Às 15h07 deste sábado (9), o hino nacional brasileiro começou a tocar na Avenida Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Era o sinal para começar o movimento "Vem Pra Rua" em manifestação contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que vetou a prisão em segunda instância, permitindo a soltura do ex-presidente Lula nessa sexta-feira (8).
A maior parte dos manifestantes estava vestida com camisas nas cores verde e amarelo e entoava gritos de ordem como "vergonha nacional". Após a concentração, a organização estimava que cinco mil pessoas participavam da manifestação.
Para um dos manifestantes, o aposentado Wellington Melo, 67 anos, a decisão do Supremo serviu para soltar "bandidos" e "canalhas".
"Só o Brasil, em 194 países do mundo, inventou essa 'jabuticaba' de prender somente após o 'trânsito em julgado', que no Brasil, é impossível. Quem tiver dinheiro no Brasil, nunca será preso", conclui Wellington.
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O empresário Jaime Vasconcelos, 57, disse que a população brasileira está passando por momento de indignação. "Nós não podemos permitir que a situação de instabilidade política possa retroagir a situação que do Brasil, que está se reerguendo agora", afirmou.
Jaime conclui a entrevista ao JC dizendo que o povo tem que "pressionar" a classe política para aprovar uma PEC favorável à prisão em segunda instância.
Com a palavra, o "Vem Pra Rua"
A representante do movimento, a economista Maria Dulce Sampaio, explicou que a expectativa do "Vem Pra Rua" é de que a população se una contra a decisão do Supremo. "Foi uma decisão sem sentido", afirma ela.
"A competência de legislar é do Congresso Nacional e, se o Supremo sabe que isto já está tramitando no Congresso, porque essa pressa em mudar este entendimento? A não ser o conluio e a conspiração para acabar com a Lava Jato", explica. Segundo Dulce, a manifestação foi antecipada para este sábado, a pedido do ministro da Educação, Abraham Weintraub, por conta do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que será realizado no domingo (10).
A delegada Patrícia Domingos, que acompanhou o ato em cima do trio, explica que a sociedade está sendo vítima da decisão do Supremo. "Desde sempre o STF apoiou a prisão em segunda instância. O que a gente está vendo hoje é uma alteração de entendimento que eu considero que vai causar danos seríssimos à população", disse ela. Quando questionada se a decisão poderia enfraquecer a Operação Lava Jato, Patrícia Domingos disse que o veto "enfraquece toda a crença na Justiça e no poder judiciário brasileiro".
Um dos organizadores do evento, Charbel Maroun, pré candidato à prefeitura do Recife pelo Partido Novo, disse que a decisão da soltura de Lula foi "esdrúxula", "absurda" e "oportunista". "Tem muita gente comemorando a liberdade dele [Lula], mas ele não foi inocentado, ele foi libertado porque o Supremo entendeu que a legislação do jeito que está hoje não permite a prisão de condenados em segunda instância". Charbel mantém a mesma opinião dos outros entrevistados, quando dizem que houve uma mudança de entendimento com a decisão de quinta-feira (07).
Alexandre Carvalho fala um pouco sobre a sua "indignação" e "decepção". "Eu tenho tenho respeito à instituição STF, mas, infelizmente, eu não posso respeitar os atuais ministros", afirma. Quando questionado sobre uma possível vinda de Lula ao Nordeste, Carvalho explica que o ex-presidente pode ser hostilizado. "Nós não vamos aceitar um condenado. Com certeza, se Lula for a qualquer lugar público daqui, ele será hostilizado. Eu não estou ameaçando, mas é a verdade, porque ele, hoje, é uma pessoa que não tem nenhuma credibilidade. Tentam reerguer ele, mas, jamais irão conseguir", conclui o empresário, dizendo que "Lula foi o maior ladrão da história do mundo".
Eliana Muller é empresária e mora no Recife há 12 anos. Para ela, a maior preocupação não é a soltura de Lula, mas a liberdade de “um monte de bandidos”. “O povo ‘tá’ tando sinal de que não vai deixar passar assim. Ou a gente deixa claro na lei que quer bandido preso ou o Brasil vai pegar fogo. Não tem mais nada que se sustente neste país. O Supremo não representa as pessoas. O Supremo foi eleito por presidentes que tinham interesses e estão devendo favor”, conclui.
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