Eleições 2016

Só 30% dos candidatos a vereador do Recife são mulheres

Dos registros deferidos pelo TRE até o momento, 235 são do sexo feminino

Veronica Almeida
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Veronica Almeida
Publicado em 04/09/2016 às 10:22
Ricardo Labastier/ JC Imagem
Dos registros deferidos pelo TRE até o momento, 235 são do sexo feminino - FOTO: Ricardo Labastier/ JC Imagem
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Duzentas e trinta e cinco mulheres estão disputando, este ano, as 39 vagas para vereador do Recife. O número ainda não é definitivo, refere-se às consideradas aptas, até o momento, pela Justiça Eleitoral. A quantidade equivale a 30% dos 778 que tiveram o registro deferido, exatamente a quota mínima exigida de cada partido ou coligação pela legislação. E mesmo que as candidatas somem muitos votos no dia 2 de outubro, a matemática eleitoral pode deixar algumas delas fora do páreo. Na última eleição, só 15% das cadeiras (seis) da Câmara foram ocupadas por parlamentares do sexo feminino.

A contabilista e estudante de direito Marli Maravilha, 54 anos, e a médica e advogada Renê Patriota, 60, candidatas pela mesma sigla (Partido Verde), têm em comum mais que isso. Já são veteranas em concorrer ao Legislativo e não conseguem a vaga. “Em 2008, quando concorri pela primeira vez a vereadora, conquistei três mil votos e fiquei na terceira suplência, mas não entrei”, lembra Renê. Em 2010 conseguiu quase 125 mil votos como candidata a senadora e, dois anos seguintes, com 4.500 chegou à primeira suplência da Câmara de Vereadores, mas também viu o sonho do mandato ir embora. 

Segundo Renê, em todas as disputas lidou com dificuldades, da falta de financiamento à necessidade de conciliar atividades profissionais e as típicas do mundo feminino. Além de brigar por espaço nos partidos é preciso driblar a cultura da sociedade, na opinião dela. “Uma mulher me disse outro dia que eu não precisava entrar nisso (na política)”, conta Renê, lembrando o conceito negativo que a atividade política ganhou por causa da corrupção. 

Marli, que fundou em 1992 e preside a associação de mães solteiras, apoiando outras mulheres na luta pelo reconhecimento de paternidade dos filhos e acesso a creche, participou de outras duas eleições e confessa: “É muito difícil conciliar a agenda de candidata com todas as outras que temos. Quando um homem se candidata, a família o apoia. Quando é a mulher, ela permanece com todas as responsabilidades domésticas”. 

Marli acorda às 5h e vai dormir perto da meia-noite. Frequenta a faculdade, dedica-se aos projetos sociais e sai em busca de votos. Entre um e outro compromisso, lava roupa, faz comida, limpa a casa. “Metade das vagas da Câmara ser reservada às mulheres”, diz.

Pesquisa mostra 74% das mulheres têm algum interesse por política

Uma pesquisa sobre Demandas Femininas no Cenário Eleitoral, realizada pelo Instituto Locomotiva e divulgada em São Paulo, em seminário promovido pelo Instituto Patrícia Galvão, mostra que 68% das brasileiras reclamam da falta de tempo. De acordo com o estudo que ouviu 1.800 mulheres em todo o Brasil este ano, 98% das que exercem uma atividade profissional também cuidam da casa. Embora 74% delas tenham algum grau de interesse pela política e a maioria não se sinta representada pelos que cumprem mandato, convencê-las a se candidatar depende de reforma política e também de uma jornada mais leve. A oferta de serviços públicos poderia facilitar. Uma mulher que não dispõe de creche nem de serviços de saúde perto de casa, tem menos tempo para se dedicar à política.

Fora isso, ainda é preciso romper preconceitos. Uma das representantes do movimento de mulheres negras de Pernambuco, Vera Baroni, 71, lembra que foi chamada de lésbica quando atuou na militância sindical. Chegou a se candidatar a vereadora pelo PT em 1988, obteve 10 mil votos mas não conseguiu a vaga. Depois tentou ser deputada estadual em 2002 e mais uma vez não venceu, embora durante quase toda a sua vida tenha estado em espaços de discussão política e de mobilização social. “Preferi contribuir na base da sociedade”, diz, defendendo como saída a reforma política, com o financiamento público das campanhas”.

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