Depoimento

Tinha um nódulo (minúsculo) no meio do caminho

Com apenas 0,5 mm, carocinho na tireoide seria apenas observado, sem ser puncionado. Componente genético pesou na hora de decidir investigar o nódulo, que no fim das contas era câncer

Janaína Lima
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Janaína Lima
Publicado em 18/01/2014 às 13:02
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Com apenas 0,5 mm, carocinho na tireoide seria apenas observado, sem ser puncionado. Componente genético pesou na hora de decidir investigar o nódulo, que no fim das contas era câncer - FOTO: Igo Bione/JC Imagem
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“Vá amanhã fazer o exame porque eu também estou com um nódulo!” A ordem da irmã era clara: marcar a bendita ultrassonografia da tireoide no dia seguinte para investigar a existência de nódulos ou outros problemas na glândula.

A taxa dos hormônios estava certinha, tudo funcionando teoricamente direito, mas o fato da outra irmã, a caçula, ter sido diagnosticada com câncer de tireoide seis meses antes levou toda a família a uma investigação mais minuciosa.

Obedeci – venci minha resistência e desleixo em ir a médicos – e no outro dia estava lá, de pescoço esticado para o exame. E, sim, também tinha um nodulozinho na minha tireoide.

Antes de mais nada, aviso que estamos todos bem. Exames em dia, tratamento feito, e, quatro anos após, podemos, as três, dizer que o câncer é quase um detalhe da nossa história. E a única marca são os cortes no pescoço, um mais clarinho, quase invisível, outro mais ressaltado e o meu maiorzinho.

Sou a irmã mais velha. Hoje, às vésperas dos 39, bem mais corajosa que aos 35, quando recebi o diagnóstico assustador: nódulo de carcinoma papilífero na tireoide com metástase nos gânglios do lado esquerdo do pescoço. Caí. Chorei, chorei, chorei e corri para fazer todos os exames para a cirurgia.

Meu diagnóstico não veio tão fácil. Foram necessárias duas biópsias porque o tumor era muito pequeno, 0,5 mm. Lembro do médico reclamando que era muito pequeno para puncionar. A primeira coleta do material foi considerada insuficiente pelo patologista, por isso uma nova biópsia foi marcada. Sorte a minha. Foi exatamente nesse segundo exame que Dr. Fernando Amaral viu um gânglio com aparência suspeita e decidiu colher material dele também. Foi daí que veio o danado do termo: metástase.

Passado o susto inicial, correria dos exames, fui operada um mês após minha irmã ter feito o procedimento. Ela, que é médica, ainda teve que entrar na sala de cirurgia comigo quando chegou a minha vez.

Foi retirada toda a glândula e feita a linfadenectomia cervical esquerda, ou o esvaziamento dos gânglios linfáticos do lado esquerdo do pescoço. Sabia que o corte seria um pouco maior que o das irmãs, mas não que seria tão grande. E nem que acordaria sem sentir o braço esquerdo. Isso me assustou inicialmente. Mas nada que uma boa fisioterapia não tenha resolvido.

O câncer de tireoide é considerado o de tratamento mais simples. Há um componente genético importante e é necessário fazer iodoterapia após a extração da glândula. Essa é a parte mais chata. Além da dieta rígida (sem ingerir sal e nada com corantes) de um mês, ficar isolado no hospital dois dias não é nada divertido. Mas faz pensar na vida também. Muito.

Ninguém, por mais corajoso e experiente que seja, passa ileso a um câncer. Por mais simples que se apresente o diagnóstico, por mais que todo mundo dê colo, apoie e ajude, a experiência marca a pessoa. Exames periódicos viram rotina, tomar o hormônio passa a ser obrigação.

Assim como outras atividades que a gente às vezes negligencia no corre-corre diário: experimentar coisas novas, ouvir a música de que se gosta, comer algo bem gostoso, falar com quem não se vê há um tempo, encarar desafios... Em suma: ser feliz hoje. E agradecer sempre a Deus pela saúde. Esse sim é o bem mais valioso.

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