A presidente argentina, Cristina Kirchner, questionou neste sábado (21) nas redes sociais a grande passeata de quarta-feira passada, convocada por promotores de oposição, no dia em que completou um mês a morte misteriosa do promotor Alberto Nisman, que acusou penalmente a chefe de Estado.
"18F, o batismo de fogo do partido judicial", escreveu Kirchner em um longo texto, no qual chama de "insólita" a marcha do silêncio convocada como homenagem a Nisman e que tinha, segundo ela, motivações políticas.
Esta é a primeira vez que a presidente se refere à manifestação que outros integrantes de seu governo denunciaram como uma tentativa de desestabilizar o fim do mandato de Kirchner. A Argentina terá eleições presidenciais em outubro.
Nisman foi encontrado morto em seu apartamento um dia antes de comparecer ao Congresso para justificar a acusação contra Cristina Kirchner, o chanceler Héctor Timerman e outros integrantes do governo de acobertar ex-funcionários do governo iraniano pelo atentado antissemita de 1994 em Buenos Aires deixou 85 mortos e 300 feridos.
A presidente argentina chamou a acusação de "disparate". Ela afirma em seu texto que foi "decididamente uma marcha opositora, convocada por promotores e apoiada por juízes e todo o arco político opositor".
"Em síntese: uma marcha de vários integrantes de um Poder do Estado, o Judiciário, contra outro Poder da Constituição: o Executivo", afirmou.
Kirchner também criticou os seis promotores que convocaram o protesto. Ela disse que dois deles "foram acusados por parentes das vítimas de obstruir a causa AMIA e o trabalho do próprio Nisman", que investigava o atentado contra a mutual judaica.
Ela também ironizou o número de 400.000 participantes na passeata, divulgado pela polícia comunal, em um distrito governado pelo prefeito de oposição e candidato à presidência pelo partido PRO Mauricio Macri. A Polícia Federal divulgou uma estimativa de 50.000 presentes.
Para Cristina Kirchner, o número de 400.000 pessoas é "pateticamente absurdo e politicamente armado" com o respaldo de "grandes meios (de comunicação) e grupos econômicos".
"Este Partido Judicial deve aparecer com 'respaldo maciço' que avalize e dê ares de legalidade a qualquer palhaçada judicial".
"Além de opositor, (o Partido Judicial) é opositor e destituído de governo", concluiu.
Também criticou o promotor Gerardo Pollicita, que retomou a denúncia de Nisman, por recusar o convite de deputados governistas para comparecer ao Congresso e explicar os argumentos da acusação, alegando "sigilo de sumário".
"São realmente surpreendentes, e uma mostra a mais de como funciona o Partido Judicial, os motivos alegados pelo promotor Pollicita para não comparecer ao Congresso da Nação e explicar uma denúncia tão importante na qual estaria envolvida a presidente da nação, seu chanceler e um deputado, entre outros", reclamou.