Não precisa ir muito longe em Olinda para ouvir críticas ao poder público. Saneamento, buracos, falta de ordenamento urbano são queixas recorrentes. Mas, se por um lado o descontentamento é alto, o apego à cidade, que é Patrimônio Histórico e Cultural, não fica para trás. Às vésperas do início oficial da campanha municipal, uma sondagem elaborada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), em parceria com o JC aponta que, mesmo com as críticas à falta de manutenção da cidade, 98,1% dos entrevistados afirmam que “gostam de morar na cidade” e outros 80,9% responderam que não têm vontade de mudar de município.
Não só em Olinda há essa relação de afeto com o município. A pesquisa englobou cinco localidades do Grande Recife (Recife, Olinda, Jaboatão, Paulista e Cabo) e a maioria dos entrevistados nestes municípios (91,2%) afirmou que gosta de morar nas respectivas cidades. E outros 72,3,% responderam que não tem intenção de mudar de cidade.
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No burburinho do Mercado de Peixinhos, em Olinda, a artesã Carmem Souza, 53 anos, reflete bem o perfil do levantamento. Moradora do bairro, ela conta que não se mudaria do local, mas a paixão pela cidade é marcada também por críticas. “Aqui é tudo de bom, é igual ao centro da cidade, porque tem muitos mercados, bancos por perto. O que está faltando é organização”, grifou. “Está muito desorganizado. Tudo mesmo”, lamentou.
“Olinda está um caos. Olha a quantidade de buracos. É preciso de quê para se fazer? Não temos mais nem o que dizer. Está todo mundo vendo tudo, ninguém é mais cego como há anos atrás”, cobra a auxiliar de enfermagem Rosângela Silva dos Santos, que trabalha em Olinda e mora em Paulista. “Não moro aqui, mas estou todo dia e sinto os problemas da cidade”, justifica.
Este ano, a cidade tem recorde de pré-candidatos concorrendo à prefeitura. Há, pelo menos, oito postulantes ao cargo. A expectativa é que a disputa vá para o segundo turno.
“Em Olinda, as pessoas gostam da cidade. Eles podem reprovar o gestor, mas gostam do município”, afirmou o professor e cientista político Adriano Oliveira, coordenador da pesquisa. “Temos um novo eleitor, que está mais intolerante aos maus feitos”.
PESQUISA
A pesquisa foi realizada entre os dias 25 e 26 de julho e o objetivo foi traçar a cultura política dos eleitores, com a proximidade do pleito. O nível estimado de confiança é de 95%, com margem de erro de 3,5 pontos percentuais. Ao todo, foram ouvidas 816 pessoas. Do total de entrevistados, 55,1% eram mulheres e 44,9% homens, sendo 25,4% com idades entre 45 e 59 anos; 23,2% de 25 a 34 anos; e 21% de 35 a 44 anos.
DEMANDAS
No primeiro dia da pesquisa, os eleitores mandaram um recado aos postulantes dos cargos. Para 27% dos entrevistados, as propostas são o fator principal na hora do voto. Em segundo lugar aparece o quesito “honestidade”, com 9,9%. No entanto, um grande número das pessoas ouvidas (27,6%) disse não saber o que lhe motivava a votar num candidato a prefeito ou preferiram não responder a pergunta.
“Eles (os eleitores) não mais se interessam por aquele marketing político da ‘espetacularização’. O que querem, na verdade, é que os candidatos sejam objetivos e, acima de tudo, verdadeiros e lidem com os problemas deles no dia a dia”, explicou professor Adriano Oliveira, coordenador da pesquisa.