Democracia

Forças Armadas negam ter interesse em intervenção militar

Exército, Marinha e Aeronáutica reforçam defesa da democracia apesar de pedidos de intervenção

Franco Benites
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Franco Benites
Publicado em 29/08/2015 às 13:00
Agência Brasil
Exército, Marinha e Aeronáutica reforçam defesa da democracia apesar de pedidos de intervenção - FOTO: Agência Brasil
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De 1964 para trás, em um recorte histórico que vai até o início da República, em 1889, os militares se valeram de momentos de crise na política nacional para assumiu o poder ou influenciar na escolha do presidente do Brasil. Após a redemocratização do País, há 30 anos, a atitude mudou e os quartéis passaram a limitar-se a seus papéis institucionais. Mas, recentemente, nos protestos contra o governo federal, grupos minoritários começaram a pedir a intervenção militar sob a justificativa de as Forças Armadas são o único caminho para evitar um aprofundamento da crise política. Essa reivindicação, no entanto, não encontra eco entre os próprios militares.

Por meio de sua assessoria de comunicação, o comando da Aeronáutica declarou que “não compactua com opiniões extremistas e contrárias à manutenção do estado democrático e que reforça o permanente compromisso com a democracia”. A Marinha respondeu que “age em absoluta conformidade com a Constituição” e que não é sua atribuição “apresentar juízo de valor em relação a assuntos de natureza política”.



A assessoria do Exército enviou um vídeo com o depoimento do comandante da instituição, general Eduardo Villas Bôas, no Congresso Nacional. “O Exército não se arrepende do que fez, mas de certa forma ainda paga pelo que fez. É um erro a gente querer tutelar a sociedade”, disse.

Para o cientista político Thales Castro, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), a  atual moderação política dos militares é natural. “O contexto histórico dos anos 1960 e 1970 propiciava que os militares tivessem força  de intervenção maiores que hoje. Estávamos vivendo o período da Guerra Fria, da bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética. A relação dos Estados Unidos com a América Latina era de empoderamento das forças conservadoras. Com a redemocratização da América Latina, houve um processo crescente de fortalecimento dos mecanismos de representação e os militares passaram a ter uma posição muito mais institucionalizada no que tange ao seu papel como braço armado do Estado”, avalia.

O coordenador da Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Antonio Montenegro, é ainda mais crítico na análise sobre o atual silêncio das Forças Armadas. “Os militares estão política e socialmente na defensiva porque não foram capazes de reconhecer seus erros. Falta-lhes legitimidade para se expressar publicamente porque não tiveram a coragem de dizer que erraram”, aponta.

Há quem aposte que os militares voltarão ao poder, mas de forma democrática. É o caso do presidente estadual do Partido Militar Brasileiro (PMB), Darcirio Oliveira. Segundo-tenente do Exército, ele está à frente da coleta de assinaturas no Estado para que a instituição seja oficializada pela Justiça Eleitoral ainda este ano. “O Brasil pode ter um presidente militar de novo, mas por meio do voto popular. Estamos descontentes com a política nacional, mas não apoiamos os pedidos de intervenção militar”, fala.

DEMOCRACIA FORTALECIDA - Não são numerosos os grupos que pedem a intervenção militar no País, mas ainda assim eles conseguem se destacar em meio aos protestos contra o governo Dilma Rousseff (PT). Na opinião de analistas, o apelo para que o governo civil saia de cena,  feito via cartazes, carros de som e camisas, não tem efeito. “A nossa jovem democracia ainda é cheia de lacunas, mas está consolidada”, aponta o sociólogo José Arlindo Soares.

De acordo com o estudioso, nos momentos em que os militares estiveram no comando do País ou próximo disso é porque havia apoio popular nesse sentido, diferentemente de agora. “A intervenção não interessa a nenhum grupo mais consistente  dos setores mais conservadores ou da esquerda mais estruturada. Há uma nova direita, marcada pela aversão ao PT, mas não é do seu padrão querer que se resolvam as coisas pelos quartéis”, explica.

Embora o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) costume defender o período em que os militares governaram o Brasil, o manifesto em apoio à intervenção militar não tem base partidária segundo o cientista político Thales Castro. “Esses pedidos partem de um segmento social que não se vincula diretamente a um espectro político-ideológico. São causa de uma angústia com o sistema democrático, que é muito ruim e perigosa. Estar de público conclamando intervenção militar é inconstitucional porque o regime democrático está protegido pela Constituição de 1988”, fala.

O cientista político Jorge Zaverucha, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), diz que os pedidos partem de uma parcela da população “profundamente decepcionada com a democracia” e destaca que a sociedade precisa manter a vigilância. “Os civis, com 1964, aprenderam que é perigoso cooptar os militares, pois eles podem não querer devolver o poder imediatamente. A primeira opção dos militares não é o golpe. contudo, se a crise se agravar e a ordem for ameaçada, eles darão o ar de sua graça”, alerta.

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