LEGISLATIVO

Alepe: parente como sucessor político

Tradição da política, o familismo domina gerações na Assembleia Legislativa. Muitos sobrenomes atravessam décadas

Ayrton Maciel
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Ayrton Maciel
Publicado em 30/09/2014 às 5:38
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Trinta anos depois do fim da ditadura militar, a democracia brasileira está sob questão: há uma prática democrática no exercício da política no País? Por que o Brasil não consegue renovar os quadros políticos? Por que os partidos não têm compromisso programático? O sistema partidário-eleitoral está na berlinda, carcomido por vícios e deformações nas relações entre os Poderes e entre os eleitos e eleitores. Sistema que se alimenta e se reproduz de acordos partidários sempre sob suspeitas e governos dependentes de bases de apoio artificiais, que sobrevivem da troca de interesses.

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Sobrenomes de famílias que se prolongaram no Legislativo

O retrato não traduz, porém, apenas os 30 anos de democracia recente. É da tradição política do País. As práticas são iguais entre as regiões. Mais enraizadas em “umas” que em “outras”. Pernambuco é um exemplo. A tradição política vem do “coronelismo” ao espólio familiar do poder, sendo o Legislativo o mais representativo das castas políticas, na história republicana brasileira, nos períodos democráticos e ditatoriais alternados.

Na Assembleia de Pernambuco os sobrenomes se sucedem na Casa por ordem genealógica ou parentesco de afinidade, quando não se perpetuam em mandatos por 40 a 50 anos via reeleições. As famílias e seus sobrenomes dominam, significativamente, a política estadual. Levantamento da atual bancada de 49 deputados do Legislativo do Estado revela que a maior parte dos parlamentares é composta por filhos, netos, pais, primos e esposas de ex-deputados ou de ex-prefeitos ou prefeitos municipais. 

Numa comparação com a bancada da Assembleia de 60 anos atrás – que tinha 65 membros, eleitos em 1950 –, constata-se que muitos dos sobrenomes já estavam lá no Parlamento como bisavós, avós e pais de atuais deputados. Outros, até recentemente permaneciam como legisladores. Alguns ganharam projeção no enfrentamento à ditadura de 64. A sessão de 24 de agosto de 1954, a do dia do suicídio de Getúlio Vargas, é bem representativa da forte presença do familismo na política pernambucana, tradição denunciada pelos sobrenomes.

Da bancada de 1950, sobrenomes atravessaram as décadas seguintes como expressões políticas no Estado e até nacionais. No dia do suicídio de Getúlio, estavam presentes no plenário personagens como Miguel Arraes - em 1959, eleito prefeito do Recife, e governador em 1962 –, Paulo Germano (filho de Agamenon Magalhães), Pio Guerra, Afonso Ferraz, Antônio Heráclio, Andrade Lima Filho, Nilo Pereira, Paulo Cavalcanti, João Teobaldo, Metódio Godói e Constantino Maranhão.

Ausentes à sessão estiveram deputados como Armando Monteiro Filho e Francisco Heráclio, e justificaram ausência nomes como Osvaldo Lima Filho, Moury Fernandes, Felipe Coelho, Lael Sampaio e Clélio Lemos. O espólio político de muitos foi herdado pelos descendentes. 

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