Construido a partir da sociedade açucareira escravocrata, Pernambuco não tem nenhum deputado federal negro, segundo a declaração dos próprios parlamentares eleitos à Justiça Eleitoral no ano passado. Além disso, apenas três dos 49 integrantes da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) se auto-denominam negros: Edilson Silva (PSOL), Manoel Botafogo (PDT) e Ossésio Silva (PRB). De acordo com o IBGE, 5,4% da população de Pernambuco afirma ter a cor da pele preta.
Compondo 36,6% da população pernambucana, os brancos são maioria expressiva entre os parlamentares pernambucanos: 60% da bancada federal e 57% da bancada estadual. Os pardos, categoria que compõe mais da metade dos 8,8 milhões de pernambucanos são o segundo grupo mais representado no cenário político pernambucano.
Para Ossésio Silva, os políticos negros são alvo do preconceito no período eleitoral. “Como é velado, você percebe as vezes quando vai pedir um voto que a pessoa lhe olha de forma diferente. Eu já ouvi muita gente dizer assim: ‘Ele é até bonito, simpático, mas é negão, né?’ A maneira como as pessoas falam é muito discriminatória”, conta. Apesar de achar lamentável a baixa presença de negros no Legislativo, ele acredita que os negros precisam se unir e se valorizar para ganhar espaço na política. “O Brasil pode ser muito melhor. E muito mais igualitário”, sonha.
Dos 1.627 candidatos eleitos no ano passado em todo o país, 1229 se declararam brancos, o equivalente a 76% do total de eleitos. Em comparação, 342 políticos que venceram a última disputa afirmaram ser pardos e apenas 51 se declararam negros. Juntos, pretos e pardos representam 50,7% da população brasileira. Em 2014, pela primeira vez, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pediu aos candidatos que afirmassem sua cor e raça ao registrar a candidatura.
“Essa sub-representação está em todos os espaços de poder. Não só no legislativo, mas também no Executivo. Quantos governadores e governadoras negros existem no país? Se você for para o Judiciário, os cinco dedos da sua mão são muito para contar o número de magistrados no Supremo Tribunal Federal”, afirma Vera Baroni, coordenadora da Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco (Uiala Mukaji). Na visão dela, só no longo prazo e com muito esforço será possível superar o racismo na sociedade brasileira.