A sessão pública de ontem da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara foi dedicada ao caso Odijas Carvalho, estudante de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) barbaramente torturado e assassinado entre janeiro e fevereiro de 1971 por agentes de repressão da ditadura militar. Mais de 40 anos depois, testemunhas recontaram, com palavras fortes, a forma brutal da morte do líder estudantil e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), submetido a “17 horas de pancadaria e porrada”.
A partir dos relatos, a Comissão decidiu convocar para depor os agentes ainda vivos, diretamente ou indiretamente envolvidos na morte de Odijas. Também, a exemplo do caso do jornalista Vladimir Herzog, será solicitada à Justiça a modificação do falso atestado de óbito, que ainda consta como causa-mortis embolia pulmonar.
Na clandestinidade, Odijas foi preso na praia de Maria Farinha, em Paulista, no dia 30 de janeiro de 1971, juntamente com Lylia Guedes, hoje professora da Universidade Federal do Mato Grosso. Seis meses depois do assassinato, Lylia prestou depoimento na Auditoria Militar denunciando a tortura. “Eu vi os torturadores e vi o Odijas ser torturado”, reafirmou ontem.
carolinaalb@gmail.com
Nos testemunhos de Lylia e do ex-preso político Alberto Vinícius são mencionados 12 nomes que estariam envolvidos na morte de Odijas. Entre eles, estão o desembargador aposentado Aquino de Farias Reis e José Oliveira Silvestre, na época delegado do Departamento de Ordem Pública e Social (Dops) no Recife, onde Odijas sofreu as sessões de tortura. "Por unanimidade, fica decidido que vamos solicitar à Secretaria de Defesa Social (SDS) que convoque os nomes vivos mencionados para prestar depoimento", disse o advogado Pedro Eurico, membro da Comissão. Outro nome convocado será o do ex-deputado José Siqueira, ex-diretor da Penitenciária Barreto Campelo, acusado por Alberto Vinícius de perseguir presos políticos. Este ano, ele disputou a eleição para vereador do Recife pelo PMN. Caso compareçam à Comissão, será a primeira vez que eles farão depoimento público sobre o período.
Preso na mesma época, o ex-deputado federal e ex-preso político Tarzan de Castro testemunhou torturas contra Odijas. No Dops, ouviu os gritos provocados pela violência e viu o estado completamente "arrebentado" em que se encontrava o estudante de 25 anos. "Um dia, o então secretário de Segurança Pública, Armando Samico, passou e o chamei: "Doutor, esse rapaz não vai resistir!" Lembro dele dizer: "Que nada! Isso é esparro dele!", relatou Tarzan. Hoje falecido, Armando Samico foi pró-reitor da UFPE e dá nome ao Instituto de Criminalística (IC). Odijas morreria dias depois, no Hospital da Polícia Militar de Pernambuco, para onde foi levado às pressas.