A posição adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diante do aumento das tensões entre Irã e EUA nessa sexta-feira (3) opôs as duas principais alas do seu governo, a ideológica e a militar, que tentou em vão fazer com que o presidente não apoiasse o ataque em Bagdá autorizado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que matou o general iraniano Qassim Suleimani.
Depois de passar toda a sexta sem comentar a crise, Jair Bolsonaro expôs a posição do governo brasileiro em uma entrevista à TV Bandeirantes. O presidente seguiu a mesma linha do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo e do assessor especial da Presidência Filipe Martins. Na TV, Bolsonaro criticou o regime iraniano e disse que o ataque norte-americano se justifica num contexto de combate ao terrorismo.
“A nossa posição é a de se aliar a qualquer país do mundo no combate ao terrorismo. Nós sabemos o que em grande parte o Irã representa para os seus vizinhos e para o mundo”, declarou Bolsonaro.
O presidente afirmou ainda desconhecer o poder bélico do Irã, mas acredita que o país não responderá: "É suicida da parte deles", disse. Bolsonaro também avaliou que, em um conflito militar, "perde o mundo todo" e defendeu que o posicionamento do Brasil seja "pacífico". "Afinal de contas, nós não temos forças armadas nucleares, como alguns países têm."
Bolsonaro defendeu o presidente americano, Donald Trump: "Acho que o Trump não está fazendo campanha política em cima disso, não. Quando o Bin Laden deixou de existir se aventou essa possibilidade, mas o americano tem uma linha muito séria no tocante ao combate ao terrorismo".
Pouco tempo depois da entrevista de Bolsonaro à Band, o Itamaraty divulgou uma nota sobre o tema, na qual manifestou oficialmente apoio à “luta contra o flagelo do terrorismo”. A nota dizia ainda "que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo".
Alas militar e pragmática pedem cautela
O ministro do Gabinete de Segurança Internacional (GSI), general Augusto Heleno, se reuniu em duas ocasiões com Bolsonaro nessa sexta e pediu que o Brasil mantivesse uma posição de neutralidade em relação ao caso. Na avaliação do general e de outros militares que fazem parte do governo, o Brasil não ganha nada se alinhando aos Estados Unidos na crise no Oriente Médio. Além disso, as consequências das declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a escalada do tensionamento na região preocupa a ala militar no governo que, nessa guerra interna, perdeu a disputa da narrativa.
Ainda que o risco de o Brasil se tornar alvo para grupos terroristas seja considerado pequeno, tanto militares quanto auxiliares da ala pragmática da gestão bolsonarista consideram que as relações diplomáticas e até mesmo as comerciais podem ser afetadas, visto que o Brasil registrou um superávit de US$ 2,2 bilhões com o Irã em 2018.
Esse dado e o fato de o Brasil ser um grande exportador de produtos como milho, soja e carne para o Irã, fez com que o Ministério da Agricultura, sob comando de Tereza Cristina (DEM), também defendesse maior cautela na posição adotada pelo Palácio do Planalto.