ENTREVISTA

'Brasília é a cidade onde as intrigas ganham dimensão irreal', diz Moro

O ministro falou à Veja sobre candidatura, possível soltura de Lula e Lava Jato

JC Online
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Publicado em 06/10/2019 às 12:32
Foto: EVARISTO SA / AFP
O ministro falou à Veja sobre candidatura, possível soltura de Lula e Lava Jato - FOTO: Foto: EVARISTO SA / AFP
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O ministro da Justiça Sergio Moro garantiu fidelidade ao presidente Jair Bolsonaro ao negar filiação ao Podemos e lançamento de uma suposta candidatura como vice-presidente nas eleições de 2022. Em entrevista à revista Veja, manteve o compromisso de manter o cargo até o fim do governo e afirmou que seu candidato para o próximo pleito é Jair Bolsonaro, a quem reafirmou ter um bom relacionamento, apesar de Brasília ser, para ele, uma cidade "onde as intrigas ganham uma dimensão irreal".

“Eu digo ao presidente que essas notícias sobre uma eventual candidatura minha são intrigas. Ele sabe que eu não vou ser candidato. Primeiro por uma questão de dever de lealdade. Como é que você vai entrar no governo e vai concorrer com o político que o convidou para participar do governo? Também não vou me filiar ao Podemos nem vou ser candidato a vice. Não tenho perfil político-partidário. Meu candidato em 2022 é o presidente Bolsonaro e pretendo fazer um bom trabalho como ministro até o fim”, disse o chefe da pasta da Justiça.

Relação estremecida?

Quando questionado sobre os boatos de uma possível intriga entre o ex-juiz e Bolsonaro, Moro respondeu que Brasília é uma cidade "onde as intrigas ganham uma dimensão irreal", e reafirmou ter um bom relacionamento com o presidente. 

“Minha relação com o presidente é muito boa, ótima. Nunca cheguei perto de pedir demissão. As pessoas inventam histórias. Sei que é mentira, o presidente sabe que é mentira. Não sei direito de onde essas intrigas vêm", garantiu Moro.

Lava Jato e Lula

Sobre as críticas à Operação Lava Jato e a uma possível seletividade no que se refere aos alvos da investigação, intensificadas após a divulgação de mensagens supostamente trocadas pelo ex-juiz e procuradores da força-tarefa, Sergio Moro reforça sua posição e defende a operação. 

"Não houve excesso, ninguém foi preso injustamente. Opinião de militante político não conta, pois desconsidera as provas. (...) Agora vem essa discussão de que a ordem das alegações finais seria um erro da Lava Jato. Os avanços anticorrupção não são de propriedade de juízes ou procuradores. É uma conquista da sociedade, do país. É o país que perde com eventuais retrocessos", declarou ele.

O ex-presidente, condenado a vinte anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, pediu ao Supremo Tribunal Federal a suspeição de Moro. Caso aconteça, Lula poderá ser solto e seu processo reiniciado.

“Estou bem tranquilo com minha consciência quanto ao que fiz. O ex-­deputado Eduardo Cunha também diz que é inocente. Aliás, na cadeia todo mundo diz que é inocente, mas a Petrobras foi saqueada. Sempre que há um julgamento importante, dizem que a Lava-Jato vai acabar, que tudo vai acabar. Há um excesso de drama em Brasília. As pessoas pensam tudo pela perspectiva do Lula, embora seja possível que o julgamento do STF sobre a ordem das alegações finais leve à anulação da sentença sobre o sítio de Atibaia. Lula está preso porque cometeu crimes.”

Mensagens vazadas

O ministro garantiu que, mesmo que os diálogos divulgadas pelo The Intercept Brasil e outros veículos de comunicação fossem reais, não há ilegalidade no teor das mensagens. 

“No caso das mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil e por outros veículos, mesmo que elas fossem verídicas, não haveria nelas nenhuma ilegalidade. Onde está a contaminação de provas? Não há. É uma questão de narrativa. Houve, sim, exagero da imprensa. Esse episódio está todo superdimensionado. A Polícia Federal está investigando as pessoas que invadiram os celulares. Não está descartada a hipótese de que houve interesses financeiros por trás desse crime. Esses hackers, pelo que já foi demonstrado, eram estelionatários. Mas nada vai mudar o fato de que a Operação Lava-Jato alterou o padrão de impunidade da grande corrupção. As pessoas sabem diferenciar o que é certo do que é errado.”

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