PONTO DE VISTA

'A Amazônia é uma floresta úmida, não queima sozinha, é sempre ação criminosa', disse Ricardo Galvão

Galvão acusou o governo Bolsonaro de ter uma mentalidade ''obscurantista e autoritária''

Estadão Conteúdo
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Publicado em 04/09/2019 às 18:30
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil
Galvão acusou o governo Bolsonaro de ter uma mentalidade ''obscurantista e autoritária'' - FOTO: Foto: Wilson Dias / Agência Brasil
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Ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, acusou o governo de Jair Bolsonaro de ter uma mentalidade ''obscurantista e autoritária''. O físico foi homenageado na manhã desta quarta-feira (04), na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio, um mês depois de ter sido exonerado do cargo por ordem do presidente por conta da divulgação de dados sobre o crescente desmatamento da Amazônia.

Na ocasião, Bolsonaro chegou a dizer que Galvão era ''mentiroso'' e que estaria a serviço de ONGs internacionais. Os dados do Inpe constatam um aumento expressivo nos focos de desmatamento nos últimos meses. A tendência de aumento das queimadas foi confirmada também por dados da Agência Espacial Americana, a Nasa.

Galvão afirmou que as ofensas do presidente não foram um ataque apenas ao Inpe, mas à toda a ciência brasileira. Por isso, disse, tinham que ser respondidas à altura. "Pensei muito no que ia dizer, nas palavras que ia usar, não reagi por conta da emoção", revelou. "Eu sabia que seria exonerado, mas tinha que enfrentar o bom combate."

O seminário Sistemas de Monitoramento de Cobertura e Usos da Terra, sobre o monitoramento do desmatamento da Amazônia, reuniu alguns dos maiores nomes da ciência brasileira, como o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ildeu Moreira, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, e o organizador do evento, o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em Amazônia, além do americano Matthew Hansen, que trabalha com dados da Agência Espacial Americana, a Nasa.

''A Amazônia é uma floresta úmida, ela não queima sozinha, é sempre uma ação criminosa'', disse Galvão. ''Não estou dizendo que o governo está promovendo ações criminosas, mas existe uma visão capitalista destruidora.'' Para o ex-presidente do Inpe, os ataques à ciência deixaram o governo numa posição vulnerável internacionalmente. ''Eles são muito despreparados", disse Ricardo Galvão se referindo aos integrantes do governo. ''Não contavam com o prestígio internacional do Inpe. Agora, todos os olhos do mundo estão voltados para lá.''

O presidente da ABC elogiou a postura de Galvão e afirmou que já era tempo de alguém por um limite nas "fake news", na ''arrogância'', na ''intolerância'' e no ''obscurantismo'' do atual governo. ''Já era tempo de colocar um limite nessa insanidade'', disse. O cientista americano Matthew Hansen, que trabalha com dados da Nasa, confirmou a tendência de alta no desmatamento da Amazônia.

Para ele, o problema é de vontade política, não de tecnologia, como chegou a argumentar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. ''Nós gostamos de novas tecnologias, mas elas não são necessárias para o gerenciamento do uso da terra'', afirmou. ''Se tivéssemos tecnologia de dez anos atrás, poderíamos combater o desmatamento, que depende, basicamente, de vontade política.''

Números do desmatamento na Amazônia

O desmatamento na região amazônica atingiu, entre agosto de 2018 e junho deste ano, uma área total de 4.565 km². A área devastada é 15% superior ao volume verificado no mesmo período do ano anterior. Entre agosto de 2017 e junho de 2018, 3.975 km² de mata foram perdidas na Amazônia Legal.

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