Impeachment

Estudante cotista da UFPE escreve carta para o presidente Michel Temer

Raynne Alves é sertaneja de Tabira, filha e neta de agricultores e cursa Engenharia Naval na Universidade Federal de Pernambuco

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 01/09/2016 às 16:00
Sérgio Bernardo/JC Imagem
Raynne Alves é sertaneja de Tabira, filha e neta de agricultores e cursa Engenharia Naval na Universidade Federal de Pernambuco - FOTO: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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A pedido do Jornal do Commercio, a estudante Rayane Raíza Alves de Oliveira escreveu uma carta endereçada ao presidente Michel Temer. Nela, conta sua história e fala de suas expectativas em relação ao futuro e às ações do novo governo na área de educação.

 

Caro presidente Michel Temer,

Sou Rayanne Alves, tenho 23 anos, mulher negra, estudante de Engenharia Naval da Universidade Federal de Pernambuco, natural da cidade de Tabira, Sertão de Pernambuco. Aprendi a lidar com as dificuldades da vida desde cedo, quando, no ano de 1993, ainda recém-nascida, tive que sair da minha casa, que ficava na zona rural, junto com minha família, para morar na cidade. Fugia da seca e da fome, que assola boa parte do Nordeste.

Estudar então se tornou objetivo para um futuro promissor e uma graduação passou a ser um sonho que precisava ser trilhado como meta. Não apenas pessoal, mas por todos. Por todos aqueles que enfrentaram e enfrentam o que vivi.

COTAS

O sistema de cotas veio para equiparar as desigualdades de acesso dos estudantes de escolas públicas em relação aos de escolas privadas, mas, mesmo assim, depois de ter concluído o ensino médio, passei dois anos estudando dia e noite para conseguir a tão sonhada vaga na universidade.

Mas entrar na universidade pode parecer uma tarefa fácil para uma menina que, apesar das adversidades, se dedicou o máximo que pôde aos estudos. Entretanto, morando a 420 quilômetros da universidade, precisei recorrer ao Programa de Moradia, através da Assistência Estudantil, prevista no Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), programa este que tem por finalidade evitar a evasão de estudantes universitários e garantir a estes o acesso e a permanência em uma universidade pública, gratuita e de qualidade. O que seria essencial se, na prática, acontecesse o que está no papel. Tenho acompanhado de perto, junto aos meus amigos, os cortes que a educação vem sofrendo e acredito que tudo isso contribui para que outras Rayannes não possam chegar onde estou hoje.


Por isso, presidente, quero pedir que o senhor reflita cada vez que for necessário tomar alguma decisão que possa impedir o jovem de sonhar, o pobre de conseguir inserção nessa sociedade cartesiana ocidental e, mais ainda, que possa impedir que este País de fato se torne uma nação que se preocupa com cada pessoa que luta todos os dias para fazer deste um lugar melhor de se viver.

Escrevo por mim, por todas as mulheres, negras, periféricas e filhas de mãe solteira, pela educação e por todas as pessoas que, assim como eu, tiveram ou terão que ultrapassar barreiras que pareciam impossíveis para alcançar os seus objetivos.

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