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Pauta conservadora em alta na maioria das mulheres da Câmara do Recife

As duas vereadoras mais votadas na cidade foram eleitas com a força do eleitorado evangélico

Edson Mota
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Edson Mota
Publicado em 04/10/2016 às 9:55
Foto: Divulgação/Câmara do Recife
As duas vereadoras mais votadas na cidade foram eleitas com a força do eleitorado evangélico - FOTO: Foto: Divulgação/Câmara do Recife
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Discussões sobre empoderamento feminino e políticas públicas voltadas para a defesa da mulher estão cada vez mais na pauta da sociedade civil, por meio de ONGs e movimentos sociais, mas no Legislativo municipal a representatividade ainda é baixa. Dos 39 vereadores eleitos para assumir uma cadeira na Casa de José Mariano na nova legislatura, somente seis são mulheres (15,3%). Quatro delas, no entanto, foram eleitas pela força do segmento evangélico, sendo duas delas, Michele Collins (PP) e Irmã Aimée Carvalho (PSB), com eleitorado quase que exclusivamente ligado à religião.

Também não houve alteração no número de assentos femininos em relação a 2012. A quantidade de vereadoras eleitas este ano é a mesma de quatro anos atrás.

Vereadora mais votada no Recife, a Missionária Michele Collins sempre intitulou-se durante o mandato como a "defensora da família". Ontem, na Câmara, Michele fez questão de reiterar isso, ao agradecer aos eleitores pelo sucesso nas urnas. "Quero reafirmar meu compromisso de trabalhar em defesa da família e da vida", disse. Apesar de ratificar que a sua presença deixou de ser apenas a de um segmento, os números do seu trabalho na atual legislatura mostram o contrário. Dos seus 130 projetos de lei, apenas dois tratam de algum assunto ligado ao público feminino (criação do dia da mulher e sobre o programa de apoio às mulheres vítimas de violência).

Em contrapartida, criou projetos voltados, exclusivamente, ao público religioso, como o Dia Municipal do Círculo de Oração. Sua candidatura também foi marcada por trabalhos visando a recuperação de usuários de drogas, trabalho esse em conjunto com o seu marido, o deputado estadual Pastor Cleiton Collins (PP).

A segunda vereadora mais votada, Irmã Aimée Carvalho, segue na mesma linha. Também ligada ao segmento evangélico, Aimée apresentou 44 projetos durante a legislatura. A maioria com forte teor religioso, como a instituição dos dias municipais do pastor evangélico e da música evangélica, além de propor a disponibilização de bíblias nas bibliotecas do município.

Ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, a nova vereadora Professora Ana Lúcia (PRB) vem para substituir o atual vereadora Alfredo Santana (PRB) na Casa. No entanto, em sua página no Facebook, ela faz questão de afirmar que sua linha é pela educação. Uma das principais propostas, segundo ela, é a de "lutar por melhores condições de trabalho a todos da Rede Municipal de Ensino".

Com 24 anos, Natalia de Menudo (PSB) será uma das vereadoras mais jovens na Câmara. É também ligada a uma igreja evangélica — única com laços com a Igreja Batista. Mas Natalia rechaçou a tese de uma criação de uma bancada evangélica na Casa. "Respeito todas as religiões. E, normalmente, a bancada evangélica vai de encontro aos interesses dos homossexuais ou de outras religiões. Não estou lá por uma religião, até porque não foram só os evangélicos que me elegeram", conta. Natalia é filha do vereador Estefano Menudo (PSB), que foi condenado a oito anos por formação de quadrilha, tortura e concussão.

As vereadoras que não estão ligadas ao segmento religioso são Marília Arraes (PT) e Aline Mariano (PMDB). Neta do ex-governador Miguel Arraes (PSB), Marília saiu do PSB e foi alçar voos no Partido dos Trabalhadores, alcançando o sexto lugar na contagem geral.

Já Aline Mariano, durante a legislatura, saiu surpreendemente da liderança da oposiçãoa Geraldo Julio para se tornar uma das vereadoras que mais defendem o legado do socialista no Recife.

Análise

Para a socióloga Adriana Mota, do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, o número de mulheres no Legislativo ainda é muito inexpressivo na política nacional. "Em comparação com os homens, a desigualdade ainda é muito grande. Os partidos políticos precisam repensar sua maneira de se organizar para as eleições", afirma.

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