autenticidade das mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil e que poderiam haver adulterações nos conteúdos publicados não se sustentam.
Greenwald é o sócio e cofundador do The Intercept Brasil, site que deu início à série de reportagens intituladas como ‘Vaza Jato’, baseadas nos diálogos de procuradores da Operação Lava Jato e de Sergio Moro, ex-juiz federal responsável pelos julgamentos da força-tarefa.
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"A autenticidade desse arquivo não está mais em dúvida. Esse jogo cínico que o Moro e Dallagnol estavam fazendo no começo acabou. A questão é como vamos fortalecer o combate à corrupção. Sabemos que temos o ministro da Justiça e o coordenador que usavam métodos completamente corruptos, não em casos isolados, mas o tempo todo", disse ele, no programa transmitido ao vivo pelo UOL.
Como justificativa, Glenn utilizou o caso da procuradora Jerusa Viecili, que pediu desculpas no Twitter ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após mensagens do ano de 2017 atribuídas a ela ironizando a morte da ex-primeira dama, Marisa Letícia, serem vazadas.
Errei.
— Jerusa B. Viecili (@jerusabv) 28 de agosto de 2019
E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula.
Operação Lava Jato
O jornalista disse que era um defensor da Lava Jato e do ‘enorme problema’ de corrupção no País, mas que mudou de opinião em relação à operação e passou a vê-la de outra forma após ter acesso aos diálogos vazados.
"É impossível combater a corrupção com corruptos ou métodos corruptos. Então, acredito, sem dúvida, que o trabalho jornalístico que estamos fazendo não está enfraquecendo a Lava Jato, está fortalecendo a Lava Jato e o combate à corrupção, porque está levando mais integridade e mais credibilidade [à operação]", disse.
Quando questionado se a decisão de Moro em aceitar o cargo de ministro da Justiça do governo Bolsonaro enfraqueceu sua imagem e a da operação, Glenn relembra diálogos travados entre procuradores e já publicados pelo The Intercept em que Dallagnol expôs que tal decisão poderia "destruir" tais legados. "Porque iria parecer o tempo todo que ele era exatamente o que as pessoas estavam acusando, que ele era uma pessoa da direita, fazendo tudo com motivos políticos", comentou Greenwald.
O jornalista foi perguntado se Moro poderia se tornar um potencial candidato na sucessão de Bolsonaro na Presidência da República. "Se Jair Bolsonaro pode ganhar uma eleição, qualquer um pode", respondeu.
‘Nunca pagamos nenhum centavo’
Greenwald defendeu que não pagou e nunca pagaria pelos conteúdos publicados pelo jornal independente. "Nunca pagamos nenhum centavo para nenhuma fonte, inclusive a fonte que passou essa informação para a gente", disse.
Mas afirmou ser necessário direcionar a atenção ao conteúdo divulgado que, segundo Glenn, é o ‘mais importante’. “O público tem o direito de saber que essas pessoas poderosas fizeram nas sombras", completou.
O jornalista disse sua profissão têm não só o direito, mas a obrigação de publicar conteúdo como o que ele e sua equipe vêm publicando. "Isso é a história dos jornalistas não só aqui mas em todo o mundo democrático."
Jornalistas ou hackers
Greenwald respondeu que não interromperá a série de reportagens ainda que a polícia descubra que o hacker recebeu para obter e divulgar as mensagens. "Absolutamente não. O jornalismo mais importante e mais premiado muitas vezes vem de fonte que cometeu crime. Não é o papel dos jornalistas perguntar de onde vem a informação. Isso não tem nada a ver com o fato de que essa informação tem que ser publicada", disse.
Porém, ao ser perguntado se não seria o mesmo que substituir jornalistas por hackers, ao que Greenwald respondeu que "jornalistas não têm o direito de quebrar a lei" e que, caso isso aconteça, devem ser presos. "Ser jornalista não significa ter direito de participar de crimes."