Após derrota na Câmara dos Deputados no processo de impeachment, por 367 votos a 137, a presidente Dilma Rousseff tem pela frente agora o julgamento do Senado. A votação que decidirá se a mandatária petista permanece no cargo ou será afastada por 180 dias deve ocorrer na primeira quinzena de maio.
Em meio à ebulição no meio político, o JC propôs uma reflexão sobre o processo de impedimento e foi ouvir os três senadores da República eleitos no Estado. Dois deles – Douglas Cintra (PTB) e Humberto Costa (PT) – são contra o impedimento. Fernando Bezerra Coelho (PSB) é favorável.
Por Douglas Cintra, senador do PTB
Estou certo de que compartilho a opinião da esmagadora maioria da população brasileira segundo a qual a Operação Lava-Jato representa um grande avanço ético na vida pública nacional, impondo novo modelo nas relações empresas-governo em particular.
Mas não podemos ceder à tentação de soluções simplistas sem atentar para consequências que, não raro, agravam os problemas que se propõem a enfrentar.
À presente altura, ninguém é capaz de prever com segurança qual o destino que aguardaria um eventual governo Temer/Cunha. Ainda que muitos alardeiem a celebração de um "acordão", um grande pacto pela governabilidade, não dá para adivinhar os próximos desdobramentos que a Lava-Jato traria para os novos detentores do poder.
Afinal, os principais ex-dirigentes da Petrobras, sob investigação ou já condenados pelo juiz Sérgio Moro, foram indicados pelo PMDB. É evidente que Moro jamais aceitará 'abrandar', o rigor dessas diligências, mesmo porque ele já deu provas sobejas da seriedade do seu compromisso com a verdade.
Outro ponto importante é que existem provas do envolvimento de pessoas do governo, mas não da participação da presidente. Tanto isso é verdade que o pedido de impeachment não se fundamenta formalmente nesses fatos, e sim nas discutíveis ‘pedaladas fiscais’.
Já as provas que pesam contra Eduardo Cunha, também do PMDB, e eventual ocupante da segunda posição na linha sucessória do Brasil, são públicas, do conhecimento de todos. Mesmo assim, não percebo vigor equivalente nas cobranças pela saída de Cunha da presidência da Câmara, nem pela cassação de seu mandato.
Não podemos aceitar a falácia maniqueísta que coloca de um lado os ‘bons’, aqueles que combatem a corrupção e, de outro, os ‘maus’, aqueles que desejam mantê-la. Esse tipo de ilusão leva ao triste espetáculo a que assistimos no domingo. Hipocrisia exemplificada pelo caso de uma deputada que pronunciou seu voto pró- impeachment exaltando a gestão de seu marido, prefeito de Montes Claros, preso horas depois pela Polícia Federal.
Concordo que houve erros (alguns aplaudidos por todos, na época); só que, em vez de embarcar em um processo de escassa base jurídica e incendiado por cega paixão política, proponho buscar soluções que viabilizem o país a médio e longo prazos, promovendo as mudanças indispensáveis para fazer com que o Estado volte a caber dentro do PIB.
Tenho a firme convicção de que o que estamos assistindo é uma destrutiva disputa pelo poder que, infelizmente, relega o interesse nacional a um plano secundário em relação às conveniências político-partidárias de ocasião.