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Coreia do Sul: uma desconhecida

Poucos brasileiros procuram a Coreia do Sul como destino turístico.E não sabem o que estão perdendo

Renato Mota
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Renato Mota
Publicado em 02/11/2014 às 6:41
Renato Mota
Poucos brasileiros procuram a Coreia do Sul como destino turístico.E não sabem o que estão perdendo - FOTO: Renato Mota
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Assim que fui convidado pela Riot Games para cobrir a final mundial do League of Legends, em Seul, comecei a pesquisar o que poderia fazer e onde poderia ir enquanto estivesse na cidade. Museus, locais históricos, restaurantes, bares, boates, pontos turísticos, centros culturais, templos, enfim tudo que fosse possível fazer dentro do período que passaria lá. Primeira descoberta: sabemos muito pouco sobre a Coreia do Sul. Não é um dos primeiros destinos na imaginação dos brasileiros, que parecem preferir antes conhecer a Europa, América do Norte ou outros países asiáticos, como Japão, China e Índia. Creio que isso aconteça, em parte, por falta de conhecimento. Então vamos tentar remediar isso.

No ano passado, a Coreia do Sul recebeu mais de 12 milhões de visitantes – o dobro do Brasil, que fechou 2013 com pouco mais de 6 milhões. A maior parte dessas pessoas vieram de países vizinhos, principalmente Japão e China. Para se ter uma noção, dos pouco mais de um milhão de turistas que foram à Coreia do Sul em setembro passado, 82% vieram da Ásia, enquanto 7% vieram das Américas e 6% da Europa. Brasileiros foram exatamente 1.490. Isso explica a primeira ideia que fazia do país e que caiu por terra: poucas pessoas lá falam inglês. Até para quem trabalha com turismo, é mais vantagem aprender japonês ou mandarim. 


Seul, apesar disso, é uma cidade global, um lugar de contrastes, em vários aspectos. Sua arquitetura mistura o antigo e o moderno, graças ao desenvolvimento tardio ocorrido a partir dos anos 1960, o chamado “Milagre do rio Han”. Entre 1962 e 1994, a economia sul-coreana cresceu a uma média de 10% ao ano, e manteve sua aceleração até hoje, embora num ritmo mais lento. Isso transformou a paisagem de Seul, fazendo com que prédios antigos e construções históricas em estilo oriental passassem a dividir espaço com grandes blocos de apartamentos e arranha-céus empresariais feitos de aço e vidro típicos das grandes cidades ocidentais. 



Um símbolo é a Sejong-ro, uma das principais avenidas do centro de Seul, onde ficam os prédios do Ministério Público, Ministério da Informação, e as sedes da Korea Telecom e do jornal Donga Ilbo. No fim da rua, ao norte, está o portão de Gwanghwamun, construído em 1395 e principal entrada para o palácio Gyeongbokgung, um dos cinco pertencentes à dinastia Joseon, que comandou a península entre 1392 e 1897. Uma visita ao palácio é um programa imperdível para quem está na cidade – o equivalente a conhecer um castelo medieval quando se está na Europa. Durante o período da ocupação japonesa na Coreia (1910-1945), o palácio foi sistematicamente destruído, mas desde então está em processo de recuperação e já teve metade da sua estrutura original restaurada. Um local fantástico, com um complexo de 500 construções ocupando uma área de 40 hectares, que ainda comporta dois museus: o Museu Nacional Popular e o Museu Nacional do Palácio, ambos com entrada gratuita (assim como todos os museus do país).

GANGNAM STYLE - O cantor Psy foi o maior sucesso de 2012. Sua música, Gangnam style, foi o primeiro vídeo do Youtube a bater a casa dos bilhões de visualizações. Muita gente cantou, mas poucos entenderam – especialmente nas bandas de cá. A Gangnam que ele celebra na música é o bairro chique de Seul. Seu nome significa, literalmente, “ao sul do rio”, já que a região fica ao sul do centro da capital, do outro lado do rio Han. É lá que ficam, por exemplo, as baladas mais disputadas, como as boates Ellui, Answer e Octagon.

A própria letra da música do Psy dá algumas pistas do modo de vida do bairro. Em um dado momento, o cantor fala, por exemplo, do sujeito que “entorna seu café antes mesmo que ele esfrie”. Cafeterias aparentemente são uma febre em toda Seul. Cada quarteirão tem pelo menos um Starbucks, Dunkin' Donuts, Tous Les Jours ou Paris Baguette – sem falar nas lojas que não são franquias. Cafeterias talvez só rivalizem com os bares especializados em cerveja e frango (beer & chicken), mas estes mais proeminentes na região mais descolada de Hongdae, nas proximidades da Universidade Hongik.
Mesmo no bairro mais moderno de Seul, você percebe o mesmo paradoxo entre Oriente e Ocidente.

Na indústria cultural reinam os grupos de k-pop, gênero musical que apesar de ser fundamentado em ritmos ocidentais, como hip hop, rock, pop e rhythm and blues, ainda possui características orientais particulares, tanto no estilo de dançar como de se vestir. Esse estilo acaba se refletindo também na moda. O coreano, de uma forma geral, se veste muito bem. É raro ver alguém, homem ou mulher, sem estar usando um acessório como boné, chapéu, lenço, óculos (com ou sem lente), pulseiras, colares, suspensórios e etc. Para os homens, o estilo varia entre o hip hop e o hipster, sendo este último com um tom quase andrógino. Entre as mulheres, uma predominância de shorts ou mini saias, ao mesmo tempo em que o colo e os ombros nunca ficam descobertos. Moderno e tradicional, no mesmo figurino.

Ainda assim, no coração de Gangnam, em meio à floresta de pedra, aço e vidro, existe um centro calmo. O templo budista de Bongeunsa foi fundado em 794 D.C. e resistiu durante a repressão que a religião sofreu sob o comando da dinastia Joseon. Hoje possui um forte apelo turístico, e oferece inclusive opções de estadia para visitantes, que inclui uma programação de atividades relacionadas à religião, onde os turistas podem viver como monges por algumas horas. 

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