OPERAÇÃO LAVA JATO

Em Aldeia, vizinhos evitam falar sobre Ceará, novo delator da Lava Jato

O empresário Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, ajudante do doleiro Alberto Youssef, morava em um condomínio em Aldeia, às margens da PE-27

Marcela Balbino
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Marcela Balbino
Publicado em 09/01/2016 às 14:47
Foto: Edmar Melo/JC Imagem
O empresário Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, ajudante do doleiro Alberto Youssef, morava em um condomínio em Aldeia, às margens da PE-27 - FOTO: Foto: Edmar Melo/JC Imagem
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Um clube de campo em Aldeia, em Camaragibe, que abriga condomínios de alto padrão, às margens da PE-27, era onde residia o empresário Carlos Alexandre de Souza Rocha, apelidado de Ceará, ajudante do doleiro Alberto Youssef e delator na Lava Jato. Olhando de fora, o condomínio Alvorada parecia seguir na aparente tranquilidade, ontem, não fosse a notícia de que o proprietário de um dos imóveis está envolvido no esquema milionário de corrupção na Petrobras. Na portaria, o segurança informou à reportagem que Ceará não morava mais ali, mas que a irmã dele, Maria Amália, sim. Ela, no entanto, havia saído.

Com casas luxuosas, orçadas em mais de R$ 700 mil, de acordo com corretoras do local, o clube de campo é residência de médicos, advogados e políticos. Alguns moradores abordados na entrada evitaram entrevistas. Do lado de fora, no entanto, funcionários que trabalham nas residências contaram que o assunto do dia foi a divulgação de que o entregador de dinheiro de Youssef morava lá. "Meus patrões só falavam disso", contou uma empregada doméstica, que pediu para não ser identificada. "A chefe ficou braba dizendo que era ruim porque ‘queima’ a imagem do condomínio", contou outra. Segundo elas, é comum o trânsito de políticos no condomínio, mas acrescentaram que nunca viram Ceará nem a irmã.

LEIA A ÍNTEGRA DA DELAÇÃO DE CEARÁ, NO BLOG PINGA-FOGO

Na delação premiada, Ceará conta que o Recife entrou na rota de Youssef. Em 2013, o doleiro veio à capital pernambucana, em um avião particular, com duas malas cheias de dinheiro. O amigo do doleiro explica, inclusive, como calculava as quantias a serem distribuídas. "Quando o declarante transportava dinheiro em notas de R$ 50, conseguia levar R$ 150 mil, e quando transportava dinheiro em notas de R$ 100, conseguia levar R$ 300 mil", disse ele, em depoimento.

A rota do empresário incluiu mais de oito cidades do País: Brasília, Recife, Maceió, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Florianópolis e Itapema (SC). Boa parte das viagens partiram do Recife. As viagens aconteceram entre 2013 e 2014. Ceará distribuiu milhões de reais para políticos. Ele acabou preso em 2014. Ceará relatou como procedeu a distribuição de dinheiro a políticos, como o ex-deputado Pedro Corrêa (preso na PF de Curitiba) e citou pagamento ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (morto em 2014).

Em uma das passagens, ele cita que levou R$ 130 mil a Pedro Corrêa, na residência dele, na Avenida Boa Viagem, Zona Sul. O dinheiro, diz ele, seria usado para custear a campanha da filha do ex-deputado. Corrêa é acusado de ter sido favorecido no esquema de corrupção da Petrobras. Ele nega. Segundo a denúncia, o ex-parlamentar recebeu dinheiro desviado dos contratos da estatal quando era presidente do PP, e distribuiu os valores a membros do partido.

O ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra também é citado por Ceará. Ele confirmou à Procuradoria-Geral da República que Youssef destinou R$ 10 milhões para o tucano, então líder do PSDB no Congresso, "abafar" a CPI da Petrobras, em 2009 - às vésperas do ano das eleições presidenciais em que Dilma Rousseff (PT) chegou ao poder. O partido nega ter recebido valores ilícitos.

Ceará conta ainda que uma das quantias mais altas destinadas pelo doleiro - R$ 1 milhão - era endereçada ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Os senadores Fernando Collor e Aécio Neves também estão na lista do novo delator.

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