O presidente Jair Bolsonaro acusou neste sábado, 2, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), de manipular as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes para implicá-lo no crime. O presidente já havia acusado Witzel de vazar as informações do processo para atingi-lo e, ao mesmo tempo, se credenciar para uma eventual disputa à Presidência da República em 2022.
Neste sábado, Bolsonaro afirmou ter convicção de que foi o governador fluminense quem colocou seu nome no centro da investigação. "(Witzel) Não podia ter acesso a um processo em segredo de Justiça. Mais do que isso, né? A minha convicção é de que ele agiu no processo para botar meu nome lá dentro", afirmou o presidente, que foi a uma concessionária da Honda buscar uma moto que adquiriu.
Bolsonaro também acusou o delegado da Polícia Civil responsável pelo Caso Marielle de ser "amiguinho" do governador. Bolsonaro disse ainda que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi acionado e entrou em contato com o procurador-geral da República, Augusto Aras, para tratar do caso. "Eu não trato isso com o Aras. Não tem cabimento, o tratamento com Aras foi via ministro da Justiça", afirmou.
"Está requisitado, está tudo deferido. É a Polícia Federal com o assessoramento do MP Federal lá da seção do Rio de Janeiro. Vamos ouvir o porteiro, vamos ouvir aí o delegado também. O delegado que é muito amiguinho do governador, e logicamente que gostaria que o governador também participasse, né?", disse o presidente.
Bolsonaro se disse vítima de perseguição e reiterou que não estava em sua casa no condomínio Vivendas da Barra no dia 14 de março de 2018, quando um dos suspeitos de assassinar Marielle e Anderson acessou o local dizendo que iria para a residência do então deputado federal.
"Eu estava aqui (em Brasília), não estava lá. E outra, nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de anos, a voz não é minha. Não é o seu Jair. Agora, o que eu desconfio, que o porteiro leu sem assinar ou induziram ele a assinar aquilo. Induziram entre aspas, né? Induziram a assinar aquilo", afirmou Bolsonaro.
O presidente disse que Witzel "só se elegeu graças" ao hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), seu filho, e depois "começou a usar a máquina do Estado" para perseguir ele e outro de seus filhos, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
"Tudo quanto é amigo meu tão sendo investigados (sic) agora lá no Rio de Janeiro. Por que isso? Porque ele está com sonho e obsessão de ser presidente, e eu sou um obstáculo que tem que ser vencido. Perdeu, Witzel, até porque no dia 9 de outubro você teve acesso ao processo em segredo de Justiça. Não deveria ter acesso a esse documento", disse Bolsonaro.
Questionado pelos jornalistas sobre o que Witzel teria feito, o presidente respondeu: "manipula o processo". "(Manipula) O próprio processo em si, do porteiro", afirmou.
Bolsonaro confirmou que ficou sabendo que o governador do Rio havia tido acesso ao processo durante um jantar em comemoração ao aniversário ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes, em 9 de outubro.
"Ele falou o seguinte: mandei teu processo para o Supremo. E eu: que processo meu? Ah, o da Marielle. O que é que eu tenho a ver com a Marielle? O porteiro falou que foi lá na tua casa naquele 14 de março. Ah, foi na minha casa? No momento eu não sabia onde eu estava no 14 de março, poderia estar em outro lugar, poderia até estar em casa, né? Mais numa quarta-feira por volta de umas 17 horas. E depois eu vi que depois e já desconfiava dele há algum tempo, que ele estava perseguindo a mim e à minha família no Rio de Janeiro com esse propósito", narrou Bolsonaro.
Ele disse não ter acreditado à época no que foi dito por Witzel. "Espero agora que não queiram jogar para cima do colo do porteiro. Pode até ser que ele seja responsável, mas não podemos deixar de analisar a participação do governador", afirmou.
'Compromisso'
Na sexta-feira (dia 1º), Witzel refutou a tese de Bolsonaro de que esteja por trás da citação do nome do presidente nas investigações. O governador também parabenizou a Advocacia Geral da União (AGU) por ter aberto um procedimento para investigar o vazamento da informação ao Jornal Nacional sobre o depoimento de um porteiro à Polícia Civil no qual relata que um dos acusados da morte da ex-parlamentar se dirigiria à casa de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, no Rio.
"Seja ele de farda, de distintivo, político, filho de poderoso. Não tenho compromisso com a bandidagem. Assumi o Estado sem qualquer compromisso com traficante, com miliciano. Todos aqueles que se colocarem na reta da Justiça serão presos, serão investigados", afirmou Witzel na ocasião.