POSIÇÃO DO BRASIL

Ataque dos EUA que matou general iraniano opõe militares e ala ideológica do governo Bolsonaro

O presidente ignorou pedido de neutralidade por parte dos militares, que perderam a batalha das narrativas

JC Online com agências
Cadastrado por
JC Online com agências
Publicado em 04/01/2020 às 9:56
AHMAD AL-RUBAYE / AFP
FOTO: AHMAD AL-RUBAYE / AFP
Leitura:

A posição adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diante do aumento das tensões entre Irã e EUA nessa sexta-feira (3) opôs as duas principais alas do seu governo, a ideológica e a militar, que tentou em vão fazer com que o presidente não apoiasse o ataque em Bagdá autorizado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que matou o general iraniano Qassim Suleimani.

Depois de passar toda a sexta sem comentar a crise, Jair Bolsonaro expôs a posição do governo brasileiro em uma entrevista à TV Bandeirantes. O presidente seguiu a mesma linha do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo e do assessor especial da Presidência Filipe Martins. Na TV, Bolsonaro criticou o regime iraniano e disse que o ataque norte-americano se justifica num contexto de combate ao terrorismo.

“A nossa posição é a de se aliar a qualquer país do mundo no combate ao terrorismo. Nós sabemos o que em grande parte o Irã representa para os seus vizinhos e para o mundo”, declarou Bolsonaro.

O presidente afirmou ainda desconhecer o poder bélico do Irã, mas acredita que o país não responderá: "É suicida da parte deles", disse. Bolsonaro também avaliou que, em um conflito militar, "perde o mundo todo" e defendeu que o posicionamento do Brasil seja "pacífico". "Afinal de contas, nós não temos forças armadas nucleares, como alguns países têm."

AHMAD AL-RUBAYE / AFP
Uma iraquiana segura uma foto do general Qasem Soleimani - AHMAD AL-RUBAYE / AFP
AHMAD AL-RUBAYE / AFP
Na cerimônia, iraquianos entoaram palavras de ordem contra os Estados Unidos - AHMAD AL-RUBAYE / AFP
AHMAD AL-RUBAYE / AFP
O Irã prometeu "dura vingança no momento e no lugar apropriados" após as mortes - AHMAD AL-RUBAYE / AFP
AHMAD AL-RUBAYE / AFP
"Nós vamos nos vingar", diz o cartaz - AHMAD AL-RUBAYE / AFP
AHMAD AL-RUBAYE / AFP
Carro levando o caixão do líder miliciano Abu Mehdi Al Muhandis - AHMAD AL-RUBAYE / AFP
AHMAD AL-RUBAYE / AFP
Mulheres seguram fotos do general Soleimani e do líder miliciano Abu Mehdi Al Muhandis - AHMAD AL-RUBAYE / AFP
SABAH ARAR / AFP
Carro transportando o caixão do general Qasem Soleimani - SABAH ARAR / AFP

Bolsonaro defendeu o presidente americano, Donald Trump: "Acho que o Trump não está fazendo campanha política em cima disso, não. Quando o Bin Laden deixou de existir se aventou essa possibilidade, mas o americano tem uma linha muito séria no tocante ao combate ao terrorismo".

Pouco tempo depois da entrevista de Bolsonaro à Band, o Itamaraty divulgou uma nota sobre o tema, na qual manifestou oficialmente apoio à “luta contra o flagelo do terrorismo”. A nota dizia ainda "que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo".

Alas militar e pragmática pedem cautela

O ministro do Gabinete de Segurança Internacional (GSI), general Augusto Heleno, se reuniu em duas ocasiões com Bolsonaro nessa sexta e pediu que o Brasil mantivesse uma posição de neutralidade em relação ao caso. Na avaliação do general e de outros militares que fazem parte do governo, o Brasil não ganha nada se alinhando aos Estados Unidos na crise no Oriente Médio. Além disso, as consequências das declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a escalada do tensionamento na região preocupa a ala militar no governo que, nessa guerra interna, perdeu a disputa da narrativa.

Ainda que o risco de o Brasil se tornar alvo para grupos terroristas seja considerado pequeno, tanto militares quanto auxiliares da ala pragmática da gestão bolsonarista consideram que as relações diplomáticas e até mesmo as comerciais podem ser afetadas, visto que o Brasil registrou um superávit de US$ 2,2 bilhões com o Irã em 2018.

Esse dado e o fato de o Brasil ser um grande exportador de produtos como milho, soja e carne para o Irã, fez com que o Ministério da Agricultura, sob comando de Tereza Cristina (DEM), também defendesse maior cautela na posição adotada pelo Palácio do Planalto.

Últimas notícias