Preterida pelo PSB, seu antigo partido, e abrigada no ninho tucano às vésperas de lançar candidatura, a deputada estadual Raquel Lyra (PSDB), 37 anos, está entrando para a história de Caruaru não só por ter se tornado a primeira prefeita eleita da maior cidade do interior pernambucano, quarto colégio eleitoral. De uma só vez derrotou o adversário político da família Lyra – Tony Gel (PMDB), o mais cotado nas pesquisas do segundo turno –, o governador Paulo Câmara (PSB) e o atual prefeito José Queiroz (PDT), que lhe negou apoio e só no último mês voltou a ser aliado.
Raquel conquistou 53,15% dos votos válidos, enquanto Tony Gel obteve 46,85%. Teve a preferência de 93.803 caruaruenses, uma diferença de 11.124 votos, a menor dentre as demais disputas de segundo turno ocorridas em Pernambuco ontem. Conseguiu mais do que duplicar a votação do primeiro turno, quando foi escolhida por 44.776 eleitores e obteve apenas 3.674 votos a mais do que o terceiro colocado, o delegado Lessa (PR).
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“Quero agradecer a solidariedade e a esperança que o povo depositou em nosso projeto de renovação política e de gestão participativa”, disse Raquel, ao discursar logo depois do encerramento da apuração. E, diante da cidade dividida, tratou logo de lembrar: “Serei prefeita de todos os caruaruenses. Não vamos distinguir cores partidárias”. A 26ª mulher eleita prefeita este ano no Estado reconhece que o seu trabalho vai ser muito mais pesado quando tomar posse do que foi durante a campanha. Prometeu agir da periferia à zona rural, ouvindo as pessoas e buscando a união.
Para o analista político Arnaldo Dantas, estudioso da região, embora a diferença entre Raquel e o ex-prefeito Tony Gel tenha sido de 11.124 num universo de 176 mil votos válidos, ela ganha com força por tudo que superou. “Faltando três dias para fechar a janela partidária, ela teve que mudar de partido. Iniciou a campanha com apoio de um vereador e ainda tinha três concorrentes fortes no primeiro turno”, observa. Além de Tony Gel e de Lessa, havia o vice-prefeito Jorge Gomes (PSB), apoiado por Queiroz e por Paulo Câmara.
A experiência política do pai, ex-governador João Lyra Neto, o apoio do senador Armando Monteiro Neto (PTB) e a proposta da candidata acabaram mudando o cenário e aglutinando mais forças, principalmente quando ela chegou ao segundo turno. Numa das últimas caminhadas, Raquel teve ao seu lado nomes do PSDB como o ministro das Cidades, Bruno Araújo, o prefeito do Cabo, Elias Gomes, o filho dele, deputado federal Betinho Gomes, e Daniel Coelho. A ela também se juntaram a deputada Priscila Krause (DEM) e Luciano Vasquez, vice-presidente estadual do PSB.
“Raquel venceu também por mérito próprio. O persistir a tornou mais forte perante o eleitorado”, avalia o cientista político Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco. Para ele, a sigla nova, o PSDB, contou pouco para isso. “É rarefeito, até mesmo no Recife”.
João Lyra se fortalece e Paulo Câmara soma mais uma derrota
Num discurso emocionado na noite de ontem, ao lado da filha Raquel, o ex-governador João Lyra Neto (PSDB) disse estar sentindo o que o pai, também ex-prefeito de Caruaru – João Lyra Filho – viveu em 1988. Naquela época, Lyra Neto vencia a disputa para governar o município. “Ele venceu por 80 votos de diferença numa apuração que demorou 15 dias”, lembra o analista político Arnaldo Dantas, que participou ontem à noite de debate na Rádio Jornal de Caruaru. O adversário, na época, era o jovem radialista Tony Gel (PTB).
Assim como a prefeita eleita, seu pai é vitorioso mais uma vez. “Por oito anos, a hegemonia da Frente Popular esteve nas mãos de José Queiroz. Agora, ela passa às mãos de Lyra”, comenta Dantas. “O poder de João Lyra Neto se fortalece no Agreste”, avalia também o cientista político Michel Zaidan, da UFPE. Para os dois especialistas, a vitória de Raquel cria melhores perspectivas para o ex-governador em 2018. O senador Armando Monteiro Neto (PTB), com intenções na disputa pelo governo do Estado, também se beneficia do apoio ofertado a Raquel.
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O cenário só não é interessante para o governador Paulo Câmara, que apoiou inicialmente Jorge Gomes (PSB) e depois optou por Tony Gel (PMDB), criando um racha no partido. O vice-presidente estadual do PSB, Luciano Vasquez, deu apoio à Raquel, assim como fez o próprio Jorge Gomes, derrotado no primeiro turno. “Câmara perdeu um espaço importante no Agreste, além das derrotas em Olinda e Jaboatão, no Grande Recife”, observa Zaidan.
No discurso de ontem, João Lyra elogiou José Queiroz (PDT) e o filho dele, deputado federal Wolney Queiroz (PDT), pelo apoio, ao final da campanha, a Raquel. Mas não poupou crítica a antigos aliados do poder estadual . “O povo de Caruaru soube enfrentar todo o tipo de pressão, abuso do governo estadual”, disse, retomando a crítica feita antes em entrevista à Rádio Jornal.
Tony Gel
O candidato derrotado na eleição de Caruaru, o ex-prefeito e deputado estadual Tony Gel (PMDB), considerou uma surpresa o resultado. “Mas não posso tirar o mérito da vencedora. Respeito a vontade do povo. Foi um banquete democrático”, disse no meio da noite à Rádio Jornal de Caruaru. Ele deu os parabéns a Raquel Lyra e disse desejar que ela cumpra com as promessas de campanha.
Pediu que a militância deixasse as ruas para que os seguidores de Raquel pudessem fazer a festa. Segundo a imprensa local, no início da noite, eleitores de Tony Gel chegaram a fazer uma comemoração no endereço do candidato, mas suspenderam assim que os rumos da apuração foram apontando para outro resultado. No início, Tony Gel liderava. Aos 3% apurados, ele aparecia com com 51,86% e Raquel com 48,14%. Quando a contagem se aproximava dos 10%, o quadro se invertia. Ela passou à dianteira, com 50% e Gel, com 49%. Daí, manteve-se até o final, aumentando a margem. Às 18h38 estava encerrado. Gel somou a mais, no segundo turno, 18.982 votos. Cresceu menos que a adversária.
Embora saia derrotado do pleito, ainda mantém-se forte na região. “A zona rural me deu uma bela vitória”, avaliou. Analistas acreditam que o ex-prefeito reeleito na década passada tem condições de concorrer, em 2018, a mais um mandato de deputado estadual ou até mesmo arriscar uma vaga na Câmara Federal.