Igor Maciel, da coluna Pinga Fogo*
É preciso fugir do clichê de querer diminuir Bolsonaro pela popularidade de seus ministros. Mas, em certa medida, o que a última pesquisa Datafolha mostrou em relação a Sérgio Moro foi que os índices de "ótimo e bom" do Ministro da Justiça estão descolados do chefe com uma diferença grande demais. Poucas vezes se viu isso. Aliás, na Nova República só existiu um: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que tinha mais popularidade do que o presidente Itamar Franco, por causa do Plano Real. Dado importante sobre o desfecho dessa relação é que FHC foi eleito em primeiro turno numa eleição com Lula (PT) em 1994 e governou por oito anos.
Não dá pra comparar Moro com FHC para além disso. Porque um era político já há muitos anos e o outro desembarcou em Brasília há menos de um ano para a aventura de largar uma bem sucedida carreira de juiz, empolgado com o empoderamento de uma operação policial que chegou a assumir nuances de seita. Politicamente, Bolsonaro terá que decidir até que ponto Moro faz bem e até que ponto ele é uma ameaça. Equilibrar isso, enquanto pesquisas mostram ministros com quase o dobro da aprovação dele não é fácil. Ainda mais sendo um presidente tão personalista quanto qualquer outro que tenha sentado naquela cadeira.
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Mas há algo que chama atenção para uma promessa feita pelo presidente na formação da própria equipe ministerial. Ele garantiu que os ministros teriam autonomia pra fazer o que quisessem, desde que fosse bem acordado com ele e que ele teria poder de veto. Na prática, sabe-se que não funciona bem assim. Nesses últimos meses, foi possível perceber que os interesses do presidente, alguns até pessoais, interferiram nas demandas dos ministérios. Mas, não há como negar que uma autonomia maior foi dada e um protagonismo maior foi permitido do que era anteriormente. Quem não lembra de Dilma desautorizando ministros ou Lula demitindo auxiliares por telefone quando eles começavam a ter autonomia demais? Quem quiser saber, pesquise sobre as passagens de Marina Silva e Cristovam Buarque pelas gestões petistas, apenas como exemplo. Apesar de não ser ainda o modelo de gestão ideal, o que está em curso agora é tão diferente que faz crescer a repercussão de um levantamento sobre os ministros.
Qual foi a última vez que você viu ser feita uma pesquisa sobre a popularidade dos ministros? Se a intenção de quem faz esse levantamento é tentar enfraquecer a figura do presidente, é discutível, mas é fato que algo mudou na forma como esses auxiliares são tratados e no protagonismo deles. Através dos números é possível enxergar aspectos interessantes sobre o perfil do brasileiro que era difícil de ver quando somente a popularidade do presidente era auditada. Damares Alves, por exemplo, a polêmica ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, é a segunda gestora da Esplanada mais popular entre os entrevistados, perde apenas para Moro. Paulo Guedes, que acumulou bons resultados na economia este ano, ficou em terceiro. As declarações dela, sobre menino vestir azul e menina vestir rosa ganham as redes sociais e aderem a um público religioso com mais facilidade do que o crescimento do PIB, apesar de que a recuperação do emprego é uma prioridade para a população. Abraham Weintraub, o polêmico ministro da Educação, é odiado entre os estudantes, mas tem boa aprovação geral, também maior do que a de Bolsonaro, com 34% de ótimo e bom.
O governo se parece muito com uma trupe, onde cada um tem sua função e seu momento no picadeiro. A aprovação de Weintraub se concentra nos conservadores, a de Damares nos evangélicos, a de Paulo Guedes entre empresários, a de Moro entre os mais ricos, homens e maiores de 60 anos. Cada um atrai o público de alguma forma. Bolsonaro não é uma atração em si, é o dono da lona e o apresentador que todo mundo vê, mas não faz tanta pirueta nem malabarismo.
Sim, o governo é um circo e, não, isso não é uma crítica.
*Igor Maciel é titular da coluna Pinga Fogo, no Jornal do Commercio