Criatividade, ousadia, disciplina, dedicação e investimento formam o quinteto que abastece o espírito carnavalesco dos desfilantes que não abrem mão de ostentar nas passarelas a paixão que alimentam pela mais tradicional das festas brasileiras. Por trás de máscaras e fantasias que chegam a pesar mais de 100 kg, estão pessoas que dedicam quase todo o ano para produzir vestimentas que simbolizam lendas, homenageiam personalidades históricas, recriam cenários da natureza e resgatam a cultura de diversas partes do mundo.
A paixão pelo Carnaval é o principal combustível que move esses carnavalescos, que não medem esforços para manter a essência das festas tradicionais. Toda essa dedicação é bem lembrada pelo cabeleireiro Almir da Paixão, 61 anos, o eterno hors-concours dos bailes. “Começava a me preparar oito meses antes do Carnaval. Quanto mais tempo se aproximava dos desfiles, menos dormia. Numa dessas situações de reta final, já cochilei em cima de uma lata de cola e fiquei com o cabelo todo grudado às vésperas da festa.”
Sem passar pelas passarelas há quatro anos para cuidar da saúde, Almir lamenta a falta de incentivo que eles recebem para embelezar os bailes. “Toda a fantasia é feita com custo próprio. Já tive criações que chegaram a R$ 40 mil. Isso desestimula”, acrescenta Almir.
Quem tem a mesma opinião é o servidor público Sandro Farias, 38. “Com pouco estímulo do governo, acho que farei parte da última geração de desfilantes. E o fato de o concurso de fantasias do Baile Municipal ter sido antecipado prejudicou a gente, pois passamos a correr ainda mais contra o tempo para terminar a nossa produção”, diz ele.
E o enfermeiro João Bosco Mendonça, 55, é mais um que não entende por que o concurso foi desvinculado do dia do 50º Baile Municipal do Recife, que acontece no próximo sábado (22). “Dessa maneira, a gente vai perdendo o estímulo porque não sentimos uma valorização do nosso trabalho, que representa bem a nossa cultura.”
A carioca Léa Lucas, 85 anos, é pura animação nos 365 dias do ano. Todo esse entusiasmo se intensifica bastante na temporada carnavalesca, quando ela se enche de cores e brilhos para festejar os dias de Momo. Quem chega para visitá-la em casa se depara com um mural de fotos dos desfiles, porta-retratos, quadros de homenagens e faixas de concursos que já venceu. Ela está há quatro anos sem subir aos palcos do Municipal e do Bal Masqué porque não encontra mais quem faça as vestimentas e máscaras como deseja.
Por outro lado, o vice-presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, explica que a antecipação do concurso foi fruto de um acordo com alguns desfilantes. "Foi uma mudança para beneficiar os participantes, que sempre concorriam comas orquestras e os shows dos artistas. Agora, eles têm um dia exclusivo. Além disso, os vencedores desfilam na data do baile. É uma alteração que vai dar certo e provavelmente será repetida nos próximos anos", justifica Diego.
Leia a matéria completa no caderno Arrecifes deste domingo (16/2)