A decisão do governador Paulo Câmara (PSB) de pedir para que DEM e PSDB devolvam os cargos que ocupam na administração estadual foi vista como um erro estratégico por aliados e adversários dos governistas. A avaliação feita nos bastidores é de que, devido à distância para as convenções partidárias, houve uma precipitação que pode colocar em risco a hegemonia socialista no Estado. O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), também foi criticado e é apontado como o responsável por uma pressão classificada de desnecessária em cima do governador.
Uma leitura comum feita em reserva é de que a postura do governo estadual inviabilizou a aliança com o DEM e o PSDB em um eventual segundo turno das eleições no Recife. Nos bastidores, a teoria é que tucanos e democratas colocariam sua estrutura a favor de Geraldo caso a disputa não se encerrasse no primeiro turno. Agora, sem qualquer ligação com o PSB no Estado, esses partidos estão totalmente desobrigados a apoiar os socialistas e tendem a se unir. Caso o PT vá para o segundo turno com o prefeito, a postura seria de neutralidade, o que também não gera benefícios aos governistas.
Em abril, falando em nome de Geraldo Julio, o secretário municipal de Governo e Participação Social e presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, declarou que o DEM deveria sair do governo estadual por ter lançado a candidatura da deputada estadual Priscila Krause à Prefeitura do Recife. Agora, a maior parte dos personagens políticos ouvidos pelo JC apontou que o governador sucumbiu à pressão do prefeito, que também não estava satisfeito com a parceria entre Paulo e os tucanos por conta da candidatura do deputado federal Daniel Coelho (PSDB) à PCR.
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A reportagem do JC procurou Sileno Guedes, mas não obteve retorno. Uma reunião da Executiva estadual do partido está agendada para a próxima semana e o assunto deve ser a pauta principal do encontro, já que muitos socialistas ficaram sem entender a jogada. Já dentro do Palácio do Campo das Princesas, um pequeno núcleo viu a decisão do governador como acertada. Mesmo esse grupo, porém, vê riscos na jogada. Um deles é o isolamento do PSB e a consequente antecipação do debate eleitoral de 2018 com a agora mais do que possível união entre DEM e PSDB.
Se afastar tucanos e democratas do Estado já resultaria em perdas políticas no futuro, a situação dos socialistas no Estado ficou mais grave com a nomeação de Mendonça Filho (DEM) e Bruno Araújo (PSDB) como ministros do presidente interino Michel Temer (PMDB). Ontem, o governador afirmou confiar no bom senso dos pernambucanos. “Eles sabem que questões políticas pontuais não vão interferir em um Pernambuco melhor que eles desejam”, afirmou.
A expectativa de Paulo pode se confirmar, mas o fato é que DEM e PSDB ganham impulso no Estado no mesmo momento em que começam a se descolar do PSB. “Se os prefeitos ou lideranças políticas quiserem falar com o ministro da Educação ou com o ministro das Cidades vão procurar o governador para ser interlocutor ou vão direto a líderes tucanos e democratas? A gente sabe como funciona a cabeça da maior parte dos prefeitos e a tendência é se apegar a quem tem o poder maior”, adverte, em reserva, um integrante da Frente Popular. Um outro político local, também sob anonimato, resumiu o sentimento com a jogada do PSB. “Faltou cabelo branco dentro do governo”, disse.
Nos bastidores, tucanos e democratas demonstraram bastante mal estar em relação a Geraldo Julio. Lideranças dos dois partidos dizem que, por pressão dele, Paulo Câmara pode ter dinamitado pontes com o governo Michel Temer. Quase todos elogiam o governador, mas fazem um alerta ao PSB. Acham que o partido está abrindo brechas que podem fazer falta em 2018.