Igor Maciel, da coluna Pinga Fogo*
Na entrevista que concedeu à Rádio Jornal, nesta quarta-feira (22), o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) lembrou que, na eleição, falavam que ter prefeito e governador de partidos antagônicos (o governador Rui Costa é do PT e o anterior, Jaques Wagner, também) iria atrasar o desenvolvimento local. Pelo visto foi o contrário. Se fossem do mesmo partido, ACM nunca iria peitar um correligionário para fazer sozinho o Centro de Convenções, por exemplo, depois que o equipamento que existia antes, do governo estadual, desabou por falta de manutenção. Sendo colegas de partido, um evitaria constranger o outro. E a população que esperasse. Vai ver, o problema em Pernambuco é esse.
Comparar Recife com Salvador é um erro, porque uma das duas tem um gestor interessado em atrair verbas privadas para a manutenção e uso de equipamentos que colocam dinheiro na cidade e geram empregos. A outra é a capital pernambucana, que tenta combater o desemprego, entre outras medidas, distribuindo passagens de ônibus para que os desempregados possam entregar currículos. Iniciativa importante, é verdade, mas de pequeno efeito prático. A polêmica sobre o Centro de Convenções de Salvador só é polêmica aqui, lá é solução. O empreendimento foi feito com dinheiro totalmente municipal e concedido a uma empresa privada francesa, responsável pela gestão nos próximos 25 anos. O dinheiro investido pela prefeitura, R$ 130 milhões, deve render cerca de R$ 500 milhões por ano pelas próximas duas décadas e meia.
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A GL Events, que conquistou a concessão, já tem, segundo ACM Neto, mais de 20 eventos marcados para os próximos 12 meses. E a agenda ainda está aberta com grande procura. O impacto de R$ 130 milhões da prefeitura, hoje, pode gerar em 25 anos cerca de R$ 15 bilhões em movimentação financeira e isso inclui hotéis, transporte de passageiros e toda a estrutura ligada ao turismo em 50 setores. A expectativa é de que alguns eventos gerem até dois mil empregos temporários. E estamos falando de apenas um equipamento.
No Recife, só para termos um exemplo, o Geraldão está em obras desde 2013, inúmeros prazos de conclusão da obra foram apresentados e nada. A previsão é que se inaugure este ano, afinal, a gestão vai acabar. As justificativas da prefeitura pernambucana são variadas, mas geralmente colocam a culpa do atraso na crise e a culpa da crise no Governo Federal. É "o inferno são os outros” como política. E a população que espere.
*Igor Maciel é titular da coluna Pinga Fogo, no Jornal do Commercio