DOSSIÊ SUDENE

José Sarney surge como promissor

Demonstrando a vocação de articulador, José Sarney consegue que a 70ª Reunião da Sudene seja realizada em São Luís (MA), em abril de 1966. Na sessão, afirma que o Maranhão "não deseja ser mais marginal do progresso e do desenvolvimento do Nordeste"

Ayrton Maciel
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Ayrton Maciel
Publicado em 06/01/2014 às 6:49
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Em 42 anos de existência – 1959-2001 (foi refundada em 2003) –, a Sudene teve cinco generais e um coronel do Exército na sua superintendência, sendo que quatro na fase do regime de 64. O primeiro foi o general Manoel Expedito Sampaio, do Ceará, designado em 4 de abril de 1964 – três dias depois do Golpe de Estado –, pelo general-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, para substituir o idealizador e primeiro superintendente, Celso Furtado. O general Sampaio ficou, entretanto, como interino. Ainda em 64, o cearense João Gonçalves de Souza assumiu e comandou a autarquia até 1966.

Naquele ano, aparece como novo integrante do Conselho Deliberativo da Sudene o governador biônico do Maranhão, José Sarney (Arena) - todos os governadores eram escolhidos e nomeados pelos militares entre políticos que apoiaram o Golpe de 64 e respaldavam o regime –, que posteriormente contribuiria para a redemocratização do País. Sarney foi o primeiro presidente civil pós-ditadura de 64, devido à fatalidade da morte de Tancredo Neves (PMDB), eleito indiretamente pelo colégio eleitoral do Congresso Nacional em 1985.

O ex-presidente do Senado e senador pelo Amapá desde 1990, Sarney afirma na 69ª Reunião do Conselho da Sudene, em 2 de março de 1966, que está presente “não só para pedir (para o seu Estado), mas para participar”. O governador revela ter encontrado “uma situação desalentadora” no Maranhão, atribuindo parcela de responsabilidade pelo cenário à própria Sudene. Polêmico, pede que o órgão coopere com a reconstrução do seu Estado. “Significa cooperar com o novo Nordeste”, diz. 

Demonstrando a vocação de articulador desde cedo, José Sarney consegue que a 70ª Reunião da Sudene seja realizada em São Luís, em 13 de abril de 1966. Na sessão, afirma que o Maranhão “não deseja ser mais marginal do progresso e do desenvolvimento do Nordeste” e pondera que seu Estado estava na Sudene “apenas geograficamente e não pelo convívio na solução dos problemas da Região”. 

Sarney lembra que a renda per capita do Maranhão é, junto com a do Piauí, a mais baixa do País e que o Estado não sairá da miséria com recursos próprios. “Há somente um Nordeste, ao qual pertence o Maranhão, onde vivem hoje 700 mil nordestinos. O Estado serve de equilíbrio na economia do Nordeste. Quando há seca, os nordestinos vêm para os nossos vales úmidos”, lembra. Com o clamor, é aprovada a proposição – que havia rendido grande discussão – de instalação de uma agência do Banco do Nordeste em São Luís.

A ata da 103ª Reunião , em 20 de janeiro de 1969, revela que os governadores da Região rebelaram-se contra o governo do marechal Artur da Costa e Silva, que estava propondo a redução global dos investimentos em mais de R$ 550 milhões de cruzeiros novos, dentro de um plano de contenção da inflação. Os governadores credenciam Sarney e João Agripino (PB) a não aceitarem a fórmula imposta pelo governo que reduzia em 30% o Fundo de Participação dos Estados da Região para cobrir o déficit orçamentário. “Acham válido e justo o combate à inflação, mas querem a divisão do ônus entre todos os Estados da Federação”.

Ao se despedir da Sudene, em maio de 1970, para se candidatar a cargo eletivo, recebe palavras de reconhecimento do governador João Agripino: “José Sarney, uma figura moça de homem público e mentalidade sempre atualizada (...) revelou-se um dos melhores administradores deste País. (...) , mereceu da Sudene especial consideração pelo seu valor pessoal e por uma mentalidade inteiramente diferente daquela que dominou o Brasil no passado”, manifesta-se Agripino.

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