Persona

José Juva: o poeta feiticeiro

Autor de Vupa aborda a temática do xamanismo e confessa seu medo pela água

Rosália Vasconcelos
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Rosália Vasconcelos
Publicado em 23/09/2013 às 12:16
Igo Bione
Autor de Vupa aborda a temática do xamanismo e confessa seu medo pela água - FOTO: Igo Bione
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Três meses após ter vivenciado uma hipocinesia apical – espécie de enfarte –, o poeta olindense José Juva, 29 anos, confessou à repórter Rosália Vasconcelos um medo que o perseguiu até então: as doenças do coração. Ao pés da Igreja do Carmo, o autor dos livros Deixe a visão chegar (2012) e Vupa (2013) contou como é sua relação com o tempo e o que o levou a se converter ao xamanismo.

JC – Como foi passar por um enfarte aos 28 anos e o que ele tem a ver com seus medos?
JOSÉ JUVA –
Fiquei muito assustado, chorei, mas tentava não pensar muito e criava mantras e orações para sair daquela situação. O curioso é que sempre tive medo de ficar doente do coração e, coincidentemente, enfrentei esse medo. Acho que hoje ele está superado. Encarei aquela situação como uma morte ritual. Depois dela, nasci de novo.

JC – O que mais lhe dá medo?
JOSÉ JUVA
– Já tive muito medo de me acidentar na água. Meu pai era um “peixe”, mas minha mãe morria de medo e acho que acabei absorvendo isso. Hoje, vejo a água como uma imagem curativa, uma abolição de formas, a possibilidade de estar sempre se reinventando. Sou um pouco assim, meio mutante.

JC – Você disse uma vez que se tivesse uma máquina do tempo gostaria de visitar o paleolítico. Por quê?
JOSÉ JUVA
– Todo poeta é uma espécie de feiticeiro de seu próprio tempo. A ideia de voltar àquela época é porque eu acredito que lá as dimensões espirituais e materiais não estavam separadas. No tempo presente, tudo é muito cartesiano. Vivemos bitolados ao próprio umbigo e à tecnologia.

JC – É contra a teconologia?
JOSÉ JUVA
– Não. Mas me sinto um pouco deslocado desse tempo. Não sou bicho do mato nem avesso à tecnologia. Mas sempre que posso, evito. Tenho conta no Facebook, no YouTube, mas algumas coisas acho desnecessárias, como o carro. Quanto menos amarras eu tiver, melhor.

JC – E como observa o futuro, então?
JOSÉ JUVA
– Queria adquirir uma terra no interior, para morar sem me preocupar com as demandas de uma grande cidade. Nosso cotidiano aqui é trabalhar e se espremer em péssimos serviços públicos. Penso numa vida mais comunitária. A curto prazo, trabalho na conclusão de dois livros de poesia: Sensibilidade paleolítica e hamor e Breve breu.

JC – Você era católico e depois se converteu ao protestantismo. Como foi isso?
JOSÉ JUVA
– O catolicismo foi minha educação, mas não respondia às minhas perguntas. O que eu sou? Por que vim parar aqui? Estava numa crise existencial quando encontrei um amigo que tinha se convertido ao protestantismo. Comecei a frequentar o culto, a ler a Bíblia e me envolvi com aquela comunidade. Foi uma excelente experiência, mas novas crises existenciais surgiram e vi que o protestantismo pregava uma visão que não era a minha.

JC – Foi quando você se envolveu com o xamanismo?
JOSÉ JUVA
– Sim. O importante é encontrar uma verdade que seja verdadeira para mim. E acredito e vejo significado nos símbolos. Sou um homem-macaco. Se a vida é sem sentido, a gente pode procurar um. E o caminho do xamã é o caminho do coração, do sentido. Estou apaixonado.

JC - Na literatura, em quem você se inspira?
JOSÉ JUVA
- Me identifico com Herman Hesse, que trabalha muito a espiritualidade. Gosto de Roberto Piva e suas tendências anarquistas, além de Charles Bukowski. O mundo está cheio de hipócritas e Bukowski expõe isso, sem se colocar como vítima.

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