CIDADES DE PERNAMBUCO

Gargalos do polo de confecção

O Cidades de Pernambuco mostra os problemas que cercam o polo de confecção, maior impulsionador do desenvolvimento da região Nordeste

Anna Tenório e Mirella Araújo
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Anna Tenório e Mirella Araújo
Publicado em 16/09/2019 às 14:19
Filipe Jordão / JC Imagem
FOTO: Filipe Jordão / JC Imagem
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A vocação empreendedora do segmento têxtil que impulsiona o Agreste do Estado movimenta mais de R$ 5,6 bilhões por ano em negócios, de acordo com a consultoria IEMI – Inteligência de Mercado. No entanto, para resistir à recessão econômica e se adaptar às transformações mercadológicas do setor, também é necessário olhar os gargalos que cerca este grande polo de confecções.
O Cidades de Pernambuco deste domingo (15) traz relatos sobre as dificuldades enfrentadas por quem cresceu com apenas uma perspectiva: o de trabalhar no ramo da confecção. Os problemas mais comuns vão além da questão da empregabilidade. Os municípios de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru – principais gestores dessa cadeia produtiva – apontam questões como a falta d’água, insegurança, baixos investimentos na área de educação e na capacitação profissional e precariedade em termos de infraestrutura rodoviária, como grandes implicadores no desenvolvimento sustentável da região.
“A falta de abastecimento d’água é muito séria. Há 15 dias foi anunciado um novo racionamento. São dez dias para chegar água e apenas alguns bairros a recebem pelo sistema tradicional, outros precisam ser abastecido por carros pipas”, relatou o gerente-geral do Moda Center, em Santa Cruz, George Pinto.

O empreendimento é o maior centro atacadista do Brasil. Dos produtos comercializados lá, 93% são produzidos em Pernambuco; 4,10% na Paraíba; 1,20% em São Paulo; 0,32% no Ceará e 1,32% em outros Estados. “Tem pessoas que viajam mais de 16 horas e, quando chegam aqui, precisam ter conforto. A falta de abastecimento também afeta a economia local, porque o carro pipa tem um custo alto e acaba impactando no preço final da mercadoria”, afirmou George.

Procurada pela reportagem, a Compesa afirmou que, no caso de Santa Cruz do Capibaribe, a cidade está situada “na região com a pior disponibilidade hídrica do Brasil”. “A perspectiva real de melhoria do abastecimento de água de Santa Cruz virá com a conclusão do Sistema Adutor do Alto Capibaribe”, disse a companhia. Segundo a Compesa, o início da operação do sistema está previsto para o fim do primeiro semestre de 2020.

Sobre Caruaru, a Compesa explicou que a oferta de água foi reduzida, justamente em função da necessidade de se atender emergencialmente a cidade de Santa Cruz. Já no caso de Toritama, o abastecimento pela Barragem de Jucazinho permanece, mas o reservatório encontra-se com apenas 2% da sua capacidade útil.
No que diz respeito às competências municipais, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santa Cruz, Isac Aragão, afirmou que a prefeitura tem procurado ofertar facilidades tributárias para a instalação de novos empreendimentos e, ainda, vem proporcionando parcerias para a capacitação profissional. “O que existe é uma certa dificuldade em realizar algumas ações por causa de questões políticas entre a prefeitura e o governo do Estado”, criticou.
Ele cita, por exemplo, o fato do governo ter feito o anúncio da instalação de duas tecelagens no município de Bezerros até o fim deste ano, e que há garantia de abastecimento de água para seu funcionamento. “Por que em Santa Cruz não tem? Nós geramos mais empregos. Há uma rede de hotéis, restaurantes, e a própria indústria do jeans, que faz parte do nosso contexto comercial e precisa de água”, relatou Aragão.

O prefeito de Santa Cruz do Capibaribe é Edson Vieira (PSDB), opositor do governador Paulo Câmara (PSB). O município foi o único do Estado em que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) ganhou do candidato do PT, Fernando Haddad, nas eleições de 2018. O pesselista teve 23.044 votos (53,83%), contra 19.765 votos (46,17%) do petista.
Segurança foi outro tema apontado pelos comerciantes e consumidores destas cidades. Com as obras incompletas das rodovias federais e estaduais, o número de assaltos afeta na circulação das feiras. Para se ter uma ideia, nos meses de alta temporada (fim de maio até o fim de junho e em novembro e dezembro) costumam circular, em Santa Cruz e Toritama, mais de 120 mil pessoas nos dois dias de feira. O comerciante Oliveira Pereira do Nascimento, 67 anos, trabalha com confecção desde os 12, e tem um box no Moda Center. “Sempre gostei da área e aprendi a me readequar ao ramo de confecções. As vendas caíram, mas isso é geral. Infelizmente, o poder público nunca olhou de verdade para nossos problemas, não temos água, não há rodoviária na cidade, opção de lazer, nem segurança”, criticou.

A Secretaria de Defesa Social do Estado afirmou que, especificamente para os polos de confecções, “as polícias Civil e Militar promovem um trabalho integrado no sentido de prevenir a atuação de quadrilhas especializadas”. “Nos principais dias de feira, os domingos e segundas, o policiamento na cidade é reforçado com patrulhas a pé e motorizadas, assim como nas estradas estaduais e federais que são as principais vias de acesso aos feirantes”, afirmou por meio de nota
No tocante a políticas públicas, alguns anúncios feitos pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sdec) tem como foco adequar o polo têxtil às demandas tecnológicas e garantir investimentos necessários para o setor. São três frentes integradas: a primeira é a instalação da Câmara Setorial Têxtil e de Confecções, para discutir a conjuntura e as soluções do segmento; a segunda foca na interiorização das ações do Marco Pernambucano da Moda, que passará a ter protagonismo regional; e o terceiro eixo é a criação do Comitê Deliberativo do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Têxtil (Funtec), orçamento vinculado à Sdec, que passará a ter gestão compartilhada com a iniciativa privada e prefeituras das cidades que mais contribuem com o fundo.

“Nós estamos criando um diálogo estruturado para saber de que forma podemos melhorar e potencializar a vocação de cada região. Criamos a Câmara para entender as demandas e solucionar os gargalos”, declarou o secretário Bruno Schwambach. Em relação aos problemas citados, ele reconhece que há desafios que precisam ser enfrentados. “Precisamos melhorar alguns pontos, como a duplicação de acesso às cidades, os recursos hídricos com o funcionamento do Ramal do Agreste até o fim do ano. A segurança melhorou muito. A Câmara Setorial também vai servir para acompanhar essas demandas e ter um alinhamento”, declarou.

Filipe Jordão / JC Imagem
O polo têxtil do Agreste movimenta R$ 5,6 bilhões por ano - Filipe Jordão / JC Imagem
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Comerciantes se adaptam as vendas virtuais através das redes sociais para não perderem clientes - Filipe Jordão / JC Imagem
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O polo têxtil do Agreste movimenta R$ 5,6 bilhões por ano - Filipe Jordão / JC Imagem
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Comerciantes de Toritama reclamam da falta de infraestrutura na cidade - Filipe Jordão / JC Imagem
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Dos produtos comercializados no Moda Center Santa Cruz, 93% são produzidos em Pernambuco - Filipe Jordão / JC Imagem
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Islane Almeida Santos veio da Bahia para fazer compras, pela primeira vez em Toritama e Santa Cruz - Filipe Jordão / JC Imagem
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A vendedora Lais Lopes já pensou em mudar de área, mas falta faculdade pública em Santa Cruz - Filipe Jordão / JC Imagem

INFORMALIDADE NO RAMO TÊXTIL É O GRANDE DESAFIO

Para cada posto de trabalho formal fechado, existe uma família que precisa dar outro jeito de garantir o seu sustento, seja para fazer a feira do mês, seja para pagar as contas ou cuidar dos filhos. No Brasil, os números de trabalhadores por conta própria chegaram a 24,2 milhões somente no trimestre encerrado em julho. Um novo recorde, de acordo com o IBGE, que no fim de agosto divulgou que a taxa de desemprego no País chegou a recuar por conta dessa criação de vagas no mercado informal.
O mercado informal é muito influenciado pelas produções familiares e pela dinâmica econômica da região. No Agreste, a confecção é uma das áreas mais exploradas por quem busca uma alternativa de geração de renda. Nestes lugares, os trabalhadores nem sempre atuam diretamente com as vendas, e muitas vezes ficam responsáveis pela criação das peças ou pela produção de tecidos e linhas, usados para as roupas. No entanto, ao precisar recorrer a um trabalho que não é formal, o empregado pode perder suas contribuições previdenciárias e trabalhistas. E no caso das empresas, ficam impedidas de participar de editais, concorrer a incentivos ou ter acesso a um curso de qualificação gratuito.
De acordo com Sylvia Siqueira, analista do Sebrae, a instituição atua como uma das alternativas para se trabalhar com a população e ajudar o trabalhador a formalizar os pequenos negócios locais.
“Esse papel de estimular é importante para a geração de emprego e renda. Em relação à informalidade, a gente estimula em relação ao empreendedorismo dessas pessoas que precisam se livrar do desemprego e das pessoas que recebem algum dinheiro ao longo da vida e querem ou precisam investir em algum negócio. Nós temos parceiras que fazemos com o governo e prefeituras. Montamos serviços na sala do empreendedor e no expresso do empreendedor”, explica a analista.

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