POLêMICA

Especialistas rebatem Paulo Guedes dizem que a pobreza não é a grande inimiga do meio ambiente

Eles acreditam que os problemas com o meio ambiente têm relação com a pobreza, mas não na proporção citada por Paulo Guedes

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 21/01/2020 às 19:46
SÉRGIO LIMA/AFP
O ministro da Economia, Paulo Guedes - FOTO: SÉRGIO LIMA/AFP
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A pobreza não é a grande inimiga do meio ambiente, segundo pelo menos dois especialistas consultados pelo Jornal do Commercio. Nesta terça-feira (21/01), o ministro da Economia, Paulo Guedes disse que “o grande inimigo do meio ambiente é a pobreza” depois de participar do painel Desenhando o Futuro com a Indústria Avançada no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Logo depois o ministro afirmou “destroem porque estão com fome”, se referindo aos mais pobres.

Fatores - como a falta de saneamento e de educação ambiental - degradam o meio ambiente e têm relação com a pobreza, de acordo com os especialistas consultados. “A pobreza é uma das maiores inimigas do meio ambiente, mas não há evidências suficiente para dizer que é o grande inimigo”, explicou o coordenador do curso de Economia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), José Alexandre Pereira Filho.  E complementa: “uma maior pobreza implica num menor nível de educação (inclusive ambiental) e também numa cobertura menor de saneamento”. A falta de cobertura de esgoto agride o meio ambiente porque os dejetos vão parar in natura no solo, nos rios e no mar.

Alexandre enumerou outras questões fundamentais que devem ser tratadas com mais atenção para melhorar o meio ambiente: a água, o saneamento, a poluição do ar, a floresta amazônica e os fatores que contribuem para o aquecimento global. “Também é preciso ter uma ação governamental neste sentido”, contou.

POBREZA

“A pobreza está longe de ser a grande inimiga do meio ambiente”, diz o secretário de Administração e Planejamento da cidade de Sairé, Wendes Oliveira.  Localizado no Agreste, aquele município é considerado um exemplo no tratamento de resíduos sólidos em Pernambuco, pois dá a destinação correta a cerca de 70% de tudo que é recolhido lá. Para ele, um dos principais problemas do meio ambiente no Brasil é a falta de políticas públicas nessa área seguida pela falta de recursos. “A União fica com cerca de 70% de tudo que é recolhido (via impostos) e os tribunais de contas dos Estados cobram dos municípios que resolvam algumas questões ambientais, como por exemplo, a do resíduos sólidos, mas as prefeituras não têm recursos para isso”, contou.

O caso de Sairé é um exemplo. O município conseguiu fazer uma destinação correta devido a uma doação de recursos de uma empresa holandesa, a Philips, e o treinamento da equipe que implantou o projeto foi realizado via parceria com uma agência de desenvolvimento internacional. “Uma das nossas maiores pobrezas é a falta de políticas públicas para o meio ambiente. Uma política que cuide da situação da nossa casa comum, a terra. Os problemas ambientais não vão ser resolvidos somente com o combate a pobreza”, resumiu Wendes.

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