"golpes paraguaios"

Impeachment não é remédio para governo que a gente não gosta, diz Ciro Gomes

Para Ciro Gomes, linha sucessória de Dilma está tisnada pela suspeita já denunciada de corrupção

Paulo Veras
Cadastrado por
Paulo Veras
Publicado em 17/09/2015 às 10:06
Foto: reprodução/Wikipedia
Para Ciro Gomes, linha sucessória de Dilma está tisnada pela suspeita já denunciada de corrupção - FOTO: Foto: reprodução/Wikipedia
Leitura:

Cotado para disputar as eleições presidenciais em 2018, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta quinta-feira (17) que a presidente Dilma Rousseff (PT) não cometeu nenhum crime de responsabilidade e comparou os pedidos de impeachment à "golpes paraguaios". Em entrevista à Rádio Jornal, do Recife, Ciro, que já concorreu ao Palácio do Planalto em 1998 e 2002, afirmou ainda que a linha de sucessão de Dilma, formada pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) e pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está "tisnada pela suspeita já denunciada de corrupção". Respondendo a uma provocação do apresentador Geraldo Freire, o cearense também disse que chamaria a polícia após descer de um avião em que estivesse com Cunha e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

"Crime de responsabilidade a Dilma não cometeu nenhum. Então nós brasileiros, que lutamos para reconquistar a democracia, temos que ter clareza que o impeachment não é remédio para governo que a gente não gosta. O impeachment rompe com a regra democrática. O impeachment da Dilma rompe com os rituais. E nós estamos em um momento extremamente grave que é uma linha de sucessão tisnada pela suspeita já denunciada de corrupção. As pessoas ficam as vezes acreditando que se a gente interromper o mandato da Dilma, num desses golpes paraguaios que estão se ensaiando aí, quem assume é o Michel Temer. Que vem a ser parceiro e amigo íntimo do Eduardo Cunha. Que está denunciado pela Procuradoria da República por formação de quadrilha, por corrupção e por roubo", afirmou.

Ouça a íntegra da entrevista no site da Rádio Jornal.

Para Ciro Gomes, é preciso lutar em duas frentes para defender a democracia e trabalhar para que Dilma mude de rumo e se reconcilie com os valores e os grupos sociais que lhe deram a vitória eleitoral em 2014. "Três anos de governo ruim, que a gente não gosta, passa ligeiro e a gente elege daqui a pouco. Mas quebrar a democracia, a gente da última vez que viu, foram vinte e tantos anos sem liberdade, com pessoas sendo perseguidas", justificou.

Na entrevista de mais de 15 minutos, Ciro garantiu que a presidente é uma pessoa decente, que tem espírito público e é trabalhadora, mas disse ver dois defeitos no governo: uma equipe muito fraca e a falta de um projeto para o país. Ele também ponderou que há fatores que causaram a crise econômica que independem da petista, como a desaceleração das economias dos Estados Unidos, da Europa, da China e da Argentina, principais parceiros comerciais do Brasil.

ELEIÇÃO 2018 - Recém-filiado ao PDT com a possibilidade de voltar a disputar a Presidência em 2018, o ex-governador admitiu a possibilidade de ser candidato uma terceira vez, mas garantiu que resolveu mudar de partido porque se sentiu na obrigação de levantar a própria voz em defesa da democracia e de uma mudança de rumo da presidente Dilma. "Não é assim como a negada fala para enganar, não. Eu não quero ser candidato. Não quero mesmo. Mas acho que se for necessário e tiver que ser, eu serei", ponderou.

Ao falar sobre uma crise de liderança na política brasileira, Ciro classificou o nível dos protagonistas da vida política brasileira hoje como o pior que ele já viu. "Você imagina a Câmara eleger um homem como Eduardo Cunha. E ficar na presidência da Câmara um homem que está denunciado como corrupto pela Procuradoria da República. Que a gente sabe no Brasil que para a Procuradoria da República chegar a denunciar um político é a coisa mais difícil que tem. Ali foi uma denúncia é porque foi batom na cueca, como a turma diz", alfinetou. O irmão dele, Cid Gomes, deixou o Ministério da Educação no início do ano após bater de frente com Cunha.

O cearense também disse que a redução de ministério, uma das respostas de Dilma para a crise, é importante em um contexto simbólico de austeridade e afirmou que a existência de 39 pastas é um exagero. "A população brasileira está acostumada com sacrifício. O que ninguém aceita é a sensação de ter sido enganado. Então você anuncia que a conta de luz vai cair e a conta de energia subiu loucamente. Você diz que a gasolina não vai subir e ela acaba subindo. Isso tudo criou uma sensação muito desagradável na sociedade brasileira de que o que foi falado para ela não era verdade. De que houve uma mistificação, uma enganação", alertou.

Últimas notícias