Memória política

Pelópidas e Arraes mudam o Recife com obras e participação popular

Ex-prefeitos da capital, eles governaram o Recife de 1956 até o início da ditadura e marcaram época na capital pernambucana

Franco Benites
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Franco Benites
Publicado em 15/08/2016 às 6:00
Foto: Severino Fragoso/Museu da Cidade do Recife
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Pelópidas Silveira é tido como referência administrativa por ter marcado o Recife com obras de infrestrutura. Com a abertura de avenidas, pavimentação de ruas e execução de serviços nos subúrbios da cidade, ele colocou a capital em outro patamar. “Ele era um engenheiro urbanista e começou a ligar o centro às periferias. Fez o Recife deixar de ser província para pensar como capital”, destaca o sociólogo José Arlindo Soares.

A arquiteta Virgínia Pontual detalha as ações de Pelópidas. “Temos a abertura e pavimentação da Avenida Caxangá e da Avenida Norte, a abertura de parte da Avenida Dantas Barreto, o alargamento da Avenida Conde da Boa Vista, a construção do canal Derby-Tacaruna e a abertura da ligação entre os bairros de Casa Amarela e Beberibe. Ele se dedicou a obras e serviços públicos nos subúrbios com intervenção em córregos, canais, galerias, pontes e praças. Desapropriou e criou o Sítio da Trindade, trabalhou com a legislação urbanística e fez a reforma do Código Tributário”, lista.

Sucessor de Pelópidas, Arraes finalizou a abertura das Av. Norte e Conde da Boa Vista, pavimentou vias e melhorou o esgotamento sanitário nos subúrbios.

Outra ação que englobou as duas gestões foi a criação e implementação da Companhia de Transportes Urbanos (CTU), que veio ocupar o espaço da frota de bondes que circulava pelo Recife. A empresa foi fundada em 1957, na gestão de Pelópidas Silveira, mas os ônibus elétricos, que propiciaram o fim da operações dos bondes e garantiam modernidade à cidade, começaram a operar no governo Arraes. Hoje, a página Trólebus/ônibus elétricos do Recife, no Facebook, guarda registros desses veículos. 

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Para Virginia Pontual, a criação da CTU exemplifica o quanto o Recife avançou sob as administrações de Pelópidas e Arraes. “Pelópidas fez um plano de expansão da cidade e o plano viário. Ele investiu nos ônibus elétricos embora quem tenha colocado de fato nas ruas foi Arraes. Os ônibus chegaram ao Recife na gestão de Pelópidas, mas não podiam operar porque não tinham a liberação. Mas foi ele que fez toda a preparação e concepção do transporte elétrico, uma ação inovadora para aquele momento”, explica. 

Foto: Severino Fragoso/Museu da Cidade do Recife
Audiência do Prefeito Pelopidas na Bomba do Hemeteiro - Foto: Severino Fragoso/Museu da Cidade do Recife
Foto: Mário de Carvalho/Museu da Cidade do Recife
Inauguração da Av. Sul pelo Prefeito Miguel Arraes (30.09.1960) - Foto: Mário de Carvalho/Museu da Cidade do Recife
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Inauguração do Chafariz da Mangueira na administração de Miguel Arraes (16.12.1961) - Foto: Mário de Carvalho/Museu da Cidade do Recife
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Inauguração de Escolas Municipais em Santo Amaro - Foto: Mário de Carvalho/Museu da Cidade do Recife
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Inauguração de escolas em Água Fria (19.06.1960) - Foto: Mário de Carvalho/Museu da Cidade do Recife
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Inauguração da Av. Sul, trecho entre Cabanga e a Ponte de Afogados na administração de Miguel Arraes - Foto: Mário de Carvalho/Museu da Cidade do Recife
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Miguel Arraes em inauguração de Escolas Municipais em Santo Amaro (01.05.1960) - Foto: Mário de Carvalho/Museu da Cidade do Recife

PARTICIPAÇÃO POPULAR, EDUCAÇÃO E CULTURA

As chamadas “obras de pedra e cal” de Pelópidas e Arraes foram importantes para o Recife, mas eles se destacam também por agir para legitimar a inclusão política, social e cultural dos recifenses. Pelópidas investiu nas associações de bairro como forma de criar um canal entre a prefeitura e a população. “A grande transformação foi a forma de administrar. Ele passou a reconhecer a cidade não-formal. Dirigiu-se aos bairros e iniciou a consulta popular a partir de audiências públicas nos bairros e, às vezes, de forma centralizada no Teatro Santo Isabel”, informa José Arlindo.

O sociólogo pontua que Pelópidas deu origem aos programas de participação popular usados nas últimas décadas, como o Prefeitura nos Bairros (gestão Jarbas Vasconcelos), Orçamento Participativo (governos João Paulo e João da Costa) e Recife Participa (Geraldo Julio) .

Já o governo Arraes se destacou pela implantação do Movimento de Cultura Popular (MCP), uma iniciativa que agregou artistas, intelectuais e acadêmicos com o propósito de transformar a estrutura da educação municipal. “Em 1957 e 1959, o Recife tinha três escolas. Não havia sistema de educação para o povo. Então, com o MCP, começa-se a fazer escola no fundo da igreja, ligas de dominó e clubes de futebol. O povo cedeu o seu espaço para a criação das escolas populares. Era uma cooperação muito grande. A prefeitura colocava algumas cadeiras e voluntários chegavam para ensinar a ler e escrever”, informa o professor de História Severino Vicente.

O MCP, criado no dia 13 de maio de 1960, abriu para o mundo o modo de alfabetizar do educador Paulo Freire, mas o projeto não se restringiu à alfabetização de crianças e adultos ou ao ensino formal e promoveu atividades ligadas às artes cênicas e plásticas, música e dança, rádio e esportes. Do projeto, participaram nomes como o escritor Ariano Suassuna, o teatrólogo Hermilo Borba Filho e o artista plástico Abelardo da Hora. Em seu livro Arraes, publicado em 2007, a jornalista Tereza Rozowykwiat, aponta que o MCP criou 201 escolas, com 626 turmas. “O governo Arraes deu ênfase muito grande às áreas de Cultura e Educação, sobretudo à educação nas periferias. Ele criou voluntários para alfabetizar”, complementa José Arlindo Soares.

Apesar dos avanços conquistados, o MCP recebia críticas da imprensa e de setores da oposição tendo como pano de fundo as eleições para o governo estadual em 1962. Em 1964, com o início da Ditadura Militar, o movimento foi extinto. “Foi um programa essencial e muito importante para o Recife”, defende o ex-prefeito de Olinda, Germano Coelho, um dos idealizadores do MCP junto com Arraes.

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