Miguel Arraes chegou à prefeitura do Recife com o apoio de Pelópidas da Silveira e da Frente do Recife. A escolha de Arraes como candidato a prefeito ocorreu em meio a um tumultado ambiente político. Isso porque, mesmo na cadeira de chefe do Executivo municipal, Pelópidas foi candidato a vice-governador na chapa de Cid Sampaio, que encabeçava a coligação UDN/PSB/PTB/PSP/PTN. Cid venceu a eleição, mas Pelópidas não queria deixar a prefeitura para evitar que Vieira de Menezes, vice-prefeito e seu adversário, assumisse a cidade. O engenheiro só foi para a vice-governadoria com a vitória de Arraes, que teve Arthur Lima Cavalcanti como vice-prefeito.
De acordo com informações do TRE-PE, Arraes recebeu 82.812 votos, sendo eleito por uma chapa composta pelo PSB, PST e por uma ala dissidente do PSD. O segundo colocado foi Antônio Alves Pereira (PRT-PTB), com 57.331 votos. A disputa ainda contou com Ernane Seve (PR), que angariou 6.285 votos. Houve 5.277 votos em branco e 6.824 votos nulos. “Arraes não queria ser candidato porque tinha sido derrotado para deputado estadual (em 1958), mas venceu. Foi uma transição pacífica, pois Arraes não tinha grandes divergências com Pelópidas”, afirma José Arlindo Soares.
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A campanha eleitoral foi relativamente tranquila. “Ela era feita por comícios porque não havia a propaganda eleitoral gratuita. A esquerda tinha muita penetração em organizações sociais, sindicatos e nas ligas de bairros e quem tinha capacidade de chegar a um bairro por meio de associações tinha uma boa vantagem. Os comícios eram mobilizados pelos sindicatos”, explica o sociólogo.
Além do apoio de setores da Igreja e de sindicatos, Arraes teve o governador como cabo eleitoral. “No primeiro momento, Cid Sampaio apoiou fortemente Arraes. Ele dizia: ‘recifenses, não me cortem os braços. Não deixem de eleger Arraes prefeito do Recife’”, conta o estudioso.
Iniciada em 1960, a administração Arraes durou apenas dois anos porque ele decidiu concorrer ao governo estadual (venceu a disputa com 47,98% dos votos). “Todos os estudos falam de Arraes só como governador e não como prefeito, mas ele foi um prefeito incrível. Fez ações de urbanizações nos morros, deu continuidade à CTU e conseguiu aprovar o Código de Obras do município, que Pelópidas não havia conseguido aprovar. Esse código é um dos grandes estatutos legais que o Recife tem”, pontua a arquiteta Vírginia Pontual.
Na avaliação dela, a administração do Recife foi um laboratório para Arraes. “Ele preparou o governo dele no Estado no período em que foi prefeito e realizou um plano (de governo) que não tratava só do Recife porque dizia que você não resolvia as questão da cidade sem fazer a reforma agrária. Como prefeito, tinha uma compreensão do Estado”, destaca.
Após um breve período com Liberato Costa Junior no comando do Executivo municipal, a frente de esquerda teve dificuldades para chegar ao poder e a aposta para retomar a prefeitura foi em um ex-gestor bem avaliado. Por isso, Pelópidas se candidatou novamente em 1963.
De acordo com Virgínia Pontual, Pelópidas tentou imprimir a mesma marca das gestões anteriores, mas não teve tempo hábil para grandes realizações já que foi cassado em 1964 com o início da Ditadura Militar. “A terceira gestão dele foi muito breve. Quando Pelópidas sai da prefeitura, os problemas políticos são de tal monta que ele sai muito decepcionado”, resume.