Após o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, postar no Twitter que a iniciativa de sua pasta em iniciar um inquérito contra organizadores de um festival punk em Belém ter o seu apoio, seu comentário na rede social foi inundado de propaganda de vários festivais de rock pesado que acontecem pelo Brasil.
"A iniciativa do inquérito não foi minha,como diz a Folha de S. Paulo, mas poderia ter sido.Publicar cartazes ou anúncios com o PR ou qualquer cidadão empalado ou esfaqueado não pode ser considerado liberdade de expressão.É apologia a crime, além de ofensivo", diz Moro na postagem. O comentário do ministro era uma resposta a uma matéria da Folha de S. Paulo com o título "Sergio Moro pede inquérito contra punks de Belém por cartazes anti-Bolsonaro".
A iniciativa do inquérito não foi minha,como diz a Folha de SPaulo, mas poderia ter sido.Publicar cartazes ou anúncios com o PR ou qualquer cidadão empalado ou esfaqueado não pode ser considerado liberdade de expressão.É apologia a crime, além de ofensivo.https://t.co/SGQeBlYbpR
— Sergio Moro (@SF_Moro) February 28, 2020
Numa das respostas à publicação do ministro, um internauta chama para um festival chamado "Satan Smashes Fascism", com "16 bandas brasileiras de metal antifascista", num cartaz que mostra o satanás segurando a cabeça do presidente Jair Bolsonaro vestido com a farda do movimento integralista brasileiro. "Sem empalamento, sem decapitação. Então, deixa com o papai Satão", diz o reply de um rapaz que se chama Filipe Marcon.
Sem empalamento, sem decapitação. Então, deixa com o papai Satão. ???? pic.twitter.com/tlTcLtu63O
— Filipe Marcon (@ilusaodeetica) February 28, 2020
Num outro reply, o tuiteiro chama para um festival chamado Domésticas na Disney Fest, que vai acontecer no dia 3 de março. "Esse incomoda o Guedes?", pergunta o internauta Vinicius Gentile. Vários cartazes chamam para edições do Facada fest em outras cidades brasileiras.
Esse incomoda o Guedes? pic.twitter.com/6oa9GHrRlP
— Vinícius Gentile (@viniciusgentile) February 28, 2020
Um outro cartaz divulgado no perfil do ministro mostra um festival chamado "Ato Iconoclasta", que mostra o corpo desmembrado de Bolsonaro sendo erguido pelo satanás. "Serjão, tô com uma dúvida aqui, é esse cartaz que não pode?", pergunta o internauta que se identifica como Dersu Uzala, motorista de UBERetroescavadeira.
Serjão, tô com uma dúvida aqui, é esse cartaz que não pode? pic.twitter.com/m8cdoypEot
— Dersu Uzala, motorista de UBERetroescavadeira (@CamaradaUzala) February 28, 2020
Um outro cartaz de uma festa chamada 4BaladaFest, que vai acontecer no Rio, mostra o que parece ser a imagem desfocada da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, com três tiros na cabeça.
E esse aqui que fizeram pra @lolaescreva aliás ameaça de morte com ela é mato....#facadafest pic.twitter.com/hZA9ZpJAeQ
— LUCIANA THOMÉ sapatão terrível ?????? (@luththome) February 28, 2020
A maioria dos comentários no tuíte do ministro, no entanto, são de críticas e de apoio ao governo Bolsonaro. Muitos lembrando que outros presidentes já tiveram suas imagens ligadas à violência, ou mostrando o presidente Jair Bolsonardo fazendo arminha com os dedos ou outros objetos.
O CASO
A polêmica começou com uma matéria da Folha, apontando que a pasta da Justiça havia requisitado a abertura de um inquérito contra quatro artistas de um coletivo de rock de Belém. "Organizadores de um evento de punk chamado Facada Fest, eles são investigados por supostos crimes contra a honra do presidente Jair Bolsonaro, além de apologia ao homicídio", diz a matéria.
Ao jornal o ministério afirmou em nota que "a sua consultoria jurídica apontou a necessidade de investigação. E que cabe agora ao Ministério Público e à Polícia Federal a 'elucidação dos fatos e, se for o caso, oferecer ação penal'”.
Diz a matéria: "No centro da investigação estão os cartazes usados pelo festival, que ocorre na capital paraense desde 2017. Num deles, divulgado para a edição do ano passado, Bolsonaro é representado pelo palhaço Bozo, que é empalado por um lápis."
"Em outro, o presidente aparece vomitando fezes sobre uma floresta, com um bigode de Hitler, uma cueca com a bandeira americana e uma arma na mão. Um terceiro mostra Bolsonaro esfaqueado na cabeça."
Após a polêmica, os organizadores disseram que “em despacho assinado pelo Ministro da Justiça, Sergio Moro, e pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, a organização do festival é acusada de “apologia de crime” e “crimes contra a honra” do presidente da república, Jair Bolsonaro”. “Com tantos problemas ocorrendo neste momento no país – motim das policias militares, degradação ambiental na Amazônia e os indícios cada vez mais fortes de ligações entre políticos e milicianos – causa-nos espanto o uso do aparato judicial e policial de nosso país na repressão de um festival de música”, continuaram.