A dois meses da votação definitiva do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) no Senado, prevista para agosto, 76,7% dos recifenses afirmam que não querem o retorno dela ao comando da Nação. Apesar de a petista ter tido na capital pernambucana um dos melhores desempenhos eleitorais no segundo turno em 2014 (70,2% dos votos válidos), a rejeição após os escândalos envolvendo a cúpula do seu partido e o alto escalão do governo federal ajudaram a derrubar a popularidade da mandatária petista no Estado. Os dados fazem parte do levantamento do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), feito em parceria com o Jornal do Commercio e o Portal Leia Já.
Mas se a situação de Dilma é ruim, o quadro não é muito confortável para o presidente interino Michel Temer (PMDB). Há um mês, o peemedebista está à frente do cargo e tem acumulando desgastes. Ao todo, já foram três ministros afastados desde que assumiu o governo. O motivo: terem sido citados em delações premiadas e a suspeita de estarem envolvidos no esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato. No mesmo período houve, inclusive, o pedido de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e do senador Romero Jucá (PMDB), que havia assumiu a pasta do Planejamento de Temer, mas foi exonerado após os escândalos.
As celeumas na montagem do governo e as denúncias contra os ministros culminaram para que a administração do interino fosse avaliada como ruim ou péssima por 36,9% dos entrevistados. Outros 35,4% avaliaram como regular e somente 9,3% disseram que ele tem feito uma “boa” gestão. A impopularidade de Temer já aparecia na pesquisa IPMN antes mesmo dele ter assumido o cargo. Em abril, o levantamento mostrou que 85,5% dos entrevistados disseram não confiar nele.
Em meio à onda de rejeição tanto a Dilma quanto a Temer, o que vem brotando cada vez mais forte entre o eleitorado é o desejo por novas eleições. Há, inclusive, um movimento de Dilma para viabilizar uma consulta popular sobre a realização de novas eleições caso ela retorne ao governo. Há uma leitura que as delações premiadas dos executivos da Odebrecht favorecem o clima de instabilidade e a aceitação da ideia no Senado. Isso porque o clima de instabilidade política no Brasil ainda é forte, conforme a pesquisa revela há uma descrença sobre a melhoria da situação no governo Temer. Somente 38,1% dos ouvidos afirmam que o governo do interino poderá ser melhor do que o da petista.
O professor e cientista político Adriano Oliveira, coordenador da pesquisa, explica que os números expressam a insatisfação com a forma como Dilma foi deposta, mas revelam também que não há uma simpatia por seu retorno.
“Isso mostra que não adianta o PT brigar, teimar e rodar o Brasil, porque os eleitores não querem mais a volta dela. É um paradoxo? Não. Eles estão expressando contrariedade com a forma como ocorreu o impeachment e com o Governo Temer, mas não significa que querem uma volta. Surge no meio público cada vez mais o pedido por novas eleições”, afirmou.
ECONOMIA
A percepção da crise econômica também é latente entre os recifenses. São 219 mil desempregados no Grande Recife, de acordo com um estudo da Secretaria de Trabalho, Qualificação e Emprego e da Agência Condepe/Fidem. Dos entrevistados, 78,8% compreendem a má fase da economia. A presidente afastada é apontada como principal algoz do cenário, com 27,3% das pessoas avaliando que ela é a culpada pela crise.
As entrevistas para o levantamento do IPMN foram realizadas nos dias 14 e 15 de junho. Ao todo, 624 pessoas foram ouvidas. Desse total, 55,6% são mulheres. A confiabilidade é de 95% e a margem de erro é quatro pontos percentuais.