Principal fórum de produtores rurais da região, a AgriNordeste completa, na próxima semana, 20 anos de atuação inaugurando seu maior braço gastronômico. Confirmando a tendência mundial de valorização da cozinha de terroir – ou seja, da gastronomia que se utiliza e cresce a partir dos produtos locais – o evento contará, este ano, com o Sabor Rural: uma grade de aulas-shows com chefs de destaque, inovações no já consolidado Show de Lácteos e uma série de palestras com especialistas sobre a importância da cozinha para a identidade nordestina.
Promovido pela Federação da Agricultura de Pernambuco, o evento acontece nos dias 22 a 24, no Centro de Convenções. Neste ano, o chamado Show de Lácteos terá três frentes. Amostras dos principais produtores de queijo de coalho e de manteiga serão analisados por três júris distintos: o público frequentador; químicos especialistas e um terceiro, formado por jornalistas especializados e chefs de cozinha.
Serão, portanto, premiações em três faixas. Além disso, estudantes das principais faculdades locais de gastronomia foram recrutados para participar de um concurso em que terão que criar receitas usando insumos da cadeia leiteira estadual. “O queijo de coalho pernambucano apresenta características únicas no Brasil”, diz Benoit Paquereau, francês radicado em Pernambuco que tem trabalhado na comissão pelo reconhecimento da denominação de origem do coalho do Agreste do Estado.
“A ideia é incentivar os alunos das faculdades, que serão os futuros profissionais da gastronomia, a usar com propriedade, qualidade e orgulho os produtos locais. Em todo o mundo, seja na França, na Espanha ou no Peru, as grandes gastronomias existem e crescem porque os profissionais da cozinha estão atentos aos produtores rurais”, diz o chef César Santos, coordenador do concurso de gastronomia para estudantes.
César é também coordenador e um dos participantes das aulas-shows do Sabor Rural. Para o público, uma série de chefs vai ensinar e preparar receitas a partir dos insumos expostos na feira. Como o celebrado congresso gastronômico Mistura, do Peru, a AgriNordeste é justamente uma arena privilegiada para que o público tenha contato direto com os produtores.
De artesanato a mel, de hortifruticultura a cachaça, rapaduras, caprinos e ovinos, são mais de 90 estandes de produtores. “Os chefs devem utilizar os produtos disponíveis na própria feira”, confirma César. Além das aulas, serão vendidas, a preços populares, receitas preparadas pelos chefs com ingredientes da AgriNordeste.
Entre os escalados, estão profissionais como Biba Fernandes, Alcindo Queiroz, Jeff Colas, Yoshi Matsumoto, Ivalmir Barbosa, Leandro Ricardo, Rivandro França, Luciana Sultanum, Miau Caldas e Alice Mesquita, que atua no Distrito Federal.
O sommelier Ângelo Miranda falará sobre os vinhos do Vale do São Francisco, e Francisco Barbosa, sobre a nova produção cafeeira local. No módulo Identidades da Terra, pesquisadores e especialistas conduzirão palestras abertas ao público sobre aspectos culturais e históricos da cozinha nordestina. As palestras serão mediadas pelo escritor e jornalista Bruno Albertim, um dos responsáveis pelo conteúdo editorial do caderno Boa Mesa, deste JC.
O profissional é responsável por um dos painéis: A cozinha nordestina, uma tropica-lização histórica. “O Nordeste do Brasil, sobretudo Pernambuco, onde o açúcar primeiro viabilizou o projeto colonial na América, é o berço histórico da cozinha brasileira”, diz ele, autor de Recife – guia prático, histórico e sentimental da cozinha de tradição.
A antropóloga Fátima Quintas falará sobre o açúcar na memória nordestina. Já Raul Lody discorre sobre a cultura que o coco disseminou no Nordeste desde foi trazido da Ásia. A programação se completa com as palestras habituais em áreas como caprinocultura, bovinocultura e leite.
