Essa matéria é para quem preenche o espacinho dos documentos destinado ao estado civil, ou mesmo o status da rede social com a palavra solteiro(a). E com um sorriso nos lábios, sem qualquer resquício de vergonha, fracasso ou resignação por não estar com alguém a tiracolo. Para 55,35% dos 161 milhões de brasileiros com mais de dez anos de idade – porcentagem que representa a quantidade de solteiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), – solteirice está muito menos associada à ideia de ficar encalhado, e muito mais ao desejo de dedicar todo tempo do mundo a quem realmente importa: ele(a) mesmo(a).
Para esses felizardos, o Dia do Solteiro (15 de agosto) é de celebrar, de preferência acompanhado, mas de uma penca de amigos. E dos substantivos independência e liberdade sempre presentes no discurso para justificar a ausência de um parceiro(a) por perto.
O auditor fiscal Cícero Davi, 62 anos, é exemplo daqueles solteirões convictos. Nunca se casou e nem pretende. As relações amorosas são sempre passageiras. Cícero não quer nada fixo, nada de compromisso. “Já tive experiências de morar junto com outras pessoas, mas não deu certo. Ficamos amigos e depois até inimigos”, recorda, agora sorrindo, Cícero.
Ele adora ter a liberdade de chegar em casa, comer o que quer, ouvir o som que deseja e até de bagunçar onde quiser. “É um lado egoísta. Não gosto muito de dividir as coisas com ninguém. Quero chegar em casa e ter a liberdade de dormir no sofá da sala ou na rede, de luz acesa, se eu quiser, sem que ninguém venha me chamar para ir pra cama”, avisa.
De vez em quando, a sensação de felicidade plena é assombrada pelo fantasma da solidão. “Quando ele aparece, saio para um barzinho, encontro umas pessoas, converso, e a solidão vai embora”, diz Cícero.
Depois de um namoro de seis anos, a administradora Thaís Rodrigues, 24, também não quer saber de juntar os trapinhos com seu ninguém. A questão, segundo ela, nem é tanto a falta de liberdade, de se sentir sufocada. “Não tenho que combinar nada, posso resolver tudo de última hora, nem preciso compartilhar toda a minha programação com alguém. Dia desses, por exemplo, resolvi ir a um show em São Paulo. Se tivesse namorando, teria que conversar, dar satisfação”, vangloria-se Thaís.
Há um ano solteira, ela tem preferido a companhia dos amigos, na alegria e na tristeza. “Sempre tenho um ombro
para chorar”, conforta-se Thaís, que já está tão acostumada com a vida de solteira que tem até medo de não se adaptar quando estiver namorando novamente.
SINGLE
De olho no grande número de solteiros, o mercado já criou produtos especificamente voltados para esse público que mora sozinho. Há desde bares e restaurantes até festas e produtos de supermercado voltados aos avulsos.
Nos supermercados da rede Pão de Açúcar, por exemplo, é possível encontrar carnes em porções menores e frutas, legumes e verduras fatiados, além de massas em embalagens de 350 gramas e sopas congeladas individuais.
Já que é difícil um solteiro ter uma cozinheira, no máximo, uma faxineira para organizar a baguncinha, não pode faltar na cozinha um microondas, um bom estoque de comida congelada, televisão a cabo, muitos livros e a geladeira abarrotada de ímãs com telefones de restaurantes com serviço delivery.