A menos de uma década de completar cem anos, o PCdoB se vê em uma encruzilhada em Pernambuco, sobretudo no Recife e em Olinda. Nacionalmente, o partido integra a linha de frente da defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), mas no Estado é aliado do PSB, partido favorável ao afastamento da petista. A parceria com os socialistas tem gerado críticas aos comunistas nas redes sociais, mas nada abala os dirigentes da sigla, que defendem a estreita relação com o governador Paulo Câmara (PSB) e o prefeito da capital pernambucana, Geraldo Julio (PSB).
Para o cientista político Túlio Velho Barreto, a regionalização política que permite aos partidos caminharem juntos no Estado e afastados nacionalmente é nociva. “Há falta de coerência nessa decisão do PCdoB e PSB. O que não serve para o País não devia servir para Pernambuco e o Recife. E o inverso deveria valer igualmente. Os partidos deveriam ter mais coerência em suas alianças”, afirma.
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O presidente do PCdoB no Recife, José Bertotti, defende o partido e diz que a postura divergente com o PSB não deveria causar confusão. “Isso não é um fato estranho. Em 2014, o PSB apoiou a candidatura de Marina Silva (Rede-AC) e Aécio Neves (PSDB-MG) e tivemos um posicionamento diferente ao apoiar Dilma”, explica.
De acordo com o dirigente, o cenário nacional será levado em consideração na convenção do PCdoB em julho que oficializará as alianças do partido para as eleições municipais, mas outros aspectos também serão colocados na balança. “Faremos uma análise multilateral. Defenderemos o melhor caminho para realizar avanços no Recife”, diz.
O discurso de José Bertotti é o mesmo do vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB). Recentemente, em entrevista à coluna Pinga Fogo, o comunista disse que se sentia confortável ao lado do PSB na capital e que nenhuma ruptura estava na agenda. De acordo com Túlio Velho Barreto, a postura é apenas de conveniência. “Para o PCdoB significa manter-se em uma aliança que venceu as últimas eleições em Pernambuco e no Recife. Para o PSB, significa dar uma pincelada de verniz de esquerda a uma aliança de amplo espectro ideológico até onde isso for importante ou lhe trouxer algum benefício junto a uma parcela do eleitorado mais ideológico”, aponta.
Já a deputada federal e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, uma das que mais brigaram a favor de Dilma nos últimos dias em Brasília, também relativiza a postura dos comunistas em Pernambuco. “Somos aliados do PCdoB desde os tempos de Arraes. É por afinidade programática e histórica e a gente não pode perder isso de vista. Por isso, vamos insistir na relação com o PSB”, enfatiza.
BRIGA ENTRE PARTIDOS EM OLINDA - No Recife, a parceria entre PCdoB e PSB depende de alguns fatores como a manutenção de Luciano Siqueira na chapa de Geraldo Julio. Já em Olinda, a aliança há muito tempo foi rompida. O advogado Antonio Campos, irmão de Eduardo Campos e pré-candidato a prefeito da cidade pelo PSB, tem batido forte na gestão Renildo Calheiros (PCdoB) e não dá sinais de que vai parar.
Luciano Siqueira afirmou que a postura de Antonio Campos não era adequada já que os dois partidos são aliados no Estado. “Esperamos que em algum momento o PSB debata internamente e encontre um caminho mais civilizado”, disse o vice-prefeito.
A reivindicação de Luciano não deverá ser atendida. Em reserva, integrantes do próprio PSB afirmam que não há quem se sinta à vontade para regular o discurso de Antonio Campos, nem mesmo o governador Paulo Câmara. O advogado está blindado por sua relação familiar com Eduardo, Renata Campos e a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Arraes, e também por sua dedicação ao partido ao longo de inúmeras campanhas.
Com a relação com o PSB cada vez mais inviabilizada em Olinda, o PCdoB tem duas alternativas: lançar uma candidatura própria e a aposta seria Luciana Santos, que já foi prefeita da cidade, ou fazer uma aliança com o PT. Nesse caso, os petistas afirmam que não abrem mão da cabeça de chapa e a provável candidata será a deputada estadual Teresa Leitão.
Seja no Recife ou Olinda, o PCdoB torcerá para que o discurso no debate eleitoral fique restrito às demandas municipais. Se o impeachment de Dilma entrar na campanha, o partido precisará convencer o eleitor de que a política nacional é diferente da local.