Atualizada às 19h42
O líder do governo no Senado Federal, Fernando Bezerra Coelho (MDB), manifestou-se pela primeira vez no Congresso após ter sido alvo na última quinta-feira (24) da Operação Desintegração, que investiga suposto pagamento de até R$ 5,5 milhões em propina na época em que o senador foi ministro da Integração Nacional e atinge também o seu filho, o deputado federal Fernando Filho (DEM). O discurso foi feito durante sessão do Congresso Nacional com deputados federais e senadores, convocada para votação de 15 vetos presidenciais e o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2020, entre outros projetos. Ainda nesta terça-feira (24), o Senado Federal acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, que autorizou a operação de busca e apreensão no gabinete de Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
Fernando Bezerra classificou o cumprimento de mandados de busca em apreensão nas suas residências e especialmente no gabinete da liderança do governo no Senado como uma "operação política" articulada com o objetivo de atingir o governo do presidente Jair Bolsonaro e o Senado Federal.
O senador disse estar subindo na tribuna para defender a sua trajetória política e o próprio Senado Federal "atingido por um ato flagrantemente inconstitucional que feriu a independência de um dos poderes da República, no momento em que o Senado e a Câmara dos Deputados enfrentam os desafios que levarão o Brasil de volta ao crescimento econômico e à geração de emprego e renda para a população", afirmou o emedebista. Na própria quinta-feira (24) ele colocou o seu cargo a disposição do presidente.
A votação em primeiro turno da Reforma da Previdência foi adiada pelo presidente da Casa Alta, senador Davi Alcolumbre, para a próxima semana. Um dos fatores seria a própria operação envolvendo o líder do governo. A Casa Alta está em evidencia por ter em suas mãos pautas tidas como prioritárias para o governo, a exemplo da própria reforma e das indicações de Augusto Aras para a Procuradoria Geral da República e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos.
Apesar do apoio de parlamentares, o Palácio do Planalto já avalia dois nomes para substituir FBC, mas que só serão discutidos quando o presidente voltar de viagem aos EUA, onde participa da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
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"Me parece, senhores parlamentares, que essa operação é, deliberadamente, uma tentativa de reavivar velhas práticas de intimidação e de criminalização da política, como se não fosse a política o único caminho para solucionar os problemas do País. Os atos da última quinta-feira constituem grave ofensa ao equilíbrio democrático, cujos pilares são a independência e a autonomia dos poderes da República, e merecem sim a contundente reação desta Casa, especialmente de seu presidente, senador Davi Alcolumbre, a quem cumprimento pela firmeza de sua decisão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal", afirmou o senador.
Na semana passada, o presidente da Casa Alta classificou a Operação Desintegração como uma "drástica interferência" no Congresso Nacional. Nesta terça (24), ele e uma comitiva de 14 senadores foi ao STF conversar com o presidente Dias Toffoli recorrer contra a operação. Durante o discurso de Fernando Bezerra, Alcolumbre pediu por duas vezes a atenção dos deputados e senadores ao que seria dito pelo líder governista.
Entenda a operação
Acordos de colaboração premiada de três empresários implicaram Fernando Bezerra e seu filho, o deputado federal Fernando Filho (DEM-PE), alvos de mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira, 19, em Brasília, no Recife e em Petrolina (PE), cidade natal da família
Segundo a Polícia Federal, há diversos elementos de prova que indicam o recebimento dos valores, entre 2012 e 2014, pagos por empreiteiras, em razão das funções públicas exercidas pelos parlamentares.
"Há diversos indícios da prática de crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro", afirmou o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, autor da decisão que autorizou a operação. "O montante total das vantagens indevidas chegaria, segundo a autoridade policial, a pelo menos R$ 5.538.000,00", acrescentou.
A manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) foi contra a busca e apreensão nos endereços de Fernando Bezerra Coelho. "Não há indícios de que ele registrasse os atos praticados, pois, ao contrário, adotou todas as medidas para manter-se longe deles, de modo que a medida invasiva terá pouca utilidade prática", disse a então procuradora-geral Raquel Dodge.
Leia a íntegra do discurso de Fernando Bezerra Coelho
"Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Senadores,
Deputados e Deputadas,
Dirijo-me a este plenário para defender a trajetória política e a história de luta em benefício do povo de Pernambuco e do Brasil que eu e o deputado federal Fernando Coelho Filho construímos com esforço, coragem e disposição inabalável. Subo à tribuna para defender também o Senado Federal, atingido por um ato flagrantemente inconstitucional que feriu a independência de um dos poderes da República, no momento em que o Senado e a Câmara dos Deputados enfrentam os desafios que levarão o Brasil de volta ao crescimento econômico e à geração de emprego e renda para a população.
Em 37 anos de vida pública, tenho servido com incansável dedicação ao meu estado e ao Brasil como deputado estadual, deputado federal, prefeito de Petrolina, ministro de Estado e, agora, como senador. Em todo este período, nunca sofri uma condenação pela Justiça em definitivo. Mas o episódio da última quinta-feira, dia 19 de setembro, me causou perplexidade.
Trata-se de ação cautelar relacionada ao Inquérito 4513, aberto em 2017, para investigar supostos desvios de recursos de obras federais administradas pelo Ministério da Integração Nacional na Região Nordeste, em especial, o Projeto de Transposição do Rio São Francisco. Pela ausência de elementos comprobatórios, terá o mesmo destino de outras acusações que enfrentei: o arquivamento – inclusive por força de decisão do Supremo Tribunal Federal.
Que fique claro, senhores parlamentares: não temo as investigações. Digo com veemência que jamais excedi os limites impostos pela lei e pela ética. Mas é estarrecedor o excesso, o abuso de uma decisão monocrática, tomada em completo desacordo com quem está, de fato, na condição de avaliar a necessidade ou não de produção de prova, no caso o Ministério Público Federal, titular da ação, e ainda mais quando exige medida tão invasiva ao direito individual do cidadão e fere a independência de um dos poderes da República.
Sem o aval da Procuradoria Geral da República, uma decisão monocrática descarta o princípio da razoabilidade e autoriza medida cautelar extrema, relacionada a fatos supostamente ocorridos há sete anos, para deflagrar uma operação absolutamente extemporânea. Uma ação, portanto, arbitrária e gravíssima. Ademais, sequer houve respeito à determinação judicial que consignou expressamente que a autoridade policial deveria fundamentar a razão de cada objeto ou documento apreendido, demonstrando a pertinência com a investigação, fato este que não ocorreu, havendo, novamente, grave violação à ordem judicial e à minha pessoa. Não bastasse tudo isso, senhores parlamentares, os mandados não estavam acompanhados da decisão judicial, fato este que impossibilitou saber não só o teor, mas também como ela deveria ser executada.
Por tudo isso, está claro, Senhor Presidente, que fui vítima de uma operação política, articulada para atingir o Congresso Nacional e o Governo do Presidente Jair Bolsonaro, do qual tenho a honra de ser líder no Senado Federal – função que coloquei à disposição do Presidente e que tenho exercido até aqui com diálogo e respeito aos meus colegas senadores.
A presença da Polícia Federal no Gabinete da Liderança do Governo no Senado é uma afronta, um atentado contra a independência dos poderes. Se os fatos citados remontam ao ano de 2014, por qual motivo incluir o Gabinete da Liderança entre os locais da busca e apreensão, se não para impor ao Governo do Presidente Bolsonaro um constrangimento?
Não podemos esquecer que essa operação ocorre no momento em que o Senado avança com a agenda econômica e está na iminência de votar a Reforma da Previdência. Com diálogo, estamos trabalhando também na proposta de Reforma Tributária e nos projetos relacionados ao Novo Pacto Federativo.
Me parece, senhores parlamentares, que essa operação é, deliberadamente, uma tentativa de reavivar velhas práticas de intimidação e de criminalização da política, como se não fosse a política o único caminho para solucionar os problemas do País. Os atos da última quinta-feira constituem grave ofensa ao equilíbrio democrático, cujos pilares são a independência e a autonomia dos poderes da República, e merecem sim a contundente reação desta Casa, especialmente de seu presidente, senador Davi Alcolumbre, a quem cumprimento pela firmeza de sua decisão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Parlamentares.
O Brasil precisa sair do atoleiro econômico em que se encontra e se distanciar do passado em que os equívocos e erros terminaram por mergulhar o País numa grave crise econômica e institucional, com duras consequências para o povo brasileiro.
Antes de encerrar, quero agradecer as manifestações de apoio que recebi ao longo dos últimos dias. De maneira especial, agradeço à minha família, pelo carinho e o amor de uma vida inteira. Agradeço ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao líder do meu partido, senador Eduardo Braga, às diversas lideranças partidárias e aos muitos companheiros e companheiras do Senado e da Câmara que manifestaram a sua solidariedade neste lamentável episódio. Aos meus conterrâneos, ao povo de Pernambuco, quero dizer que nada resiste ao trabalho. Seguirei travando, com altivez, o bom combate pelo desenvolvimento do meu estado e do Brasil.
Vivemos outros tempos, Senhor Presidente, mas devemos permanecer atentos e vigilantes, para que violações à Constituição não fragilizem a nossa democracia; para que ela – a democracia – possa sempre florescer. Dito isso, encerro com o poema de Eduardo Alves da Costa, um dos grandes nomes da literatura brasileira:
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.
Muito obrigado, senhor Presidente".