Persona

Reynaldo Fonseca é fiel escudeiro da arte

Ele pinta todo santo dia, não se desfaz de muitas de suas obras e garante que é para elas que vive

Bruna Cabral
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Bruna Cabral
Publicado em 10/06/2013 às 11:23
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Ele pinta todo santo dia, não se desfaz de muitas de suas obras e garante que é para elas que vive - FOTO: Igo Bione/JC Imagem
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Reynaldo Fonseca, 88 anos, não arreda o pé de seu pictórico universo particular. Mantém 100 de suas obras em casa. "São filhos." E continua pintando. O dia inteiro. Só descansa à noite, diante da TV. Fã confesso da novelinha adolescente Malhação, recebeu a repórter Bruna Cabral com pressa para não perder um capítulo na melancolia do fim de tarde.

 

JC - Por que pintor e desde quando?

REYNALDO FONSECA ­- Já nasci sabendo que queria pintar. Minha mãe dizia que eu já fazia desenhos muito bem acabados com 2 ou 3 anos de idade. Aos 11, entrei na Escola de Belas Artes. Só não deixavam que eu visse, nem desenhasse, as modelos nuas que pousavam para os demais.

JC - Qual seu expediente mais produtivo?

REYNALDO - Pinto todo dia, o dia todo. Religiosamente das oito da manhã ao meio-dia. Depois, das 14h às 17h. A verdade é que estou sempre com um papel na mão, rabiscando. Muitas vezes, recorto fotos de jornais, revistas, que me inspiram de alguma forma. Sou pintor também nas horas vagas.

JC - Sua pintura ocupa seu pensamento, seus dias, suas paredes. É ela sua companheira mais fiel? Quais são as outras?

REYNALDO - Certamente é ela. Confesso que já gostei mais do mundo. Hoje em dia, saio pouco de casa. Nos últimos dois anos, arrisco dizer que saí uma vez só. Os amigos que me restaram vêm me visitar aos domingos. Também recebo visitas de vendedores de antiguidades, que adoro. Quando a peça vale a pena, não penso duas vezes antes de comprar. Mas a verdade é que aqui no Recife não há muita oferta. E não tenho paciência para leilões.

JC - Não sente necessidade de mudar de cenário?

REYNALDO - Nunca. Quando tenho saudade da humanidade, olho pela janela. Vejo o mar de Boa Viagem, as pessoas lá embaixo e pronto. Saudade mesmo sinto somente dos meus amigos que já partiram.

JC -Já viajou bastante, morou no Rio. Dos lugares que não consegue avistar de sua janela, sente falta de algum em especial?

REYNALDO - Não. Morei muitos anos no Rio. Conheci França, Itália, Portugal, Espanha. Mas ainda prefiro minha casa.

JC - Como ocupa seu tempo livre em casa?

REYNALDO - Pintando, rabiscando. Todo o meu tempo dedico à pintura. À noite, gosto de ver TV. Assisto a todas as novelas. Os filmes, não consigo. São terríveis. Mas veja bem, minha filha, me entenda: adoro cinema. Só não gosto desses filmes que costumam passar na televisão.

JC - E de livros, o senhor gosta também?

REYNALDO - Muito. Já fui um leitor ávido. Mesmo antes de aprender a ler, já lia bastante, com os olhos de minha mãe. Visitei toda a obra de Monteiro Lobato. Mais tarde, já por conta própria, me debrucei sobre Machado de Assis, Dostoievski. Tinha uma biblioteca enorme, mas já doei muita coisa. Não consigo mais ler, porque a vista incomoda.

JC - Gosta de música? Alta, baixa, nacional, estrangeira, sempre ou só de vez em quando?

REYNALDO - Gosto. Mas não para pintar. A pintura me absorve completamente, me captura. Se tiver tocando música, nem escuto.

JC - E na hora das comidas, como cantaria Carmem Miranda, o senhor é de quê?

REYNALDO - Salada com peixe grelhado é meu cardápio predileto. Na verdade, o único que me arrisco a comer hoje em dia.

JC -Que cenários recifenses gostaria de retocar?

REYNALDO - Gostaria que o Bairro do Recife fosse preservado. Lamento profundamente também pelas igrejas seculares que estão em ruínas. Desabamos todos com elas.

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