Políticos pernambucanos citados em planilhas da Odebrecht, que admitem ter recebido ajuda da empreiteira para a campanha eleitoral de 2012, alegam que a doação foi legal e por meio do partido. É o caso do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), do prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes (PSDB) e dos deputados federais Bruno Araújo (PSDB) e Mendonça Filho (DEM). O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), também citado, afirmou, no entanto, desconhecer a lista. “Eu não conheço essa planilha. Não conheço. Com relação às minhas contas eleitorais, elas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e estão disponíveis na internet para quem quiser olhar”, respondeu após evento no Palácio do Campo das Princesas, na quarta-feira (23/03), dia em que as anotações da construtora foram divulgadas. Há também quem negou ter recebido ajuda da empresa, como Daniel Coelho (PSDB).
A direção nacional do PSB, comandada por Eduardo Campos em 2012, emitiu nota ontem, alegando que “as contribuições obedeceram as regras estabelecidas pela legislação eleitoral e estão devidamente declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”. Citou até o juiz federal Sérgio Moro, lembrando que não se deve incorrer em prematura conclusão quanto à natureza das contribuições: “Há contribuições e contribuições, é preciso separar o joio do trigo.” O senador Fernando Bezerra Coelho, do mesmo partido, explicou, por meio de assessores, que a doação foi feita via o Diretório Nacional do PSB à campanha do filho dele, Fernando Filho, então candidato a prefeito em Petrolina. E observou que as prestações de contas das campanhas municipais de 2012 foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. O prefeito de Bezerros, Severino Otávio (Branquinho), também do PSB, contou que na campanha de 2012 recebeu de fato R$ 50 mil no escritório da Odebrecht no Recife, mas doados em nome de outra empresa: “Foi doação legal, conseguida por um amigo e incluída na minha prestação de contas”.
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O prefeito do Cabo de Santo Agostinho, José Ivaldo Gomes (Vado da Farmácia), que venceu as eleições de 2012 pelo PSB e agora está sem partido, não se pronunciou sobre o caso ontem, mas sua assessoria destaca “que todas as doações de campanha referentes às eleições de 2012 foram legais”. Etore Labanca, ex-prefeito de São Lourenço da Mata pelo PSB e atualmente sem legenda, não foi localizado, embora o JC tenha feito contato com a assessoria da Agência Reguladora de Pernambuco, presidida por ele.
A assessoria do senador Humberto Costa (PT) alega que não houve qualquer doação direta da Odebrecht à campanha de 2012, na qual disputou a Prefeitura do Recife. “O que pode ter ocorrido - se efetivamente houve a doação - é que ela tenha sido feita diretamente ao PT Nacional, que repassou cerca de R$ 1,7 milhão para contribuir com a campanha do senador em 2012, conforme registrado na mesma prestação de contas”, alegou.
O ministro Armando Monteiro Neto (PTB) reconhece só que recebeu contribuição da Construtora Odebrecht para a campanha de 2014, em valor maior do que foi divulgado. “Foram duas doações – R$ 500 mil e R$ 200 mil – devidamente declaradas na prestação de contas apresentada e aprovada Justiça Eleitoral”.
Elias Gomes, prefeito de Jaboatão, esclareceu que o Diretório Estadual do PSDB doou R$ 200 mil à campanha dele. “O Diretório Nacional recebeu doações da citada empresa (Odebrecht) e repassou para os diversos diretórios estaduais, inclusive o de Pernambuco”, informou a assessoria. O prefeito adianta que em sua trajetória de administrador público, no Cabo de Santo Agostinho, no Estado e em Jaboatão, jamais foi firmado contrato com a Odebrecht, e elogiou a Operação Lava Jato, como “importante marco para a política do País”. O filho dele, deputado Federal Betinho Gomes, esclareeceu também ter recebido R$ 100 mil doados pelo diretório nacional do PSDB em 2012 e que o partido recebeu doações da Odebrecht. O deputado federal Bruno Araújo (PSDB) referiu-se aos dados ligados a seu nome, na planilha, como “valores de 2012 recebidos pelo partido e repassados oficialmente a candidaturas a prefeito em Pernambuco naquele ano, e o de 2010, com o devido registro na Justiça Eleitoral”.
O deputado federal Daniel Coelho (PSDB) disse que a citação do seu nome em uma das planilhas não muda a opinião sobre a investigação, na qual tem confiança. “Tenho a tranquilidade de não ter recebido absolutamente nada além do que foi declarado oficialmente no período eleitoral. Em maio de 2012 não havia sequer a confirmação de que eu seria candidato (a prefeito do Recife), como notícias veiculadas nos jornais do período podem comprovar”.
Mendonça Filho (DEM) confirmou ter recebido doação empresarial da Odebrecht em 2012, mas de forma legal, “repassada por meio das contas do Democratas, conforme prestação de contas feita à Justiça Eleitoral e disponível ao público”, de acordo com sua assessoria. Destacou ser importante “separar doação empresarial legal, permitida então pela Lei Eleitoral, e contribuições ilegais derivadas de corrupção, as quais são investigadas pela Operação Lava Jato.”
Jarbas Vasconcelos Filho (PMDB) disse que “todas as doações de campanha recebidas em 2012, quando tentou uma vaga para Câmara de Vereadores do Recife, foram declaradas e aprovadas”. Alega que nessa prestação há doações de empresas privadas, pessoas físicas e dos diretórios estadual e nacional do partido. Tudo formalizado, seguindo as orientações legais e disponibilizado no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na tarde desta quinta-feira (24), Ettore Labanca confirmou, por meio de nota, que sua campanha pela reeleição, em São Lourenço da Mata, recebeu apoio financeiro da Odebrecht, ressaltando que a doação ocorreu de forma transparente, obedeceu a legislação vigente naquele período e "não esteve condicionada a nenhum ato escuso que possa colocar sob suspeita a minha atuação política". Segundo o político, todos os valores estão registrados em sua Prestação de Contas perante à Justiça Eleitoral.