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Procuradores veem 'retrocesso democrático' em indicação de Aras e convocam ato

Segundo os procuradores, a atitude de Bolsonaro interrompe um costume constitucional de quase duas décadas

Estadão Conteúdo
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Publicado em 05/09/2019 às 20:34
Foto: Roberto Jayme/TSE
Segundo os procuradores, a atitude de Bolsonaro interrompe um costume constitucional de quase duas décadas - FOTO: Foto: Roberto Jayme/TSE
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A Associação Nacional dos Procuradores da República reagiu, nesta quinta-feira (05), à escolha de Augusto Aras para o cargo de procurador-geral da República, pelo presidente Jair Bolsonaro. A entidade ataca a decisão por não seguir sua lista tríplice. Segundo eles, a "ação interrompe um costume constitucional de quase duas décadas, seguido pelos outros 29 Ministérios Públicos do país". "A escolha significa, para o Ministério Público Federal (MPF), um retrocesso institucional e democrático". A ANPR convocou os procuradores para um protesto em reação à nomeação.

"O indicado não foi submetido a debates públicos, não apresentou propostas à vista da sociedade e da própria carreira. Não se sabe o que conversou em diálogos absolutamente reservados, desenvolvidos à margem da opinião pública. Não possui, ademais, qualquer liderança para comandar uma instituição com o peso e a importância do MPF. Sua indicação é, conforme expresso pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, uma escolha pessoal, decorrente de posição de afinidade de pensamento", diz a entidade.

Segundo a ANPR, o "próprio presidente representou o cargo de PGR como uma 'dama' no tabuleiro de xadrez, sendo o presidente, o rei". "Em outras ocasiões, expressou que o chefe do MPF tinha de ser alguém alinhado a ele. As falas revelam uma compreensão absolutamente equivocada sobre a natureza das instituições em um Estado Democrático de Direito. O MPF é independente, não se trata de ministério ou órgão atrelado ao Poder Executivo. Desempenha papel essencial para o funcionamento republicano do sistema de freios e contrapesos previsto na Constituição Federal".

"A escolha anunciada no dia de hoje menospreza, também, o princípio da transparência, na medida em que os candidatos da lista tríplice viajaram o país debatendo, publicamente, com a carreira, a imprensa e a sociedade, os seus projetos, as suas ideias, o que pensam sobre as principais dificuldades e desafios da nossa vida institucional", afirmam.

Organização para um manifesto

A ANPR afirma que, "diante da absoluta contrariedade da classe com a referida indicação, conclama os colegas de todo o país para o Dia Nacional de Mobilização e Protesto, que ocorrerá na próxima segunda-feira (9)". "Pede, doravante, que todos os membros do MPF se mantenham em estado permanente de vigilância e atenção na defesa dos princípios da autonomia institucional, da independência funcional e da escolha de suas funções com observância do princípio democrático".

"Esses são princípios fundamentais que alicerçam a nossa fundação e que conduziram, com segurança, a instituição ao longo dos anos, em benefício de sua atuação livre e independente e em favor, unicamente, da sociedade brasileira", dizem.

"A ANPR fará, ainda, uma reunião extraordinária na próxima semana para discutir, com os delegados de todo o país, sobre a convocação do Colégio de Procuradores da República, instância máxima de deliberação da carreira sobre os assuntos de maior relevo institucional", conclui.

A indicação causou repercussão nas redes sociais

Leandro Ruschel, um dos principais influenciadores bolsonaristas, com mais de 300 mil seguidores no Twitter, escreveu que a indicação ''pode ser um ato de suicídio político de Bolsonaro.'' Ele ainda comentou: ''nunca vi tanta gente afirmando que estava encerrando o seu apoio ao presidente''. Na enquete que Ruschel realizou com seus seguidores, dos 6.973 votos, 89% foram contra a indicação.

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