A cada eleição, está caindo o número de jovens entre 16 e 18 anos que optam por tirar seus títulos. Nos últimos quatro pleitos, em Pernambuco, o índice nessa faixa etária, que é contemplada com o voto facultativo, caiu 42%. O problema é ainda maior se considerarmos apenas os jovens de 16 anos, dos quais quase 56% decidiram adiar sua entrada no sistema eleitoral. A tendência se intensificou após os escândalos divulgados em 2012 e a onda de protestos ocorrida em 2013.
A baixa poderia ser explicada caso, nos últimos anos, também tivesse acontecido uma substancial queda na quantidade geral de jovens pernambucanos. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve uma redução de 7,5% nos números dessa faixa etária, que passou de 880.185 para 813.598 jovens entre os censos de 2000 e 2010. Mas a queda, nem de longe, foi tão drástica como os dados eleitorais demonstram. Ou seja: os jovens estão, sim, deixando para tirar seus títulos apenas quando isso se torna obrigatório.
Essa diminuição no interesse em obter o documento não surpreende o cientista político e professor da UFPE Michel Zaidan. “A verdade é que neste momento ninguém se sente estimulado a participar da política. É como se o sistema utilizasse uma linguagem analógica e a realidade já estivesse em linguagem digital. Há um grave problema de comunicação, uma crise de representação muito grande. Esse divórcio tende a continuar e a aumentar”, analisa.
Mas na opinião do também cientista político e professor de comunicação da Universidade Católica de Pernambuco, Juliano Domingues, estes dados não significam, necessariamente, desinteresse por parte do eleitorado jovem. “Pelo contrário. Estudos recentes indicam que o jovem participa politicamente, porém não se sente atraído pelos meios tradicionais de participação”, alerta Juliano. Ele destaca que, contraditoriamente, a eleição passa a ser vista como o anti-clímax da política, desestimulando a juventude a participar de maneira convencional. “Não se trata de apatia, e sim de ceticismo diante de formas tradicionais de participação e representação”, resume.
Zaidan concorda com a ideia de que não se trata de apatia. Ao contrário: afirma que “uma das principais características da juventude é a exigência da radicalidade”. “Os jovens exigem autenticidade, não querem meio termo. Só que na atual geração política é difícil achar quem ofereça essa oferta de uma proposta nova, que empolgue”, explica. “A juventude tem sua razão, porque vivemos o fim de um ciclo liderado pelo PT e pelo PSDB e, em meio à agonia, não achamos alternativas que possam substituir o que há no momento. Talvez por isso muitos jovens venham aderindo ao anarquismo e a movimentos sociais que partem para a ação direta, já que não há outras opções institucionais para a ação”, aponta.