Crimes da ditadura

Rogério Matos depõe na Comissão da Verdade e retorna ao esquecimento

Antes tido como morto, estudante que foi preso nos anos 70 fala sobre o Padre Henrique e nega envolvimento no crime

Eduardo Machado
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Eduardo Machado
Publicado em 23/11/2012 às 7:10
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Às 11h40 da manhã desta quinta-feira (22), a figura cambaleante do aposentado Rogério Matos do Nascimento, 69 anos, deixou o prédio da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, sede da Comissão Estadual da Verdade, na Madalena, Zona Oeste do Recife. Após mais de duas horas de depoimento - onde ele negou repetidamente qualquer envolvimento no assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, ocorrido em maio de 1969, Rogério caminhou de volta para o esquecimento.

Rogério Matos era tido como morto até ter sido localizado pela comissão, há três meses. O aposentado relatou que conhecera o padre Henrique, principal auxiliar do arcebispo dom Helder Câmara, poucos meses antes do assassinato do religioso. “Fui à casa dele pedir que conseguisse abonar umas faltas na faculdade de economia. Voltei uma semana depois para saber a resposta e ele disse que havia conseguido. Era um padre que sempre ajudava os jovens”, afirmou.

O inquérito que investigou o homicídio indiciou Rogério, que acabou preso e condenado pela morte do padre Henrique. Após quatro anos e três meses na cadeia, ele passou por novo julgamento e foi inocentado por falta de provas. “Isso marcou minha vida para sempre. Fiquei com o estigma de matar o padre sem ter nada a ver com o caso”, garantiu.

Questionado sobre quem seria o autor do crime, Rogério disse ter ouvido por duas pessoas que o empresário Roberto Souza Leão (falecido), já citado na Comissão da Verdade no depoimento do ex-major José Ferreira, estaria por trás do homicídio. “Era um homem muito poderoso e que andava com seis policiais fazendo sua escolta.”
Rogério nega qualquer ligação com o aparelho repressivo da ditadura, mas não soube explicar como seu nome figurava em listas oficiais do DOPS como colaborador.

Na década de 60, a família de Rogério era rica e ele não precisava trabalhar para manter casa, carro e farras. Hoje, ele vive sozinho em um quarto decrépito numa pensão na Zona Oeste do Recife. Longe da figura de playboy de 43 anos atrás, a falta de dentes superiores dão um ar ainda mais triste ao semblante que ele não permitiu ser fotografado.

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