A TV Câmara, da Câmara dos Deputados, lança, na noite desta sexta-feira (5), um documentário em homenagem ao ex-senador e ex vice-presidente da República Marco Maciel (veja um trecho do vídeo abaixo). A iniciativa não será a única a resgatar a memória do pernambucano de 76 anos que completa 50 anos de vida pública em 2016. Na próxima segunda-feira, a Assembleia Legislativa realiza uma sessão solene à noite com a participação de Anna Maria Maciel, esposa do político, e do advogado João Maurício, um dos filhos do casal.
"A sessão solene é um reconhecimento da liderança e do papel que Marco Antônio teve na política local e nacional. E é importante porque será realizada onde ele começou", diz Anna Maria, referindo-se ao primeiro mandato eletivo do marido na política, em 1966.
Cabe a Anna Maria comandar uma rede de cuidados em torno de Marco Maciel, que está acometido do Mal de Alzheimer e se afastou da política desde 2010, quando foi derrotado na eleição para o Senado daquele ano. Além do Senado e da vice-presidência da República, ele governou o Estado, foi ministro e deputado federal.
A proposta da sessão solene foi do presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa (PDT). A iniciativa também tem o apoio de outros parlamentares como Priscila Krause (DEM), Tony Gel (PMDB) e Joaquim Lira (PSD). A democrata, que se considera afilhada política de Maciel, falará em nome da família. "Essa homenagem tem um significado muito grande por conta dos 50 anos de vida pública que ele completa este ano", destaca.
Um dos responsáveis pela homenagem, Tony Gel diz que a sessão solene é necessária. "Um líder como Marco Maciel precisa sempre ser lembrado, mesmo fora de combate. Espero que o ato seja bastante prestigiado", fala.
O governador Paulo Câmara (PSB) estará em São Paulo de segunda e a quarta-feira da próxima semana e não participará da sessão. O vice-governador Raul Henry (PMDB) também deve estar fora do Estado, mas o governo enviará um representante à homenagem.
LEIA MAIS:
Marco Maciel completa 50 anos de vida pública cercado por "rede de cuidados"
Esposa de Marco Maciel comanda “rede de cuidado”
Aliados de Marco Maciel censuram postura de Lula
TRICOLOR DE CORAÇÃO
Um dia após o evento na Assembleia Legislativa, o Santa Cruz Futebol Clube, time de Marco Maciel, fará uma homenagem ao pernambucano. O responsável pelo ato é o ex-presidente do clube, João Caixero. "Vamos homenagear Maciel pelo tricolor que ele é e pelos serviços prestados ao Santa Cruz. Ele participou ativamente da história coral e nunca faltou ao clube, ajudando na ampliação do Arruda", enfatiza.
A homenagem realizada pelo Santa Cruz ocorrerá no anfiteatro localizado no estádio do Arruda e também terá a participação da esposa e do filho de Maciel. O evento começará às 9h da terça porque logo em seguida Anna Maria Maciel e João Maurício viajam de volta para Brasília.
De acordo com João Caixero, foram convidados dirigentes e torcedores de outros clubes do Recife, como o Sport e o Náutico, e do interior. "Ele tinha amigos em todos os lugares. Fora isso, a homenagem é ao tricolor e também ao pernambucano", relata.
Na ocasião, João Caixero lançará o livro "Santa Cruz de Corpo e Alma", publicação que conta a história do clube e tem passagens dedicadas a Marco Maciel.
DOCUMENTÁRIO
O documentário produzido pela TV Câmara foi intitulado 'Marco Maciel: a política do diálogo', tem 44 minutos de duração e ficará disponível no site www.camara.gov.br.
Para produzir o vídeo sobre Marco Maciel, os jornalistas da TV Câmara percorreram Brasília e as cidades do Recife e São Paulo. A maior parte dos documentários produzidos pela Câmara dos Deputados tem depoimento dos homenageados, mas devido ao estado de saúde do ex-senador pernambucano a equipe de documentaristas buscou reconstruir a história dele a partir do depoimento de amigos, familiares e políticos.
Entre os entrevistados, estão Anna Maria, que vive há mais de 50 anos com Marco Maciel, o ex-governador Gustavo Krause e o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, pernambucanos, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e o senador Cristovam Buarque. Assessores próximos a Marco Maciel, que trabalharam com ele por décadas, também dão depoimentos.
O documentário da TV Câmara foi intitulado Marco Maciel: a política do diálogo e tem direção e roteiro da jornalista Dulce Queiroz. A edição e finalização é de Felipe da Cunha e Guem Takenoushi. A produção foi de João Gollo e Lia Tavares. A direção de fotografia ficou a cargo de Kátia Coelho e as imagens são de Cícero Bezerra, Ulov Flamínio, Flávio Estevam e Claudio Adriano. A trila sonora orignal é de Alberto Valério. Toda a equipe atuou sob a coordenação do Núcleo de Documentários da TV Câmara, chefiado por Guga Caldas.
ARTICULADOR POLÍTICO
Marco Maciel é considerado pelos aliados como um político que se destaca na articulação política, gentileza no trato e ética com os recursos públicos. "Ele era um estadista. Poderia ser o primeiro-ministro porque trabalhava construindo pontes e tinha a chamada coragem da conciliação, mas era defensor do presidencialismo", afirma o ex-governador Gustavo Krause, afilhado político de Marco Maciel.
Para a presidente da Academia Pernambucana de Letras, Margarida Cantarelli, era fácil trabalhar com Marco Maciel. Ela fala sobre o período em que serviu ao amigo dos tempos da faculdade de Direito no governo estadual. "Ele só fazia duas operações: somar e multiplicar. Não era de impor nada e tinha enorme capacidade para agregar", atesta.
Os aliados de Maciel dizem que a gentileza do ex-senador era natural, fruto de um perfil que misturava erudição, respeito ao próximo e um forte senso de religiosidade. Ele sempe viajava com uma Bíblia nas mãos, rezava o terço nas primeiras horas de qualquer viagem e não perdia uma missa onde quer que estivesse.
Outra característica de Maciel enquanto foi atuante em Brasília oi Pernambuco era encarar a política de maneira profissional. Isso significava se indispor com o menor número possível de pessoas e somente se fosse inevitável para deixar o máximo de portas abertas.
"É comum na política que seja tudo para o aliado e nada para o adversário. Mas ele não era assim. Quando ia para um comício em alguma cidade, dizia que não podia deixar de acomodar as outras lideranças. Pensava em todos os detalhes. Era um político profissional nesse sentido", conta o secretário das Cidades de Pernambuco, André de Paula, outro afilhado político de Maciel.
De maneira prática, esse profissionalismo se manifestava nas respostas a lideranças políticas assinadas à mão, no envio de cartões de aniversário e Natal com mensagens pessoais e em outros gestos. "Quando perdi minha primeira eleição, ele me ligou e me deu uma palavra de conforto mesmo sem eu ser do partido dele", relembra André Régis (PSDB), hoje vereador do Rercife.
Os elogios vêm também de ex-adversários. "Ele fazia política de maneira elevada, não cometia agressões", enfatiza o senador Humberto Costa (PT), que venceu Maciel nas eleições de 2010.
LIGAÇÃO COM OS MILITARES
A ligação de Marco Maciel com os militares sempre foi usada por seus adversários como uma fote de críticas ao currículo macielista. Em 1977, quando o então presidente Ernesto Geisel fechou o Congresso com o chamado Pacote de Abril, Maciel era filiado à Arena e presidia a Câmara dos Deputados.
"É evidente que a iniciativa dos militares contou com a convivência ou mesmo o apoio dele", diz o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco.
Para os aliados de Maciel, é um erro apontá-lo como conservador devido à relação com os militares. "Ele era um liberal", diz Guilherme Codeceira, seu assessor por três décadas.
Ex-secretário estadual da Casa Civil quando Maciel governou Pernambuco, a desembargador e presidente da Academia Pernambucana de Letras, Margarida Cantarelli, também defende aliado. "Ele não estava contamiando pelo regime. Foi importante que tivesse alguém do ponto de vista moral dele para fazer a ponte com a sociedade', diz.
O ex-governador Gustavo Krause afirma que Maciel teve papel importante na redemocratização do Brasil e nas costuras políticas que levaram à escolha do civil Tancredo Neves para presidir o País. "Ele foi um artífice da democracia, principalmentenos momentos mais duros. Tinha capacidade de conviver com a divergência e sempre buscou consensos", podenra.
A declaração de Krause é reforçada pelo cientista político Túlio Velho Barreto. "Maciel teve um importante papel no processo da 'chamada 'transiççao pactuada', feita a partir de acordos entre os reformadores do regime militar e a oposição moderada", opina.
Para Túlio Velho Barreto, Marco Maciel soube aproveitar as chances surgidas durante o regime milita e em seguida teve habilidade e capacidade de articulação para se impulsionar politicamente. "Ele foi o mais importnate líder político da direita e dos segmentos conservadores em Pernambuco na segunda metada do século 20", avalia.