Combate à corrupção

'Com ou sem Dilma, não muda nada na Lava Jato', diz Deltan Dallagnol

Coordenador da força-tarefa da Lava, Deltan Dallagnol assinalou ainda que corrupção não é exclusividade de um único partido e negou partidarismo da investigação

Franco Benites
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Publicado em 27/08/2016 às 17:44
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Coordenador da força-tarefa da Lava, Deltan Dallagnol assinalou ainda que corrupção não é exclusividade de um único partido e negou partidarismo da investigação - FOTO: Guga Matos/JC Imagem
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Durante passagem pelo Recife, o procurador do Ministério Público Federal (MPF) e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, rebateu as especulações feitas por aliados da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Lula (PT) que a investigação seja parcial. Ele também falou que o provável afastamento de Dilma da presidência da República por impeachment não vai afetar a Lava Jato.

"Com ou sem Dilma, para nós não muda nada. A crítica de partidarismo da Lava Jato não faz sentido nenhum. Ela é uma conspiração. Temos 11 procuradores da República na primeira instância, temos uma equipe de 50 pessoas atuando no Ministério Público, todas sem qualquer histórico de vinculação político-partidária. Pessoas que se saírem da linha podem ter a cabeça cortada pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Você tem outra equipe de 40 servidores públicos, todos concursados da Polícia Federal. Tem outra equipe da Receita Federal, tem juízes da primeira à última instância. Na primeira instância, juízes concursados. Na última instância, juízes que foram escolhidos pelo próprio partido do poder (PT). Ou seja, juízes que se fossem atuar de modo ilegal atuariam para favorecer o partido que os colocou lá e não para contrariar o partido. Você dizer que essas equipe todas, de diferentes origens, se uniram para fazer o mal e injustiças é costruir uma teoria da conspiração que não faz sentido nenhum", afirmou.

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Deltan Dallagnol disse que há uma explicação coerente para a Lava Jato atingir, em sua maioria, pesoas ligadas às gestões Dilma e Lula.

"Por que a Lava Jato atingiu mais os partidos da base aliada? Porque quem esteve no governo nos últimos 14 anos foi um partido político e partidos que se aliaram a ele. Não tem como você encontrar em um cargo de alta relevância uma pessoa da oposição porque o governo não ia nomear para esses cargos uma pessoa da oposição. Na Petrobras e nesses órgãos públicos federais, você só encontra corrupção de pessoas vinculadas ao partido que estava no poder. Por que não volta (a investigação) para antes de 2002? Porque está tudo prescrito. Nós, inclusive, com as 10 medidas contra a corrupção, queremos mudar o sistema de prescrição porque é um sistema muito leniente com os criminosos. Queremos dificultar a prescrição, mas hoje, na prática, o que aconteceu antes de 2002 está prescrito. Também é difícil de investigar porque passou muito tempo, testemunhas esquecem o que aconteceu, não existem mais registros bancários, que são guardados por sete anos aproximadamente, não existem mais registros fiscais, que são guardados por cinco anos", afirmou.

Temos um sistema político que é criminógeno, de caras campanhas eleitorais, de grande demanda por financiamento e caixa 2

Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato

 

O procurador do MPF ressaltou, no entanto, que a Lava Jato, cada vez mais, deve chegar a partidos que não integravam os governos do PT.

"Com algumas colaborações novas de pessoas e empresas que realizaram obras em outros governos, está se chegando a provas em relação a alguns outros partidos. Conforme se cheguem essas provas, essas pessoas vão ser investigadas como qualquer outra. Se houver provas consistentes, essas pessoas vão ser acusadas criminalmente como qualquer outra. Não temos nenhum interesse ou razão para buscar beneficiar ou prejudicar qualquer pessoa. O único inimigo que nós temos é a corrupção. Essa disputa só tem um lado certo, que é o lado da justiça e da sociedade. O País saiu de uma polarização política que não ajuda a ninguém. Existe uma disputa em torno da Lava Jato e ela é usada por uma lado para atingir o outro e vice-versa. O que a gente produz é um conhecimento técnico, imparcial e apartidário. A politização do discurso só prejudica a nossa atuação", disse.

DILMA, LULA E MALUF

Deltan Dallagnol passou pelo Recife para falar sobre o projeto 10 medidas contra a corrupção que está sendo debatido na Câmara dos Deputados. "Vivemos em uma sociedade desprotegida em relação à corrupção. Não temos muros contra a corrupção. Pelo contrário. As condições no Brasil favorecem a corrupção. Duas condições centrais para isso são a impunidade e falhas no nosso sistema político", afirmou.

No evento em que esteve neste sábado, ele foi questionado sobre corrupção e a ligação do tema com a presidente Dilma, o ex-presidente e o deputado Paulo Maluf (PP-SP) e deu respostas diversas sobre o assunto.

"A corrupção é sistêmica. Não é problema de um governo, partido ou pessoas específicas. Temos um sistema político que é criminógeno, de caras campanhas eleitorais, de grande demanda por financiamento e caixa 2. Dilma e Renan não estão em minha área de atuação e não posso me manifestar em relação a isso. Sobre o caso de Lula, estamos trabalhando para formar a nossa convicção. Por princípio a gente não fala sobre o que vai fazer, mas sobre o que fez eu não posso dizer o que vamos fazer. Vou me reservar ao meu direito constitucional e permanecer em silêncio. Se Maluf sair do Brasil, ele é preso. Aqui, ele vai morrer sem ser preso", declarou.

O procurador afirmou que o foro privilegiado é importante, mas que há uma deturpação dessa medida no Brasil. "Mais de 20 mil pessoas tem foro privilegiado no Brasil. É errado. Eu tenho foro privilegiado e não preciso", disse.

Bastanta assediado durante o evento e procurado pela mídia em todo o Brasil, Deltan Dallagnol procurou afastar qualquer traço de vaiadade em relação a sua atuação. "Eu tenho uma visibilidade passageira. Não tenho poder econômico, não tenho poder político. Sou um técnico. Por circunstâncias que não controlo estou no momento em um cargo relevante que dá uma certa visibilidade", disse.

O procurador afirmou que a sociedade brasileira precisa ser mais ativa para combater a corrupção e criticou aqueles que ligam os problemas atuais à forma como se deu a criação do País. "Os portugueses já saíram daqui há 200 anos. A colonização já passou há séculos. Precisamos deixar a posição de vítimas do nosso passado para assumir as rédes da nossa história", reforçou, citando números preocupantes para o Brasil.

"Temos um ranking de corrupção feito pela Transparência Internacional em que o Brasil está na posição 76 em uma fila que podemos chamar de fila da honestidade. A nossa nota de 0 a 100 é 38. Quanto melhor a nota, melhor o combate à corrupção. A nossa nota está abaixo do crítico. Uma nota inferior a 5 parece que o País está em crise no combate à corrupção. Os países mais desenvolvidos são os que têm um baixo índice de corrupção. Não tem como evoluirmos se não reduzirmos os índices de corrupção", finalizou.

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