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A dor que faz despertar

A recente tragédia que abalou os pernambucanos fez muita gente pensar na transitoriedade da vida e na urgência do afeto

Marina Barbosa
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Marina Barbosa
Publicado em 25/08/2014 às 9:13
Foto: Sérgio Bernardo / JC Imagem
A recente tragédia que abalou os pernambucanos fez muita gente pensar na transitoriedade da vida e na urgência do afeto - FOTO: Foto: Sérgio Bernardo / JC Imagem
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Há tempos não se via uma comoção tão grande como a que tomou conta de Pernambuco nos últimos dias – após o acidente aéreo que tirou a vida do ex-governador Eduardo Campos e de seus assessores. O choque inicial logo foi substituído por uma tristeza inexplicável. Gente de todas as idades, classes sociais e partidos lamentou a morte do socialista. Mensagens de luto e apoio aos familiares das vítimas explodiram nas redes sociais. Mas este não foi o único sentimento criado pelo 13 de agosto. O desastre também fez muitos refletirem sobre a fragilidade da vida e a importância de estar junto de quem se ama.

Ideias que surgiram em gente como o professor de pilates Julcélio Nóbrega, 33, que não conhecia pessoalmente nenhum dos passageiros do jato caído em Santos. “Essa tragédia me fez pensar muito. Notei como a vida é efêmera, parece uma linha fina que pode se romper a qualquer momento. Estamos aqui, mas daqui a cinco minutos podemos não estar mais. Por isso, precisamos valorizar aqueles que nos fazem bem”, falou.

Assistindo ao velório de Eduardo pela televisão, Julcélio não conseguiu conter a emoção. “Imaginei o que a família dele estava sentindo e me imaginei em uma situação dessas. Percebi que aquelas pessoas perderam entes queridos e não tiveram a oportunidade de lhes dizer uma última palavra. Por isso, naquele momento, senti a necessidade de falar a todos que são importantes em minha vida que os amava”, revelou. 

Ele escreveu uma mensagem contando suas reflexões e a enviou para doze amigos. “Foi uma coisa urgente. Aos prantos, me vi escrevendo com o coração”, completou, ressaltando que a ação gerou uma onda de carinho. “Todos me responderam com muito amor. Afinal, relacionamentos são uma troca. Tudo que você faz vem de volta. Então, quanto mais amor nós compartilhamos, mais recebemos”.

A fisioterapeuta Marina Figueiroa, 34, foi uma das que recebeu a mensagem. “Parece que Julcélio leu meus pensamentos. Ele descreveu de forma poética um pouco do que todos nós estávamos sentindo, mas que nem todos tiveram coragem de dizer”, contou, revelando que a mensagem mexeu ainda mais com seus sentimentos, abalados desde o dia do acidente aéreo. 

“Na quarta-feira, não consegui nem me concentrar no trabalho. Sei que tragédias acontecem com frequência, às vezes são até piores, mas sempre parecem distantes de nós. Agora foi diferente. Parecia que todos nós havíamos perdido alguém próximo. Ficou aquela sensação de que coisas como essa podem acontecer conosco. Veio então o medo de perder algum ente querido e a necessidade de aproveitar ao máximo essas pessoas”, explicou a fisioterapeuta.

Antes mesmo do acidente, ela já tentava colocar em prática essa atitude. Com a ajuda da tecnologia, conversa constantemente com familiares e amigos, os quais encontra sempre que possível. São amigos de infância, da faculdade, do trabalho e do pilates, além dos 15 tios e 30 primos. “Tudo é motivo para nos vermos e cada encontro é uma festa. Em nenhum desses momentos tenho vergonha de dizer que os amo”, brincou. Ela também está sempre em contato com os pais e o irmão, que moram na mesma rua e trabalham no mesmo consultório que ela, mas também fazem questão de se reunir aos domingos.

Agora, a fisioterapeuta espera que o sentimento de companheirismo gerado pela tragédia não seja perdido, pois acredita que o mundo precisa de mais amor. “Na correria do dia a dia, pensamos tanto em nossas obrigações que esquecemos da importância de coisas pequenas, como aquele abraço ao chegar em casa no final do dia”, falou. Julcélio concorda com a amiga e acredita que é importante preservar essas relações porque “ninguém consegue viver sozinho”. “Não lembro de nenhum bom momento da minha vida em que eu não esteja ao lado dos meus amigos e familiares. São eles que me ajudam nos momentos difíceis e me ensinam a crescer”, contou Julcélio. 

Preservar suas relações de amor e amizade também é uma meta na vida da fotógrafa Priscila Buhr, 29. Mesmo assim, ela confessa já ter vivido momentos em que se viu afastada das pessoas queridas. “Passei por uma fase em que estava mais fechada, mas fiz questão de mudar essa atitude e hoje sou um grude com meus amigos. Percebi que, junto da minha família, eles são tudo que tenho. Todo o resto passa, por isso é deles que quero estar sempre junto”, explicou. 

Priscila revelou ainda que uma das principais razões para essa mudança de atitude foi justamente sua amizade com o fotógrafo Alexandre Severo, que trabalhava na campanha de Eduardo Campos e também foi uma das vítimas do acidente do último dia 13. “Severo era só amor com os amigos e eu aprendi muito com ele. Ao seu lado, percebi a importância da amizade e do companheirismo. Ele valorizava muito essas relações, ajudava os amigos e procurava estar sempre junto. Quando estava trabalhando em São Paulo, mandava mensagens perguntando como estávamos; e, quando vinha ao Recife, fazia questão de nos ver”, contou, dizendo que vai sentir uma saudade enorme.

 

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