MEMÓRIA POLÍTICA

Abelardo da Hora e as suas mais de 70 prisões

Em sessão da Comissão da Verdade, artista detalha as prisões sofridas durante o golpe militar. Manoel Messias destrincha a situação das cidades no Agreste

Do JC Online
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Publicado em 22/11/2013 às 6:40
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Em sessão da Comissão da Verdade, artista detalha as prisões sofridas durante o golpe militar. Manoel Messias destrincha a situação das cidades no Agreste - FOTO: Divulgação
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Ex-militante e dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1964, o escultor e pintor pernambucano Abelardo da Hora depôs, ontem, na Comissão Estadual da Memória e Verdade sobre os primeiros dias do Golpe de 1964, suas sucessivas prisões, descrevendo as circunstâncias de algumas delas, e episódios que testemunhou na ditadura. Abelardo, 89 anos, natural de São Lourenço da Mata, afirmou ter sofrido mais de 70 prisões ao longo do regime. A mais marcante, relatou em detalhes que impressionaram, ocorreu logo após o golpe militar , quando foi levado ao Quartel de Motomecanização do Exército, em Casa Forte, no Recife. Na ocasião, foi colocado em uma cela que não lhe possibilitava nem se colocar de pé, devido à pequena altura, espaço comparado a “uma casa de cachorro”.

Além do escultor, a comissão tomou o depoimento do secretário político do Partidão, em 64, o economista e cientista político, Manoel Messias, no auditório da OAB-PE. A audiência da Comissão da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, a 24ª sessão pública, apurou “ocorrências no meio acadêmico e cultural”, a violência do regime militar que atingia também a artistas e universitários. Abelardo da Hora revelou que, preso nos primeiro momentos de abril de 1964, ao chegar ao quartel de Casa Forte, lá se encontra o líder comunista Gregório Bezerra, preso em outra cela. Lembrou que chegou a ver Gregório sendo “arrastado” da cela para dar depoimento.

O escultor relatou que, ainda em 1964, uma de suas obras – a Torre de Iluminação Cinética do bairro da Torre – foi destruída pelos militares, que interpretavam a obra como alusiva ao comunismo e, portanto, subversiva. Abelardo lembrou que uma de suas prisões foi motivada por ter escrito em um muro a palavra “paz”. Os agentes da ditadura foram à sua casa e, não respeitaram nem o horário noturno, deram-lhe voz de prisão e o retirando instantes antes de dormir.

O artista plástico disse que o tratamento na prisão só melhorou quando os militares souberam que ele era cunhado de Augusto Lucena, que tinha sido eleito vice-prefeito do Recife, na chapa de Pelópidas Silveira, e tinha assumido a prefeitura com a cassação do titular (Lucena depois se ligaria à Arena, o partido do regime). Em 1964, Abelardo tinha chegado a compor a direção do Partidão. Declarou à Comissão que, imediatamente após o golpe, foi comunicado que o Comitê Central (a direção nacional) do PCB havia orientado a que “não houvesse reação”, mas sim que seus militantes procurassem se proteger do regime.

Abelardo afirmou que ele, Gregório Bezerra e Hugo Martins não concordaram com a orientação e, por isso, decidiram sair do Partidão, mas mantém-se até hoje na esquerda. “Um depoimento franco, que demonstrou, mais uma vez, o nível de violência no Estado, e no País”, ressaltou o presidente da Comissão, Fernando Coelho.

Ao depor, o comunista Manoel Messias destacou a situação em Caruaru e cidades no Agreste, logo após o golpe, e abordou as torturas. Dirigente do Partidão, teve “a casa invadida e o piso escavado pelo Exército à procura de armas que teriam vindo de Cuba, mas que nunca existiram”. Relatou que foi “duramente torturado e espancado”, a ponto de ficar sangrando e prostrado no chão.

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