SAÚDE

Mande o estresse para bem longe

Alguns traços de personalidade favorecem o aparecimento de tensões. A boa notícia é que dá para afastar as perturbações

Cláudia Santos
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Cláudia Santos
Publicado em 01/06/2013 às 13:00
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Alguns traços de personalidade favorecem o aparecimento de tensões. A boa notícia é que dá para afastar as perturbações - FOTO: Flora Pimentel/JC Imagem
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Existem pessoas que são mais suscetíveis ao estresse do que outras, devido a personalidade que possuem. Por isso, estão mais propensas a adoecerem. Desde os anos 1970, pesquisadores se debruçam sobre esse tema para constatar algo que o senso comum já presumia: uma pessoa tranquila como Dorival Caymmi, conhecido por não ter pressa, tem menos probabilidade ser vítima de infarto. Não por acaso, o autor de Maracangalha viveu mais de 90 anos.

Para o cardiologista Wilson de Oliveira Júnior, dois traços da personalidade são importantes para desencadear o infarto: a hostilidade e a raiva não expressa. “O primeiro refere-se àquelas pessoas que não acreditam no altruísmo e encara as demais como alguém que vai prejudicá-la. Estão sempre em alerta”, diz. Quanto ao segundo traço, a ciência veio comprovar o que a sabedoria já propalava: “Se não colocar a raiva para fora, ela acaba se voltando contra você".

Deitar no divã do analista também pode ser uma opção quando o tratamento do estresse requer autoconhecimento. Foi o que aconteceu com Gustavo Andrade, 54, que sofreu com problemas de pele que pareciam incuráveis. Chegou o dia em que o dermatologista recomendou um tratamento psicoterápico. “Eu era funcionário público. Isso não me satisfazia”, conta Gustavo, que sonhava em ser cantor lírico. Após sessões terapêuticas, ele revolucionou a vida: tornou-se empresário, descasou-se e passou a integrar o coral da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). “Aprendi a lidar bem com o estresse.” E as doenças de pele? “Desapareceram assim que fiz essas mudanças”, comemora. 

Para afastar o estresse, o melhor remédio é conseguir ter tempo para o ócio e para o lazer

Assim como Gustavo, muitas pessoas, segundo o médico psicanalista Dival Cantarelli, não conhecem seus desejos e acham que estar estressado é algo natural, decorrente da busca do sucesso. “Mas é uma busca distorcida porque visa uma felicidade performática, que inclui ser magro, ser belo, ter status, carro de marca e tudo o que possa ser reconhecido pelo outro para se ganhar o emblema de felicidade” analisa o psicanalista. “Para isso, paga-se qualquer preço, como dormir e alimentar-se mal. Isso é preocupante porque essas pessoas serão adoecidas cronicamente”, alerta. “Mas a verdadeira felicidade existencial não precisa do reconhecimento do outro”, complementa o especialista. 

E Wilson Oliveira lembra que ele próprio chegou a dispensar o convite para administrar um centro médico, cargo que conferiria muito status, mas também muito estresse porque não se realizaria profissionalmente. Baseado nessa experiência, o cardiologista elogia a renúncia de Bento XVI. “Ele teve a coragem de desistir, mesmo com a possibilidade de a sociedade encará-lo como um derrotado.”

Os especialistas também afirmam que é importante reduzir a velocidade do estilo de vida, ter tempo para o ócio e para o lazer. “Temos que correr menos. Querem transformar o ser humano em digital, mas ele é analógico”, finaliza Wilson.

* Leia mais sobre o assunto no caderno Arrecifes deste domingo 

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